O poeta esquecido, a velha Alcântara e o futuro do Maranhão
Agostinho Reis, grande poeta maranhense, porém esquecido das novas gerações, tinha a mania de dizer que Alcântara era uma cidade infeliz, castigada por um azar histórico.
Ele usava a palavra infelizcidade cunhada assim, o adjetivo infeliz acoplado ao substantivo cidade, como uma chaga cancerosa. O poeta parece ter adivinhado algo a cair em forma de praga sobre a velha cidade, quando afirmou nos tercetos de seu conhecido soneto:
Rainha da opulência destronada, / tu tens por fausto – o mar; por trono – o nada; / grandezas que te restam do passado … // Tudo roubou-te, tudo, a negra sorte! / Parece que os teus passos segue a morte / como segue a desgraça o desgraçado!
E é isso. Ontem, o mar e o nada, hoje, o espaço e o vazio. Que destino! E de fato, vítima tanto do tempo quanto do espaço, Alcântara sofre pelo passado que lhe arrancaram à força e por um futuro que também à força lhe querem dar. A rigor é uma cidade que não tem presente.
Outro poeta, José Chagas, disse sobre ela, no seu livro “Alcântara – negociação do azul ou a castração dos anjos” que ali
o tempo se condensou em tempo de espera / espera de tudo / e o grande orgulho da cidade / é saber hoje esperar / o passado / que pelo futuro / qualquer cidade espera.
Em verdade, nela o passado é um tempo que se esqueceu de passar ou se comporta como ainda estando por vir. E ela não só aguarda para sempre a prometida vinda de um imperador, como que parece ainda escutar as profecias da Mãe Calu, anunciadas para o passado.
No livro, José Chagas fala também das duas quedas de Alcântara: a queda natural, para baixo, no tempo, que a levou às ruínas, e a queda inesperada para o alto, no espaço, com risco de transformá-la em nuvens ou fumaça. Ele assinala, no livro, que “a queda para cima / é mais precipitada / porque mais se aproxima / do fundo do nada.”
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