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Ao mestre com carinho: professor Joan Botelho

Sílvio Bembem é cientista político, doutor em Ciências Sociais – Política (PUC-SP), professor universitário e servidor público

SÍLVIO BEMBÉM*

Joan Gabriel Botelho nasceu em 15 de agosto de 1960, em São Luís do Maranhão. O bairro do João Paulo foi seu berço de infância e juventude. O filho de Joelzila Lemos Botelho e de José Gabriel Botelho (in memoriam) tinha 13 irmãos: José Gabriel (in memoriam), Joel, Jair, Jacilea, Jaciara, Izabela, Jacieda, Jaciete, Jacione, Jorge, Júlio, Gilmar, Joelson e a prima-irmã Graciomar. Foi casado com Valdenice Botelho e pai de quatro filhos: Aline, Gabriel, Taísa e Yasmin Botelho.
Joan fez da sua militância a luta ativa na defesa da disciplina de HISTÓRIA crítica e da EDUCAÇÃO de qualidade e por uma sociedade justa, seus maiores legados. Na verdade, podemos afirmar que o nome de JOAN era sinônimo de educação.
Formado em História e Direito pela UFMA, tornou-se professor e advogado (não desempenhou com muito ânimo). E, numa sociedade que valoriza mais o advogado do que o professor, todavia foi esta a profissão que Joan abraçou com determinação, dedicação, foco e motivação, contribuindo na formação de várias gerações no Maranhão.
E muitos e muitas dos seus ex-alunos/as desempenham hoje funções de destaques em várias áreas do conhecimento. E aqui sou suspeito para narrar seu feito histórico, pois fui um aluno de Joan no cursinho pré-vestibular e depois nos tornamos grandes amigos e companheiros de luta, o mais longevo da minha vida: foram 33 anos de amizade.
Cito aqui discentes ilustres do professor Joan: a bibliotecária e doutoranda em Políticas Públicas (UFMA) Berenice Silva, a doutora Joyce Lages (diretora-geral do HU-UFMA), o professor Jorge Paz (da rede estadual de educação), a assistente social Claudiane Melo e seus irmãos Gilmar Botelho (engenheiro) e Joelson Botelho (historiador e professor) que contaram com apoio afetivo de Joan em suas formações.
A Escola foi sua ágora e lá combateu o bom combate, ministrando suas brilhantes aulas de história, por um período de mais de 35 anos de magistério, trabalho presente e ininterrupto em sala de aula. E são muitas as testemunhas que podem confirmar seu desvelo com a educação, no caso, amigos/as de profissão e ex-alunos/as.
O professor Joan também se interessou pela militância política, por entender que, assim como a educação, a política era outro campo que via para conscientizar as pessoas em busca de um mundo melhor. Foi sindicalista na luta em defesa da qualidade da educação, filiado do Partido dos Trabalhadores (PT).
Em 1988, disputou a eleição para vereador de São Luís, em 1992, foi candidato a vice-prefeito na chapa do candidato Haroldo Sabóia (PT), em 1996 (sempre pelo PT) foi eleito vereador juntamente com Helena Barros Heluy (único momento da história que o PT elegeu dois vereadores na ilha), sendo a terceira eleição de parlamentares eleitos do partido; o primeiro vereador do PT em São Luís foi Kleber Gomes (1988); e o segundo, Ademar Danilo (1992).
Exerceu o mandato até 2000, sendo um vereador muito atuante: participou ativamente do movimento pela ocupação da Cidade Olímpica (1996), que garantiu moradia a muitas famílias de sem-tetos na capital, liderou uma luta na Câmara que impediu a aprovação de uma proposta indecente de aposentaria dos edis/parlamentares com somente um mandato (4 anos), sendo até pauta de matéria veiculada no Fantástico, da Rede Globo.
No PT, sempre esteve na luta da resistência contra as oligarquias. Foi também presidente do Diretório Municipal do PT em São Luís. Na cidade de São Luís, fundou o tradicional cursinho pré-vestibular Aprovação (1990), juntamente com amigos da época, profs. Carvalho, Afrânio e Oduvaldo, sociedade que, depois, foi desfeita.
Como era vereador, passou a dedicar mais atenção à legislatura e menos ao magistério. Depois, não mais no mandato, fundou um novo cursinho, o Expoente, que não teve longa duração. Mas, o mundo dos negócios não era seu forte, daí voltou sua força e atenção à carreira da educação pública, sua área de excelência, quando prestou concurso para professor de História da educação do Maranhão e foi aprovado.
Em seguida, presta concurso para o Instituto Federal do Maranhão (IFMA) e também é aprovado. E, nessa instituição, consolidou a sua carreira de docente com estabilidade, obtendo a motivação para a prestar seleção para curso de mestrado para História na Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Registre-se que, logo depois de Joan não obter êxito em sua reeleição de vereador, em 2000, decidiu prestar seleção no conceituado Programa de Pós-Graduação (Mestrado) em Políticas Públicas da UFMA. Foi aprovado, concluiu todos os créditos, mas não chegou a defender a dissertação final. Depois, dedicou-se à escrita de livros sobre a História do Maranhão com metodologia para ensino Médio e pré-vestibulares.
Escreveu dois livros: “Conhecendo e debatendo a HISTÓRIA DO MARANHÃO (2012, 2018). Vol.1 e 2”, e lutou para vê-los adotados nas escolas de ensino médio do Maranhão; porém, teve seu livro adotado apenas em algumas escolas da rede particular de ensino.
Seu grande sonho era expandir essa brilhante obra para a rede pública de ensino; porém, morreu e não viu esse objetivo acontecer. Professor Joan tinha uma capacidade em conciliar a família, o trabalho no magistério e a luta política.
Uma outra grande paixão era o futebol, amava ir ao Estádio Nhozinho Santos e Castelão torcer pelo seu time de coração: o Moto Club. Nos encontros de familiares e de amigos/as que sempre organizava era muito festivo e alegre. Joan foi uma pessoa muito querida como professor e político do nosso Maranhão, com uma mistura de generosidade, posição crítica e, às vezes, radical. Mas tinha muito senso de solidariedade e com temperamento emocional intenso.
Tinha um grande coração e um grande senso de justiça-ética. Questionava muito nossa democracia e, principalmente, os sistemas político, partidário e eleitoral brasileiros, que dizia ser anacrônico e elitista. Por isso lutou a vida inteira e sonhava com um mundo melhor.
Um verdadeiro intelectual orgânico. E, nessa conjuntura difícil em que o Brasil enfrenta, com um desgoverno irresponsável que a vida lhe foi tirada pela crise da pandemia da Covid-19, assim como a de milhares de pessoas queridas. Faz falta o companheiro Joan. Nesse 15 de agosto estaria completando 61 anos e, com certeza, teria uma festa.
Parabéns professor Joan Botelho! Você plantou boas sementes e que geminaram bons frutos, plantou seu nome na História e nos corações dos seus familiares, amigos/as e alunos/as. Joan, faleceu no 14 de abril de 2021, vítima das complicações da Covid-19.
Com esse artigo, presto minha homenagem a esse amigo, uma das grandes referências como professor da educação de São Luís e político do Maranhão.
Professor Joan Botelho, Presente!

*Sílvio Bembem é cientista político, doutor em Ciências Sociais – Política (PUC-SP), professor universitário e servidor público

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