USP perde posto de melhor universidade da América Latina
Folha de São Paulo
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
A Universidade de São Paulo (USP) perdeu o posto de melhor universidade da América Latina no ranking elaborado pela QS Quacquarelli Symonds, consultoria britânica especializada em educação superior. A instituição brasileira era líder do levantamento anual desde a sua criação, em 2011. A USP, que agora figura em segundo lugar, foi ultrapassada pela Pontifícia Universidade Católica do Chile (UC).
Segundo o texto de apresentação do ranking 2014, a UC despontou em dois quesitos. A instituição reduziu o número de alunos por professor e aumentou sua influencia no mundo virtual (Webometrics). O principal avanço, contudo, é o maior impacto da pesquisa produzida na instituição chilena, medido pelas citações em jornais acadêmicos internacionais.
Essa foi a primeira vez que a USP não lidera as instituições de ensino superior da região latino-americana na listagem universitária do QS, feita na região desde 2011.
De acordo com Simona Bizzozero, uma das diretoras do QS, a USP perdeu lugar porque a Pontifícia Universidade Católica implementou uma “série de melhorias”.
“O resultado não significa que a USP tenha se deteriorado. A pontuação dela é quase igual a do ano anterior”, disse Bizzozero à Folha.
Entre as melhorias da escola chilena, destaca Bizzozero, está uma melhor proporção entre a quantidade de estudantes por professor. “Já a USP ficou estabilizada.”
Esse indicador vale 10% da nota recebida por cada universidade.
Até o fechamento deste texto, a USP não comentou o resultado do ranking QS.
Segundo Danny Byrne, editor do TopUniversities, site que publica o ranking, a queda da USP não deve ser compreendida como uma tendência entre as instituições brasileiras. “O Brasil tem agora dez das vinte melhores universidades da América Latina, duas a mais do que no ano passado”, diz. As novatas são a UnB e a UFSCar
A USP se destaca nos itens produtividade em pesquisa e medição do número de artigos produzidos por docentes. As oito melhores instituições neste indicador são brasileiras, com apenas a Universidade do Chile no top 10.
MENOS IMPACTO
Mas não é só na proporção de docentes e alunos que a USP perde para a universidade “concorrente” do Chile.
De acordo com análise do especialista em indicadores científicos Rogério Meneghini, a Pontifícia Universidade Católica do Chile tem cerca de metade de sua produção científica feita em colaboração internacional.
Já a USP tem de 25% a 30% dos trabalhos acadêmicos em colaboração com cientistas estrangeiros.
Isso significa que a pesquisa feita na USP terá menos impacto internacionalmente (será menos lida e menos citada por outros cientistas) do a que está sendo produzido na escola chilena.
A notícia é ruim para a USP, mas não significa que o ensino superior no Brasil esteja pior de maneira generalizada.
Ao contrário: neste ano, o Brasil tem seis universidades entre as dez melhores universidades da América Latina -o dobro da avaliação anterior feita pelo QS.
A Unicamp e a federal do Rio de Janeiro permanecem no topo da lista, junto com as novatas Unesp e as universidades federais de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul.
MAIS QUEDA
No ano passado, a USP já havia perdido pelo menos 68 casas no ranking universitário internacional THE (Times Higher Education), que é concorrente do grupo QS.
A universidade –única do Brasil que figurava entre as 200 melhores do mundo na listagem– passou de 158º lugar em 2012 para o grupo de 226º a 250º lugar.
Nesse caso, o motivo apontado para a queda foi a falta de inglês na sala de aula. Países como Holanda, Alemanha e França, por exemplo, oferecem aulas em inglês e têm universidades entre as cem melhores do mundo.
Recentemente, a USP foi abalada por uma crise financeira.
A universidade gasta 103% do seu orçamento apenas com salários. Em março, a universidade teve as suas contas reprovadas no TCE (Tribunal de Contas do Estado) por irregularidades.
A USP não autorizou o aumento de salários de docentes e de funcionários, o que resultou em uma greve que teve início oficialmente nesta terça-feira (27).
A Universidade de Buenos Aires (UBA), uma referência na região, também vem perdendo posições no ranking. A instituição portenha figurava no 8º lugar em 2011 e agora aparece em 19º. Para Martin Juno, analista sênior da QS Intelligence Unit, a relação relativamente alta entre alunos e professor em sala de aula e uma taxa pequena de docentes com doutorado contribuiu para a queda.
“As universidades do México, Argentina e Colômbia se destacam em áreas específicas, mas atualmente não apresentam consistência no conjunto de indicadores em comparação com as principais instituições acadêmicas do Brasil e do Chile”, diz o diretor de pesquisa da QS Intelligence Unit, Ben Sowter. “O numero de alunos por professor continua sendo o maior desafio nas principais instituições públicas de pesquisa da região.”
Vinte e um países latino-americanos têm ao menos uma universidade entre as 300 instituições que figuram no ranking. O Brasil tem o maior número de participantes: 78. O México vem depois, com 46, seguido por Colômbia (41), Argentina (34), e Chile (30).
Veja a lista as instituições que ocupam as 10 primeiras posições:
1 – Pontifícia Universidade Católica do Chile
2 – Universidade de São Paulo (USP)
3 – Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)
4 – Universidade Federal do Rio de Janeiro
5 – Universidade de Los Andes – Colômbia
6 – Universidade do Chile
7 – Instituto Tecnológico e de Estudos Superiores de Monterrey
8 – Universidade Nacional Autônoma do México
9 – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp)
10 – Universidade Federal de Minas Gerais
10 – Universidade Federal do Rio Grande do Sul
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