Carta de condolências a Gláucio Ericeira
Uma parábola muito antiga fala de uma mulher que vai até Buda com o filho morto nos braços e suplica que o faça reviver. Buda diz que, para trazer de volta a vida do menino, ela precisa encontrar alguns grãos de mostarda que devem ser de uma casa onde nunca tivesse morrido alguém. A mãe vai de casa em casa, mas não encontra nenhuma livre de perdas.
Sem dúvida, esta parábola mostra a maior e também a mais difícil certeza da vida: a morte, principalmente a de alguém a quem amamos. Não fomos treinados para enfrentar perdas, embora nossa vida seja plena delas.
Enfrentamos esse sentimento desde o início de nossa existência: no momento em que fomos desmamados do seio de nossa mãe, no instante em que nosso corpo se transformou na adolescência e até quando mudamos de lugares, nos distanciando das pessoas e assim por diante.
Mas nada se compara à perda de uma pessoa extremamente importante em nossa vida.
Nesse momento, temos dois caminhos a seguir. O primeiro é nos afogarmos nessa dor, guardando eternamente sentimentos de raiva, indignação e culpa, questionando a justiça dos homens e a de Deus. E o segundo caminho nos permite seguir a vida, enfrentando a dor e as etapas seguintes.
Embora essa via seja mais dolorosa, é a mais saudável, porque se não expressarmos e vivenciarmos esse momento, certamente o conservaremos dentro de nós, como um luto crônico, e estaremos, futuramente, vulneráveis a mais sofrimentos emocionais e físicos.
A primeira sensação é a de que não se sobrevive à dor da perda, pois ela é muito mais forte do que se pode imaginar. Temos a impressão, às vezes, de que ela nunca irá passar. Mas é preciso compreender que toda perda gera um luto e esse processo exige tempo. As palavras “o tempo cura”, que ouvimos em diversos momentos, são verdadeiras como também é real a necessidade de enfrentarmos as etapas posteriores.
É impossível alguém passar por uma perda e não sofrer. Infelizmente, aprendemos mais com a dor do que com a felicidade. A dor nos faz rever os nossos valores, crescer, amadurecer e, assim, valorizamos mais a vida e as relações com as pessoas ao nosso redor.
Mas a vida continua. Devemos sempre desenvolver a capacidade de enfrentar momentos difíceis e de nos ajustarmos às situações de perda, que acontecem na vida. Despedir-se não é pôr um fim a uma história, é encontrar um lugar para a pessoa que perdemos no cantinho da saudade e das lembranças boas.
O falecimento de Cláudia Thereza Portela Carneiro Ericeira nos faz refletir sobre a angústia da experiência da perda e, ao mesmo tempo, sobre como encontrar um estímulo de reconstrução para a vida.
Cláudia era esposa e companheira inseparável do jornalista Gláucio Ericeira, diretor de Comunicação da Câmara Municipal de São Luís.
Através desta carta, venho portanto, de público, expressar afetuosas condolências à família e em particular a este amigo fraterno, que aprendi a admirar por sua correção moral e profissional.
Ao assumir a Diretoria de Comunicação da Câmara, Gláucio Ericeira só fez confirmar o seu profissionalismo, a sua competência e seu companheirismo. Seu talento e suas virtudes o fizeram merecer o respeito de todos os servidores da Câmara e de todos os profissionais que trabalham na Comunicação. Daí as inúmeras manifestações de pesar que recebeu tanto no velório quanto no sepultamento de sua esposa.
Neste momento de dor, força, companheiro Gláucio. Uma vez mais, meus pêsames. (Manoel Santos Neto, repórter do JP)
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