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Flávio Dino abre o jogo e admite disputar sucessão presidencial

Flávio Dino analisa cenário político nacional e admite eventual candidatura à Presidência da República

O governador Flávio Dino não esconde de ninguém que avalia com bastante cuidado a sucessão do presidente Jair Bolsonaro. Ele defende a tese de que a esquerda deve, desde já, buscar a unidade em torno de um projeto comum para o País em 2022. Na visão do governador maranhense, cabe um entendimento com vistas a um projeto unificado das forças de oposição.

Nesta entrevista, Flávio mostrou que não descarta sair candidato a presidente da República, mas foi enfático ao afirmar que, por enquanto, no momento, sua prioridade é fazer um bom governo no Maranhão. Nesta entrevista, ele também volta a falar sobre a questão do acordo Brasil-EUA para uso da Base de Alcântara:

Jornal Pequeno – Afinal, o senhor pretende disputar a Presidência da República, em 2022?

Flávio Dino – Neste momento, meu foco número 1, meu foco principal, meu foco que me move de manhã, de tarde e de noite é a tarefa de continuar transformando o Maranhão e melhorando a vida da população.

É claro que, lá adiante, em 2022, nós teremos mais um processo eleitoral, se Deus quiser. E eu estarei participando dele. Poderei participar de três formas. Forma número 1: continuando no governo do Maranhão até o final do meu mandato. É uma hipótese. O ex-governador Ricardo Coutinho, da Paraíba, fez isso e hoje preside a Fundação João Mangabeira, do PSB. O ex-governador José Reinaldo também fez isso. É uma hipótese. Segunda hipótese: saio em abril de 2022 e me candidato a um cargo no Congresso Nacional: ou no Senado ou na Câmara.

Terceira hipótese: em havendo algum tipo de articulação nacional, no campo da esquerda, no campo popular democrático, e isso resultando numa convergência ampla, que é a minha tese, em torno de determinados nomes que consigam de um modo unificado representar o nosso pensamento, e se eu tiver a possibilidade de ser um desses nomes, é claro que poderei desempenhar esta tarefa. Mas não é algo que eu planeje como foco principal e exclusivo. Porque, simplesmente, não depende de mim.

JP – Mas há uma movimentação sua com vistas a uma maior projeção na política nacional?

FD – O que é fato é que, como disse, a alternativa 1 e 2 dependem exclusivamente de mim. A alternativa 3, não. Depende de Deus, da vontade de um monte de gente, de um monte de partidos, e é claro que eu sou uma pessoa centrada, equilibrada, com o pé no chão, e não me dedico a uma coisa que não depende de mim. Depende de uma montanha de gente. Agora, as três hipóteses, graças a Deus, existem.

JP – Como tem sido a repercussão desta sua atuação na política nacional?

FD – Eu fico muito honrado quando eu vejo convites, desejos, manifestações de apoio. Muito recentemente, o frei Leonardo Boff, um dos maiores teólogos de todos os tempos, do Brasil e um dos maiores do mundo, registrou no Twitter uma palavra de apoio, de estímulo, de incentivo a essa ideia.

É claro que fico feliz, fico honrado. Agora, não é uma coisa que eu saia amanhã achando que vá ocorrer. As alternativas 1 e 2 dependem de mim. Agora, tudo isto, estas três hipóteses, são avaliadas por mim, e eu sou uma pessoa que tem método. Ou seja, cada dia tem sua agonia. Essa agonia, que não é minha, é a agonia para 2022.

JP – Qual é hoje a sua agonia?

FD – A minha agonia de hoje são as Escolas Dignas, são as ruas, as MAs, as estradas estaduais, que precisam de asfaltamento, é a ajuda aos municípios, é a cobrança para o governo federal tapar os buracos das BRs, a questão da Previdência Social, a Base de Alcântara, os vários programas do nosso governo, a ampliação do Porto do Itaqui, o programa de estímulo ao crescimento do turismo em nosso Estado.

É isso que realmente me ocupa, me preocupa, e não propriamente uma agenda de 2022, que será tratada em 2022, quando chegar a hora. Como está no Livro de Eclesiastes, capítulo 3, há tempo para todo propósito, debaixo do céu.

JP – Recentemente, surgiram críticas ao deputado Bira do Pindaré por uma suposta manobra, na Câmara Federal, para adiar a votação do acordo sobre Alcântara. O que o senhor achou sobre isso?

FD – Eu quero defender a atuação do deputado Bira, neste episódio. Acho que ele tem procurado ser coerente com a visão política dele, que é também nossa, de que além das salvaguardas tecnológicas, são necessárias salvaguardas sociais. É isso que nós estamos buscando.

Não há nenhuma dúvida, da minha parte, de que o acordo vai ser aprovado. Com ressalvas ou não, vai ser aprovado na Câmara, ainda neste ano. O desafio é: enquanto nós construímos o acordo de salvaguardas tecnológicas, nós avançamos também nas outras pautas, para isso não ficar adiado indefinidamente, adiado ad eternum.  Ah! Vamos tratar de pautas sociais mas ninguém sabe quando nem que dia.

