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Os 50 anos do romance “O Bequimão”, livro histórico de Bernardo Almeida


Nesta sexta-feira (28) completam-se exatos 50 anos do lançamento do romance “O Bequimão”, do poeta, jornalista e prosador Bernardo Coelho de Almeida (1927-1996). Este livro histórico conta a saga de Manoel Beckman (1630-1685), líder da Revolta de Beckman e patrono da Assembleia Legislativa do Maranhão.
Para quem não sabe, Bernardo Almeida, um dos pioneiros no jornalismo radiofônico do Maranhão, foi o predestinado diretor artístico e administrativo da Rádio Difusora do Maranhão, no esplendor do extraordinário prestígio desta emissora, inaugurada na capital maranhense no dia 29 de outubro de 1955.
O romance “O Bequimão”, livro de 214 páginas, dividido em 27 capítulos, é fruto de um incansável trabalho de pesquisa sobre um dos fatos históricos mais importantes de nossa terra. Lançado em São Luís no dia 28 de julho de 1973, por ocasião das comemorações do Sesquicentenário da Adesão do Maranhão à Independência do Brasil, “O Bequimão” foi reeditado pelo Serviço de Imprensa e Obras Gráficas do Estado – Sioge (Rua Antônio Raiol, 505) em março de 1978, quando transcorreram os 70 anos de fundação da Academia Maranhense de Letras.
Esta nova edição veio a público com uma capa ilustrada por um quadro do artista plástico Antônio Almeida, que existia no plenário da Assembleia Legislativa, cuja antiga sede, denominada Palácio Manoel Beckman, funcionava na Rua do Egito, Centro Histórico de São Luís.
Também no ano de 1978, graças ao empenho do diretor do Sioge, Jomar Moraes, e do poeta José Chagas, “O Bequimão” foi indicado como leitura obrigatória para os candidatos aos exames vestibulares da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).
Vale lembrar: a função de Bernardo Almeida como diretor artístico da Rádio Difusora era escrever, produzir programas e textos comerciais nos bastidores, projetá-la e torná-la a número um, nas pesquisas do Ibope.
Para sair desse anonimato, além de ser entrevistador, função pouco simpática (mesmo que lhe tenha dado ensejo de entrevistar Jânio Quadros, Juscelino Kubitschek e o marechal Lott, entre outros), passou a assinar a ‘Crônica da Cidade’, levada ao ar às nove horas da noite. Naquele tempo a população de São Luís se deitava cedo.
Bernardo Almeida escrevia diariamente ‘A Difusora Opina’, o famoso editorial do meio-dia. Como homem de imprensa, ele tinha uma filosofia de vida: uma crença de que a principal função social do jornalismo consiste na afirmação positiva dos valores da sociedade em que vivemos.
Além de brilhante jornalista, Bernardo Almeida tornou-se grande escritor. Chamou para si a difícil tarefa de escrever um livro sobre um ilustre desconhecido: Manoel Beckman.
Diz-nos um velho historiador que, em São Luís, “as desordens, as lutas e os escândalos em que viveu a terra desde que se expulsaram os franceses, foram tomando um caráter de violência crescente”. E é neste ambiente de agitação que estoura a notícia de que fora concedido a uma empresa de Lisboa, por 20 anos, o privilégio exclusivo do comércio no Maranhão.
Considerado mártir da luta dos maranhenses contra a exploração portuguesa, Beckman liderou a Revolta de Bequimão, também chamada de Revolta do Estanco, que aconteceu em São Luís em 24 de fevereiro de 1684, dia da procissão do Senhor dos Passos, cuja imagem se trasladaria da Igreja do Carmo para o templo da Misericórdia.
Era a Semana Santa, no calendário litúrgico do Maranhão, um dos motivos do deslocamento de muitas famílias residentes no interior para suas casas em São Luís. Aproveitando a procissão, reuniu-se o povo num dos extremos da cidade, na chamada Cerca dos Capuchos, e foi ali que Manoel Beckman, com um discurso, sublevou a multidão. Era de noite, já tarde. A massa humana se deslocou para o interior da cidade, e foi despertando o resto da população, a gritar, a bater nas portas.
A onda humana cresceu, espalhou-se, tendo à frente Manoel Beckman, e dominou forças armadas, religiosos, autoridades. Diz-nos o padre Bettendorff, no relato do motim, que até os meninos das escolas engrossaram a turba, trazidos pelos pais. Foi nessa circunstância em que ocorreu o levante e a deposição do governador geral Francisco de Sá Menezes e do capitão-mor Baltasar de Sousa Fernandes.
Manoel Beckman criou um governo provisório. Enviou seu irmão Tomás a Portugal para negociar, em nome dos revoltosos, com as autoridades. Preso em Lisboa, Tomás voltou ao Brasil em 1685, na mesma frota que trouxe o novo governador, General Gomes Freire de Andrade. Com a chegada do novo governante, os revoltosos foram presos.
A captura do líder da revolução, por ordem expressa de Gomes Freire de Andrade, tornou-se possível graças à delação de Lázaro de Melo de Freitas, afilhado de Bequimão, seu protegido e pessoa influente no governo rebelde. Tomás foi condenado ao desterro e Manoel Beckman, condenado à forca.
Deu-se o fato na manhã de 10 de novembro de 1685. Bequimão morreu enforcado, aos 55 anos de idade, na antiga Praia do Armazém, local onde hoje existe a praça que o homenageia na Avenida Beira Mar, em São Luís.
Além de Bequimão subiu à forca Jorge de Sampaio de Carvalho, um de seus principais companheiros de revolta. Francisco Dias Deiró, por ter fugido, foi enforcado em efígie; Belchior Gonçalves, açoitado e proscrito; Eugênio Ribeiro Maranhão e Tomás Beckman, advogado, poeta e irmão do líder da fracassada revolta, foram mandados presos para o Reino.
Ao ser executado em praça pública, Beckman encarou a morte com serenidade. Como verdadeiro cristão, do alto do patíbulo, em voz alta, pediu perdão a quem acaso tivesse ofendido. Em seguida, ele proferiu altivamente a célebre frase:

“Pelo povo do Maranhão, morro contente!”

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