Sarney faz discurso agressivo e diz que ação da PF foi “perseguição política” a Roseana
Na quarta-feira 20 de março de 2002, o senador José Sarney (PMDB-AP) foi à tribuna do Senado para declarar guerra ao presidente Fernando Henrique Cardoso e ao candidato do PSDB, José Serra.
Durante uma hora e 15 minutos, Sarney fez um discurso em tom agressivo. Disse que a ação da Polícia Federal na empresa Lunus, de propriedade da governadora Roseana Sarney e de seu marido, Jorge Murad, foi semelhante aos atos de espionagem política conhecidos como “escândalo Watergate”.
No caso Watergate, ocorrido nos Estados Unidos no início dos anos 70, ficou provado que o então presidente Richard Nixon foi conivente com a espionagem feita no Partido Democrata pelo Partido Republicano, ao qual Nixon pertencia.
De acordo com Sarney, a apreensão de documentos e dinheiro na Lunus não teria configurado, como defende o governo, o simples cumprimento de um mandado judicial, em busca de provas do envolvimento da empresa no desvio de verbas públicas. A ação da PF seria parte de um plano para desestabilizar a candidatura de Roseana à Presidência da República, em benefício do candidato do Palácio do Planalto, o senador e ex-ministro da Saúde José Serra (PSDB-SP).
Com base nesse entendimento, o ex-presidente da República ameaçou em seu discurso pedir observadores à Organização das Nações Unidas (ONU), à Organização dos Estados Americanos (OEA) e ao Inter-Action Council para “assegurar a vigilância internacional da sucessão”.
Em discurso de mais de uma hora, durante o qual não permitiu apartes, José Sarney afirmou que a busca de documentos na Lunus foi uma “perseguição política” à pré-candidata do PFL. Sarney também comparou a atuação do governo às praticadas pela Gestapo, no Nazismo, e pela polícia política, na União Soviética.
“Quem acredita, neste país – qual o idiota -, que uma ação desta magnitude seria armada sem que a máquina estatal de nada soubesse ou dela não participasse? Quem nesse país não sabe que foi uma ação política suja, com propósito determinado?”, perguntou Sarney.
O senador pelo Amapá recordou diálogo que teve com o presidente Fernando Henrique Cardoso, há alguns meses, relatando informações que obteve, segundo as quais agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) – órgão ligado à Presidência da República – tinham se deslocado para o Maranhão, o Piauí e o Pará, com o intuito de devassar a vida de sua família e de seus amigos.
De acordo com o relato, Sarney lembrou a Fernando Henrique o prestígio internacional por ele desfrutado e disse que seu governo não podia ser conspurcado no processo de sucessão. Lembrou ao presidente o caso Watergate, que obrigou Richard Nixon a renunciar à Presidência dos Estados Unidos. Sarney lembrou que Nixon procurava derrotar seus adversários por “métodos amorais”, mas acabou derrotado e com seu nome manchando perante a história.
“Como ocorreu em Watergate, as coisas deixaram pegadas. Aqui também algum jornalista vai descobrir a trama e um dia um best-seller vai aparecer, vai surgir nosso Prêmio Pullitzer contando toda a história. E aí os responsáveis não terão como recorrer a negaças”, vaticinou o senador, em outra parte do discurso.
Para Sarney, presidente da República entre 1985 e 1989, a imagem do país no exterior foi ferida com uma “pequena frase, terrível”, publicada pela revista inglesa The Economist – por ele qualificada como “a bíblia do mundo globalizado”. Ao atribuir a Roseana a informação de que a operação contra a Lunus fora “uma conspiração orquestrada pelo governo e seu candidato à Presidência, José Serra”, a revista acrescentou: “Ela pode estar certa”.
O senador citou acusações contra o senador José Serra e ações do Ministério da Saúde, que comandava até o mês passado. Contra Serra, afirmou haver várias ações ordinárias, cautelares, civis públicas e populares, apresentando duas, por improbidade administrativa. Lamentou que “uma cortina de silêncio” tenha baixado sobre o inquérito que apura as ações no ministério do lobista Paes dos Santos.
Sarney citou publicações na imprensa apontando a criação de um centro de espionagem no Ministério da Saúde, sob o comando do ex-ministro José Serra. Lamentou que o nome da Abin – “única detentora da chave criptográfica das urnas e do sistema eleitoral”, cuja atuação deveria estar “acima de qualquer suspeita” – tenha sido envolvida no episódio.
O senador criticou as declarações diferentes feitas pelo presidente da República para qualificar as ações da Polícia Federal na Lunus e na casa do ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes. Segundo o senador, enquanto o presidente classificou a reação à busca e apreensão na empresa de sua filha como “uma tempestade em copo d’água”, a diligência na casa de Lopes – que encontrou um documento conferindo a ele US$ 1,6 bilhão depositados no exterior – foi qualificada por Fernando Henrique como a “volta do arbítrio no Brasil”, uma ação para a qual não cabia nenhuma justificativa.
“Processos, inquéritos, condenações políticas forjadas, foram sempre métodos de intimidação e liquidação de adversários, métodos já ultrapassados na humanidade. O Brasil não pode ter inquéritos secretos para provocar o medo, o terrorismo moral”, afirmou Sarney, acrescentando que, se Roseana não fosse candidata, “nada disso existiria”. (Com informações da Agência Senado)
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