Uma realidade e muitas dúvidas II
Por: Chico Viana
Os números do consumo de cocaína no Brasil no mundo são arrasadores: das 600 toneladas de cocaína são consumidas por ano no mundo, os brasileiros consomem 40.
Só em Brasília, a Polícia Federal estima o consumo de duas toneladas/anos, uma média de 7 doses (0,7 grama cada) por habitante. No Rio, não há dados específicos, no geral, são consumidos 103 toneladas de drogas, sendo 90 toneladas de maconha, seguindo-se cocaína e “crack”.
As apreensões de “crack” no Brasil cresceram quase quatro vezes de 2006 para 2007, passando de 145,3 toneladas, para 578 mil.Mesmo com estas retiradas do mercado, dados da UFRJ indicam que entre 2007 e 2008, no universo da pesquisa realizada o número de usuários subiu de 15 para 25%, ou seja a repressão não resolve.
No mundo, cerca de 210 milhões de pessoas usam drogas ilícitas e a cada ano 200 mil usuários morrem. A droga mais consumida é a maconha, com um público usuário estimado entre 125 e 203 milhões, o que representa de 2,8% a 4,5% da população mundial. Em seguida, vêm anfetaminas/ecstasy, ópio/heroína / cocaína e derivados.
O seu tráfico envolve recursos na ordem U$ 80 bilhões/ano em 80% dos Países. Só no Brasil U$5 bilhões.
No que concerne à maconha o Afeganistão e o Paraguai são os maiores produtores mundiais. Ao contrário do observado na América do Norte, foi observado um aumento de consumo em todos os Países na América do Sul, embora a prevalência anual do uso de maconha na área continue sendo consideravelmente inferior ao da América do Norte. Cerca de 3% da população sul-americana, ou algo entre 7,3 e 7,5 milhões de pessoas com idades entre 15 e 64 anos, consumiu maconha pelo menos uma vez no ano de 2008 – o que representa uma diminuição da estimativa de 8,5 milhões para 2007, números atualizados depois pela correção dados informado pela Bolívia e Venezuela.
As maiores prevalências de uso de maconha são encontradas na Argentina (7,2%), no Chile (6,7%) e no Uruguai (6%). O Brasil( 4,3) se coloca entre a Bolívia( 4,3) e a Colômbia( 2,3), seguindo-se o Paraguai (l,6).A Jamaica, em franca decadência caiu em 6 anos de uma produção de 705 toneladas, para 235,Isso posto, vamos ao fato, em que tenho dúvidas e certezas.
A campanha contra o fumo atingiu o fumante por que? Basicamente pela conscientização do dano, pela identificação do usuário e pela rejeição social. Ninguém buscava lugar ermo para fumar tabaco, o ato era, e é explícito.
No uso da cocaína e maconha, também há a consciência do dano, mas o prazer inicial que ela proporciona é indescritível. Depois vem o uso para evitar o inferno da abstenção. Isto nunca foi tomado em consideração, nas campanhas publicitárias, nunca foi dito que a droga proporciona a princípio uma formidável viagem, de ida. Mas cobra pela passagem de volta, passagens de idas cada vez mais onerosas, até transformar o sonho em pesadelo e a viagem, numa jornada só de ida, sem retorno.
Ninguém identifica um viciado em maconha ou coca, no segmento social onde mais se usa. Sabe-se que alguém o faz por informações de terceiros. Usam implicitamente, discretamente, tem vida social e profissional regulares, com drogas muitas vezes entregues na residência, por fornecedores de confiança.
É a classe média, média/alta e alta, que mantém no tráfico, um negócio rentável. O lucro com “crack” é irrisório, a maconha razoável, mas o filé mesmo é a cocaína.
Combater tráfico por ações policiais tem se mostrado ineficaz. Só no primeiro dia de ocupação do Complexo do Alemão, no Rio, foram apreendidas 40 toneladas de drogas.
Quando mais se apreende, mas aparece, o mercado não se abala. Entre 2004/2009 segundo o UNDOC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) , triplicaram-se as apreensões de cocaína no Brasil, subiu de 8 para 24 toneladas. E o custo benefício do esforço, irrisório.
O cel. José Vicente da Silva, ex-Secretário Nacional de Segurança Pública informa que, de cada R$ 1 milhão investidos em repressão, resultam em só 15 quilos a menos de cocaína no mercado. E aí, ele faz uma grande revelação que deveria ser o norte do combate às drogas, “Se o mesmo dinheiro for investido em conscientização de jovens, os potenciais fregueses do tráfico, saem 100 quilos de drogas das ruas”.
Outro dado pertinente neste estudo, apontou para uma relação entre o crescimento econômico( aumento do poder de aquisitivo) e aumento do consumo de drogas. O exemplo mais notório é o da Espanha, que se tornou o maior consumidor “per capita do mundo” após 15 anos de boom econômico, nas décadas de 80 e 90. Hoje a Espanha tem uma média de três consumidores para cada grupo de 100 habitantes entre 15 e 64 anos. No Brasil, o índice já atingiu a 2,6 consumidores para cada grupo de 100, ante 1 para 100 em 2001. Para terminar, já que o tema foi posto para objeto de discussão, na Jamaica, onde o uso da maconha é livre 50 usuários em cada 100 se tornam dependentes, contra uma média mundial de 20 em 100. A bebida alcoólica, 7 em 100, a cocaína,o “crack” e a heroína, 95 em 100. O “crack” vicia no primeiro uso, e o usuário só perde o vício, salvo raras exceções, na última tragada antes da morte.
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