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‘Vão pegar a Dilma’, diz Sarney em diálogo sobre delação de Odebrecht

Dilma Roussef. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

Novos diálogos do mais recente delator-bomba da Lava Jato, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, revelados nesta quinta-feira, 26, pelo Jornal da Globo trazem mais detalhes da preocupação dos principais caciques políticos do PMDB com o avanço da operação e também das implicações da presidente afastada Dilma Rousseff com crimes cometidos pela Odebrecht. Em um dos trecho da conversa de Machado com o ex-presidente José Sarney, o cacique peemedebista afirma que a delação de Marcelo Odebrecht vai pegar a petista.

“SARNEY –  A Odebrecht […] vão abrir, vão contar tudo. Vão livrar a cara do Lula. E vão pegar a Dilma. Porque foi com ele quem tratou diretamente sobre o pagamento do João Santana foi ela. Então eles vão fazer. Porque isso tudo foi muito ruim pra eles. Com isso não tem jeito. Agora precisa se armar. Como vamos fazer com essa situação. A oposição não vai aceitar. Vamos ter que fazer um acordo geral com tudo isso.

MACHADO –  Inclusive com o Supremo. E disse com o Supremo, com os jornais, com todo mundo.

SARNEY  –  Supremo … Não pode abandonar.”

A força-tarefa da Lava Jato e os empreiteiros da Odebrecht tem feito reuniões para discutir a colaboração da maior empreiteira do País.

O ex-presidente, que em outro diálogo revelado nesta quinta classifica a delação dos executivos maior empreiteira do País como “metralhadora de calibre ponto 100″, demonstra também sua preocupação com o avanço das investigações sobre o PMDB e sobre Machado, que foi filiado ao PSDB por 10 anos, chegou a ser líder do partido no Senado e posteriormente se filiou ao PMDB, mantendo sempre contato com os caciques do partido que agora está na Presidência.

“SARNEY – Isso tem me preocupado muito porque eu sou o único que não estive num negócio desses, sou o único que não estive envolvido em nada. Vou me envolver num negócio desse.

MACHADO – Claro que não, o que acontece é que a gente tem que me ajudar a encontrar a solução.
SARNEY – Sem dúvida.

MACHADO – No que depender de mim, nem se preocupe. Agora, eu preciso, se esse p**** me botar preso um ano, dois anos, onde é que vai parar?

SARNEY – Isso não vai acontecer. Nós não vamos deixar isso.”

No dia seguinte, segundo a reportagem da Globo, Machado conversa com Renan e manifesta também sua preocupação.

“MACHADO – O que eu quero conversar contigo… Ele não tem nada de você, nem de mim… O Janot é um filho da **** da maior, da maior.

RENAN – Eu sei. Janot e aquele cara da… Força tarefa…

MACHADO – Mas o Janot tem certeza que eu sou o caixa de vocês. Então o que ele quer fazer… Não encontrou nada e nem vai encontrar nada. Então, quer me desvincular de você. […] Ele acha que no Moro, o Moro vai me prender, e aí quebra a resistência, e aí f****. Então, a gente precisa ver. Andei conversando com o presidente Sarney, como a gente encontra uma… Porque, se me jogar lá embaixo, eu tou fo****.

RENAN – Isso não pode acontecer.”

Todos os diálogos ocorreram em março, antes de o Congresso votar pela abertura do processo de impeachment de Dilma, que levou Michel Temer temporariamente à Presidência.

Apesar da preocupação de Machado revelada pelos diálogos e de suas tratativas com a cúpula do PMDB, que levaram à queda de Romero Jucá (PMDB) do Ministério do Planejamento já nos doze primeiros dias do governo interino de Michel Temer, o ex-presidente da Transpetro acabou fechando um acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República que atinge a alma do PMDB, a espinha dorsal do governo Temer.

Outros ministros do governo interino estão sob investigação na Lava Jato e até outros nomes da cúpula do Planalto podem ter sido flagrados em conversas com Machado. Até o momento já foram divulgados diálogos com Sarney, Renan Calheiros e Romero Jucá.

Com a homologação da delação, o Procurador-Geral da República Rodrigo Janot pode abrir novos inquéritos, complementar as dezenas de investigações contra políticos já existentes e ainda realizar novas operações policiais para coletar provas e ouvir suspeitos.

O ex-presidente José Sarney disse em nota ao Jornal da Globo ser amigo de Sérgio Machado há muitos anos e afirmou que as conversas que teve com ele foram marcadas pela solidariedade. Segundo ele, muitas vezes procurou dizer palavras que ajudassem a superar as acusações que Machado enfrentava. Sarney disse, ainda, lamentar que conversas privadas tornem-se públicas porque podem ferir outras pessoas.

A defesa da presidente afastada Dilma Rousseff disse ao Jornal da Globo que ela jamais pediu qualquer tipo de favor que afrontasse o princípio da moralidade pública.

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