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Noventa anos de Terezinha Rêgo

Terezinha Rêgo, professora e cientista maranhense, completa 90 anos neste domingo

Completa 90 anos de idade, neste domingo (5), a professora-doutora Terezinha Rêgo, uma das personalidades femininas mais importantes do Maranhão.
Pela data, reproduzimos aqui um artigo da escritora Arlete Nogueira da Cruz, publicado em O Estado do Maranhão no dia 23 de dezembro de 2017, intitulado Terezinha Rêgo: uma cidadã do mundo, sobre a importância desta cientista maranhense, reconhecida internacionalmente e doutora em Botânica, com mais de 70 anos de pesquisas em torno da Fitoterapia.

Terezinha Rêgo: uma cidadã do mundo

Arlete Nogueira da Cruz

Vinha, de vez em quando, experimentando um desassossego como se estivesse diante de uma falta, de um dever que se impunha à minha consciência afetiva e de cidadã. Esse desassossego vinha da necessidade de referir-me publicamente sobre a excepcional importância de uma amiga no contexto humano e social de nosso meio.
Ontem fui ao lançamento do livro de uma poetisa, autora de versos muito bons, Tânia Rêgo, filha dessa amiga (Tânia que aniversaria na mesma data da mãe). Vendo Terezinha, disse de mim para mim que não era mais possível adiar o que já deveria ter feito: expressar meu respeito pela sua doação a uma atividade que revelava o seu alto valor humano.
Devo ter conhecido Terezinha no início dos anos de 1950 quando ela talvez ainda estudasse no Ginásio Rosa Castro, mais adiantada do que eu naquele colégio, conhecendo depois seu irmão Denizad, muito jovem, trabalhando no Arquivo da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, na Praia do Jenipapeiro, que funcionava numa parte da casa, cedida temporariamente a meu pai por ser ele o Agente-Chefe da Estação da Estrada de Ferro, em São Luís.
Estreitamos amizade com Terezinha (mais tarde esposa de Artur, outro grande ser humano), quando fizemos parte, nesses anos de 1950, de um grupo de jovens trabalhando pela eleição de La Roque Almeida, hospedado primeiro na casa de Seu Mário Lauande, pai Lourdinha, minha amiga e de minha irmã Marilda, morando em casas vizinhas e colegas, as três, durante o ginásio e o científico. La Roque, depois, passaria a se hospedar à rua da Paz, na casa de Dona Chiquinha Almeida, mãe de Terezinha, uma senhora de forte personalidade. De dona Chiquinha irradiava uma especial dignidade que era impossível não admirá-la. Criara os filhos sozinha, garantindo-lhes ensino superior e uma sólida formação moral. Entre eles, Terezinha, hoje uma exemplar cidadã do mundo!
Desde cedo, Terezinha sabia o que faria de si diante do seu interesse pelas plantas, principalmente medicinais. É sabido que existe na natureza uma inter-relação entre os reinos animal, vegetal e mineral. Terezinha compreendendo essa inter-relação, buscou interpretá-la, optando pelo curso superior de Farmácia para aproveitá-la em favor do próximo.
Professora das várias disciplinas em Botânica, na UFMA, formou gerações de bioquímicos e farmacêuticos. Publicou relatórios e artigos: 50 chás medicinais da flora maranhense, Fitogeografia das plantas medicinais do Maranhão, Levantamento da flora da Baixada Maranhense, Análise das características fundamentais da Pré-Amazônia, Plantas medicinais da flora maranhense, entre outros. Por meio de cursos e congressos, aprofundou seus conhecimentos, valorizou a farmacopeia popular com surpreendentes novidades, manipulando chás, pomadas, xaropes, acabando por sugerir à UFMA a criação do Herbário Ático Seabra, passando ela mesma a cuidar dele. Expandiu suas descobertas, mantendo-se presente para atender o grande contingente de pessoas de todas as classes sociais, principalmente as de baixa renda e mais carentes buscando aconselhamento e remédio às doenças.
Sua luta em prol da Fitoterapia, deu-lhe projeção internacional. Antes do Brasil, foi reconhecida fora, na Holanda, Portugal, Itália, viajando à convite pelo Japão, Cuba, Espanha (onde recebeu prêmio valioso), Londres e outros países que se beneficiavam com as suas medicações. É detentora de prêmios, comendas, medalhas, destacando-se uma premiação na China pela contribuição que deu para a erradicação da pneumonia asiática. Homenageada no carnaval por uma Escola de Samba, desfilou na passarela sob aplausos do povo agradecido.
Esta semana o Governo do Maranhão, em parceria com a UFMA, autorizou a implantação do projeto de Terezinha Rêgo, Farmácia Viva, em 39 municípios maranhenses, destinado a oferecer medicamentos fitoterápicos para comunidades carentes, afinal realizando um de seus sonhos.
O que impressiona em Terezinha é aquilo que consigo apreender nos santos: simplicidade e humildade (não confundir com subserviência) aliadas a uma especial alegria. Ontem eu a observei transitando entre essa simplicidade e essa humildade, também alegria, enquanto a filha Tânia (que aniversaria no mesmo dia da mãe) autografava seu belo livro de poesia e eu perguntava pela outra filha, a querida Telma, minha ex-aluna e esposa do grande artista plástico brasileiro, Marçal Athayde.
Essas qualidades que transpiram da alma boa de Terezinha provém de uma grandeza humana, uma espécie de santidade. Razão tinha Leòn Bloy: “Só existe uma tristeza, a de não ser santo”. Que santidade é essa? É a de estar inteiramente em paz a serviço da integridade de um bem comum, como esteve todo tempo Terezinha de Jesus Almeida Silva Rêgo.

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