No Dia do Poeta, dois anos sem Cunha Santos
Por um capricho do destino, o jornalista e escritor Cunha Santos faleceu em um hospital de São Luís, no dia 20 de outubro de 2021, justamente no Dia do Poeta. Nesta sexta-feira completam-se dois anos que ele se foi. Tinha 68 anos de idade e fora vítima de insuficiência respiratória aguda, ocasionada por um edema pulmonar, de acordo com informações dos médicos que na época o atenderam.
Jornalista, poeta e escritor, Cunha Santos é autor de diversos livros. Filho de Codó, cidade onde nasceu no dia 10 de novembro de 1952, Cunha Santos continua reconhecido como um dos mais importantes e expressivos autores contemporâneos do Maranhão.
De seus pais – Durval Cunha Santos e Josefina Alvin de Medeiros -, J.M. Cunha Santos herdou a sensibilidade para as lutas populares e abriu espaço nestas lutas para, numa atividade simultânea, dedicar-se à poesia, à música e à reflexão política.
Autor de “Meu Calendário em Pedaços” – seu primeiro livro; “O Esparadrapo de Março”, “A Madrugada dos Alcoólatras”, “Paquito, o Anjo Doido”, “Odisséia dos Pivetes”, “A voz do hospício” e “A comunidade rubra”, Cunha Santos – pouco antes de morrer – estava escrevendo mais dois livros: “Terceiro Testamento” e “Lockdown – A literatura da solidão”.
Pai de quatro filhas – as gêmeas Larissa e Laiza, Laila e Tiara -, Cunha Santos não cansava de demonstrar o seu amor pela poesia, onde buscava forças até para suportar as dificuldades da vida. Ele mantinha inalterado o notável talento como escritor, poeta, compositor e jornalista, e o gosto de cantar e de fazer poesias.
O pai dele, também jornalista, assinava seus artigos como Cunha Santos, daí porque o jovem Jonaval passou então a assinar suas matérias, seus livros e seus artigos como Cunha Santos Filho. E desde então vinha fazendo de seu trabalho na imprensa um instrumento a favor do ideal de cidadania e justiça e, em seus escritos, costumava ressaltar a teimosa insensatez dos homens, causadora de crises, guerras, conflitos e opressões.
Como poeta, ele confessava que tinha grande estima, respeito e admiração por dois homens de letras do Maranhão: Nascimento Moraes Filho e Nauro Machado. “Continuo não acreditando que se fabrique poesia. Poesia é sentimento, é emoção. Não se marca hora para escrever poesia. A poesia cai de dentro da gente”, sentenciava Cunha Santos.
Como jornalista, profissão que abraçou aos 17 anos e que jamais abandonou, foi o tempo todo um grande lutador. Em 1973, entrou no Jornal Pequeno (tinha então 21 anos) como redator-chefe, substituindo seu pai, o velho Durval Cunha Santos. Na época, “Lourival Bogéa era criança, e atuava como uma espécie de fotógrafo-mirim deste jornal”, lembra Cunha Santos.
Ele se orgulhava de ter convivido com o velho José Ribamar Bogéa (1921-1996), que era um gênio para criar figuras como o “Língua de trapo” e seções de jornal, como “No Cafezinho”. Cunha Santos dizia que admirava a genialidade e a ironia impiedosa com que o velho Bogéa vergastava os poderosos do Maranhão.
Mesmo sendo um jornalista reconhecidamente lutador, Cunha Santos não escondia de ninguém que preferia a poesia ao jornalismo. “Nunca fui nem serei um bom repórter. Tenho preguiça de ir atrás da notícia”.
Passou pela redação de vários jornais de São Luís, entre os quais “O Diário do Norte”, do ex-deputado federal José Teixeira, o “Diário do Povo”, editado por Nilton Ornellas, onde escreveu as melhores reportagens sociais de sua vida; “O Estado do Maranhão”, à época de Bandeira Tribuzi, Adalberto Areias e Vera Cruz Marques; a velha “Folha do Maranhão”, que era comandada pelo ex-deputado Cid Carvalho, “O Debate”, de Jacir Moraes, e “O Litoral”, de Mary Pereira.
Na condição de editor de Política do “Diário do Povo”, Cunha Santos escreveu inúmeras matérias sobre lutas sindicais, causas populares e publicou uma série de reportagens sobre menor abandonado, intitulada “A geração perdida do Brasil”, denunciando o drama dos cheira-colas que começavam a se multiplicar pelas ruas de São Luís.
Para Cunha Santos Filho, o velho Durval Cunha Santos foi um gênio. Seguindo os passos do velho, J.M. Cunha Santos trabalhou também em muitos jornais alternativos e, como seu pai, conviveu com grandes jornalistas. Além do irreverente Zé Pequeno, ele destacava Othelino Filho, João Alexandre Júnior, que também era poeta e advogado; Luís Vasconcelos: “o melhor redator que conheci”; e J. B. Bastos Coqueiro: “o melhor sonetista que já houve no Maranhão, embora nunca tenha publicado nenhum livro”.
Merecedor de todas as homenagens, Cunha Santos era, sem dúvida, um dos grandes poetas do Maranhão. Alguns de seus poemas estão entre os mais belos da literatura do país. Seu nome consta no livro A Poesia Maranhense no Século XX, antologia organizada por Assis Brasil. É elogiado no livro A Intelectualidade Maranhense, de Clóvis Ramos, e tem alguns de seus poemas na Hora de Guarnicê, de 1975.
Manso e afável, embora coerente e firme na defesa dos princípios em que acredita, e movido pela paixão em tudo que fazia, Cunha Santos teve ainda suas incursões pelo teatro, chegando a fundar um grupo teatral denominado Gpap – Grupo de Estudos e Pesquisa da Arte Popular -, no bairro do Tirirical. Foi também presidente da “Coroa do Samba”, escola de samba fundada por negro Sapeca no final da década de 50.
Apaixonado por música e poesia, tem duas irmãs – Bia e Didã – que são cantoras e compositoras. Amante da música popular brasileira, era aficionado pelas letras e melodias de Belquior e Chico Buarque. “A música popular talvez seja a forma de arte que os brasileiros façam melhor. A música é a arte do Brasil”, acentuava Cunha Santos.
No ano de 1982, ele foi o vencedor do festival de música da UFMA, com a canção Negritude. Foi ainda um dos premiados do festival de música do Sesc, com a música “Cris”, que fez em homenagem à sua então esposa, Ana Cristina Batista Marques.
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