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São Luís e o lockdown

Carlos Lula, secretário de Saúde do Maranhão

Uma pergunta não para de ser feita nos últimos dias: quais as consequências do lockdown para São Luís e os demais municípios? Deu certo? Valeu a pena ter ficado em casa tanto tempo? Estamos no oitavo dia após o término da medida mais severa de isolamento social e precisamos fazer algumas considerações.
Primeiro, os números de atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento – UPAS estão em queda. Entre 12 e 18 de abril tivemos uma média diária de 697 pessoas atendidas, na primeira semana do lockdown esta média foi de 390 atendimentos por dia. Na semana seguinte ao encerramento do lockdown, tivemos apenas 289 atendimentos por dia por UPA, ou seja, uma redução expressiva da procura por nossas portas de entrada.
Mas se as UPAS tiveram redução de demanda, por que a taxa de ocupação de leitos da capital não cai quando a gente olha o boletim? A resposta é simples, porque a média de tempo de internação de pacientes com covid tem sido de 2 a 3 semanas, portanto, os pacientes que hoje ocupam os leitos são pessoas internadas antes do lockdown. Além disso, começamos a receber pacientes oriundos do interior do Estado, o que influencia também este número.
Os casos diminuíram ou aumentaram? Essa é uma resposta complexa, porque não podemos olhar apenas o número absoluto de casos, que vem sofrendo uma acentuada variação porque estamos testando bem mais. O Maranhão atualmente é o 6° estado que mais realizou testes no país. Então apenas o número absoluto de casos pode nos levar a um erro de avaliação. Mais importante que esse dado por si só é avaliar o ritmo de contágio da doença.
Mas o que seria isso? Desde o início da pandemia, vocês já devem ter escutado os estudiosos falarem em um fator R0. É basicamente um número de reprodução para calcular a transmissibilidade de uma doença. Por meio do R, temos o número médio de infecções geradas por cada pessoa infectada. Ou seja, ele tenta responder à seguinte pergunta: uma pessoa doente adoece quantas outras pessoas?
A Alemanha, por exemplo, toma suas medidas a partir do resultado do R0. Esse fator R é calculado da seguinte forma: o número de indivíduos para quem cada pessoa infectada transmite o vírus multiplicado pela probabilidade de que a pessoa que recebe a carga viral seja suscetível.
E esse valor de R é importante para vários aspectos. Informa como a infecção está sendo disseminada na sociedade e permite fazer previsões para fundamentar decisões de defesa de saúde pública. Se o R é maior que um, ocorre um crescimento exponencial da doença. Se o R é menor que um, o número de casos e mortes diminui. As ações dos Governos, no mundo inteiro, portanto, são pautadas para redução do fator R0.
O que observamos é que após o lockdown há uma redução significativa no ritmo de contágio da doença em São Luís. Chegamos a ter o R0 de 2,21 e atualmente o nosso R0 é 0,18.
Isto significa que vencemos e finalmente nossa curva começa a se forma em direção à queda? Não! Tudo leva a crer que boa parte da população ainda não teve contato com o vírus, de modo que em vez de um “u” invertido, corremos o risco de termos um movimento em “w” invertido, com uma grande segunda onda.
Precisamos manter as medidas de distanciamento social. O número de pessoas circulando no último fim de semana, sem qualquer preocupação com as medidas de proteção e segurança nos preocupa.
O Estado precisa, nesse momento, da ajuda da população. O lockdown parece ter surtido resultado, mas, infelizmente, ainda teremos longas semanas pela frente.

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