Acho que o deputado Bira tem feito um alerta positivo, assim como também outros deputados, e também o senador Weverton, neste caso, que tem insistido na necessidade da aprovação de uma lei relativa a royalties. Ou seja, que uma parte dos eventuais lucros auferidos com eventuais lançamentos aeroespaciais em Alcântara seja transformada em dinheiro para o município de Alcântara, para o Estado, e portanto para as comunidades locais.

JP – A discussão sobre salvaguardas sociais não vai acabar atrasando a aprovação do acordo?

FD – Não. Acho que o debate tem que ser travado concomitantemente. Acho que uma coisa não atrapalha a outra. Acho incorreto imaginar que o deputado Bira, ou qualquer deputado do Maranhão atrapalha o acordo.  Acho que não. Acho que é uma ênfase necessária. Neste caso concreto, a postura do deputado Bira está vinculada à posição que ele historicamente defende. Mas isso não vai atrapalhar a aprovação do acordo. E é esta convicção que eu queria manifestar a todos.

JP – Existe algum risco de os americanos tomarem para si a Base de Alcântara?

FD – É importante deixar claro o seguinte: recentemente, por exemplo, recebi o embaixador do Canadá. E ele me disse que empresas canadenses, que usam tecnologia americana, estão interessadas em que o acordo evolua. Portanto, o acordo é necessário e é importante sempre frisar isso. Este acordo é necessário, inclusive, não só para empresas americanas, mas para qualquer empresa, de qualquer país do mundo, que use tecnologia americana.

Portanto, é importante aproveitar este espaço no Jornal Pequeno para dizer que não é um acordo de entrega da Base de Alcântara para os Estados Unidos. Isso não existe, neste acordo! Eu não vou dizer que, um dia, alguém não possa ter essa ideia. Pode, claro, haver porque há pessoas que batem continência para a bandeira dos Estados Unidos.

Nós temos autoridades do atual governo federal, inclusive o próprio presidente da República, que acham razoável bater continência para a bandeira dos Estados Unidos.

Então eu não vou dizer que alguém não pode ter essa ideia. Pode até ter, infelizmente. Mas neste acordo de salvaguardas tecnológicas, neste acordo concreto, que está em análise na Câmara Federal, há na verdade medidas de proteção da propriedade intelectual que não significam a entrega da Base de Alcântara para controle do governo dos Estados Unidos. Porque se significasse isso eu seria o primeiro a ser contra este acordo, estaria na linha de frente, como eu sempre estive.

Em todos os momentos da vida brasileira, da vida maranhense, nunca me escondi de polêmicas. Se eu considerasse que o acordo significasse vulneração à soberania nacional, e entrega da Base de Alcântara para o governo americano, para a Nasa, para a Cia, é claro que eu seria o primeiro a me opor com muito vigor. Mas, neste caso, o acordo protege apenas propriedade intelectual, tecnologia. E é uma premissa para que qualquer país do mundo possa utilizar a Base de Alcântara desde que use tecnologia americana.

JP – Com base nessa premissa não há problema nenhum que o acordo seja aprovado?

FD – Citei o exemplo do Canadá e, vejam, se amanhã a China desejar lançar foguetes aqui, a China também vai exigir um acordo de salvaguardas tecnológicas. Amanhã, se a Índia desejar lançar foguete aqui, daqui a uma década, ou a uma década e meia, a Índia também vai exigir um acordo de salvaguardas tecnológicas.

Porque se o Brasil detivesse a sua própria tecnologia de lançamentos de satélites, ou de veículos lançadores de satélites, nós não desejaríamos que essa tecnologia fosse copiada. Por uma razão: essa tecnologia, ao ser desenvolvida, pelos Estados Unidos, ou pela China, ou pela Índia, custou dinheiro.

Então é claro que cada país protege o investimento que ele fez, para desenvolver tecnologia. Portanto, este acordo se insere nestes termos e acho, portanto, sim, que o acordo, com cuidados, com ressalvas, com análise criteriosa, deve ser aprovado. Tenho dito isto. Reitero mais uma vez.

JP – E como se encaixam aí as salvaguardas sociais?

FD – Pode ser um processo simultâneo. Concomitantemente. Ou seja, ao mesmo tempo, precisa-se ter, sim, uma agenda social e por isso destaco, novamente, a importância da atuação do deputado Bira, neste caso, e de outros parlamentares do Maranhão, como o deputado Márcio Jerry, e que atuam em outros temas.

Por exemplo, nesta semana, o senador Weverton estava no Senado, defendendo o projeto dos royalties. Então, são temas que se complementam e acho que, portanto, todos são necessários. Acho por isso que todos ajudam nesse debate para que a Base de Alcântara possa ter um bom resultado.

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