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Goleiro de 150 quilos do futsal inspira pessoas gordas a seguir seus sonhos

BIG DIA, GOLEIRO DO MARRECO FUTSAL

Olhando por certo ângulo, a figura do goleiro Marcelo Lopes de Godoi, conhecido como Big Dia, é ainda maior do que parece. Seu biotipo não é o mais comum entre os principais atletas do futsal. E, exatamente por causa disso, sua presença sob as traves de um dos times da Liga Nacional de Futsal é um marco importante para uma grande parcela da população.

De acordo com o Ministério da Saúde, 19,8 % da população adulta do Brasil está obesa. Big Dia, goleiro do Marreco Futsal, de Francisco Beltrão (PR), tem 1,79 metro, está com 150 quilos e faz parte desse contingente. Sua trajetória até o principal campeonato de futsal do país tem convencido outros atletas acima do peso de que o esporte também pode acolhê-los.

“Muitas pessoas falam que eu não posso ser goleiro profissional pelo fato de eu ser gordo, mas você mostrou que tudo é possível. Por isso me inspiro em você”, escreveu em agosto, pelo Instagram, um jovem atleta do Pará ao goleiro paranaense. Big Dia diz que sempre foi gordinho, mas isso nunca o impediu de perseguir o sonho de ser atleta profissional. Natural da pequena Telêmaco Borba (PR), começou como goleiro de handebol, mas aos 17 anos fez a transição para o futsal. O sobrepeso lhe trazia limitações de movimento, mas também tinha seu lado bom e ele resolveu se especializar em um tipo de jogada: a bola parada.

No futsal, em situações de pênalti ou tiro livre direto, o goleiro titular pode ser trocado por um especialista nesse tipo de defesa, já que a modalidade tem substituições ilimitadas. Por ter um corpo maior e dificultar a vida dos cobradores, Big Dia era sempre chamado nesses momentos. “Eu sempre fui um goleiro ágil, tinha boa leitura de jogo e um bom posicionamento, apesar do peso” , conta ele por telefone antes de uma sessão de treinamento.

Mas, aos 21 anos, uma tragédia pessoal mudou sua vida para sempre. “Meu pai tinha saído de casa e perdeu a família para o vício no álcool. Em 2011, ele morreu e foi tudo muito difícil para mim. Isso me levou a descontar minhas emoções na comida e despertar essa obesidade mais forte.” No auge do descontrole alimentar, o goleiro chegou aos 194 quilos. As frustrações e a ansiedade o levavam a comer mais e mais. Mesmo assim, contou com a ajuda de treinadores que apostaram nele contra muitas recomendações em contrário, como André Demczuk, o Dedé, que o convidou para seu time.

Enquanto a terapia psicológica o auxiliava a voltar aos trilhos e controlar o sobrepeso, Big Dia precisou encarar comentários negativos por todo lado. “O que sempre me deixava pensativo e chateado eram os rótulos de que eu não tinha condições de jogar, que eu não teria nenhuma chance no mercado, que qualquer pessoa acima do peso não poderia estar entre os melhores. Eu já senti muita rejeição. Mas 90% do que eu ouvi foi combustível que me incentivou a superar e chegar onde cheguei”, conta o goleiro, que no ano passado foi convocado à seleção brasileira que jogou a Copa do Mundo da Associação Mundial de Futsal, uma organização paralela à Fifa.

Aos 30 anos, o goleiro é reserva do Marreco, mas continua perseguindo voos maiores. Com a pausa do Liga Nacional por causa da pandemia, Big Dia intensificou os treinos, conseguiu tratar de uma lesão grave e emagreceu. Antes da parada ele estava com 167 quilos e perdeu cerca de 17. Ele espera perder mais e se tornar um goleiro completo, titular. E seguir inspirando outras pessoas gordas.

“As pessoas olham o obeso e não sabem o contexto do cara. Pensam que o cara é preguiçoso, que é gordo porque quer, que é vadio, que não gosta de treinar. Por todos os times que passei, sempre fui elogiado por gostar de treinar, sempre quero trabalhar mais.”

Algumas vitórias fora das quadras ele já conseguiu. “Já me mandaram mensagens dizendo que tinham desistido de sonhar, viram minha história e perceberam que é possível. Pessoas gordas me marcam em fotos dos treinos delas. E até pessoas magras que estavam desanimadas e ganharam fôlego novo ao ver meus lances. Nossa passagem por essa terra é muito curta e, enquanto eu estiver aqui, espero ser uma inspiração.” (ADRIANO WILKSON -DO UOL)

Do UOL)

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