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Um Estado burocrático

Por: Chico Viana

O assunto é recorrente, mas agora parece que a coisa pode ir; pelo menos no Pará, que já tem plebiscito marcado para o dia 11 de dezembro e que decidirá sobre a divisão para a criação de mais dois estados: Carajás e Tapajós. Votam todos os eleitores do Estado, mãe e filhos. O Piauí ainda espera por seus pretendidos estados São Francisco e Gurgueia, e o Maranhão volta, a toda carga, com o Maranhão do Sul. É este que nos interessa.

Sem nos aprofundar nos meandros socioeconômico-político-culturais, é flagrante que a criação do Estado do Maranhão do Sul irá transformar o nosso Maranhão, aqui do Norte, em um Estado Museu, onde só ainda terá algum alento de atividade, por força da burocracia estatal que permanecerá fincada na Ilha, capital do Estado e abrigo do governo. A criação do Maranhão do Sul será de um impacto quase mortal ao Maranhão, cujo centro administrativo fica na ponta do estado, longe de tudo e de todos, e onde se se quiser chegar, chega-se por um estreito, e se quiser prosseguir segue-se o mar. Próximo dos pródigos mercados, caminho obrigatório de passagem para os grandes centros, Brasília, Rio, São Paulo, todo o sul do País, sem contar as vias de acesso que por lá permeiam para desembocar o Norte do País, do Pará ao Acre, o Maranhão do Sul anulará um percentual mais que razoável da importância do nosso Estado. Parte do Maranhão hoje, o leste do Estado, já se vale e socorre o Estado do Piauí. De Peritoró para lá, o Maranhão não conta. Tudo lhes é servido do Piauí. Toda atividade econômica gravita em torno do Estado vizinho. Comerciantes daquela região se abastecem naquele Estado, inclusive de combustíveis, que, mesmo indo daqui, é mais barato. Lá se leva a sério a criminalidade do cartel. Mais do que nunca o Maranhão, aqui do norte, com sua velha capital, será um ponto final. Daqui se pouco se produz, e menos ainda produzirá. Será apenas um porto de um Estado em trânsito. Gusa e grãos e outros produtos de exportação continuarão de passagem para embarcar no Porto. Talvez permaneçam algumas das indústrias dessas que fazem da Ilha um quarto de despejo, e que nos fariam um favor se nunca aqui houvessem postos os pés. Celulose, couro, gesso, carne bovina (naquela região têm o maior rebanho do Estado), leite, e outros produtos mais dali seguirão caminho para o mercado consumidor interno mais próximo, e mais acessível do que o mercado que restará do espólio desta emancipação açodada. Não é nada, não é nada, o Maranhão do Sul terá uma área de cento e cinqüenta mil metros quadrados. Será então o quinto maior Estado do Nordeste, possuirá 49 municípios, uma população de 1,1 milhão de habitantes, com estimativa de 25% do Produto Interno Bruto (PIB), que em dados de 2004 era de R$ 16,5 bilhões.

A arrecadação da região do Tocantins girava em torno de 5,3% do total do antigo estado. Hoje representa 27,6% da arrecadação de Goiás. É provável que isto ocorra aqui também e que fiquemos cá tão despovoados e desprovidos, como o Centro Histórico em dia de semana. Dividir-se-á representação na Câmara, no Senado, na Assembléia, na Magistratura, perdendo representação, importância e, principalmente, emprego. Toda burocracia civil e os efetivos militares e civis serão reduzidos; uma comoção nunca vista. Serão mais três senadores, oito a dez deputados federais, mais ou menos 20 deputados estaduais, isso no legislativo do novo Estado. No executivo, governadores, secretários, presidentes de autarquias; enfim, todo o aparato institucional para que se executem as leis e se administre um Estado. E, para aplicá-las, o Judiciário com todos os seus juízes, desembargadores, promotores, procuradores, etc etc… Enfim uma fortuna. Obviamente, que tudo tem seu custo, e nós pagaremos duas vezes; pela perda do território e pelo financiamento do novo Estado. O Estado de Tocantins, por exemplo, gastou na construção da infra-estrutura burocrática e na urbanização, cerca de 800 milhões de reais. Mesmo com a cidade de Imperatriz já erigida, muitas obras serão necessárias para que uma cidade interiorana se torne capital de um Estado. Mais cedo,ou mais tarde há de se fugir das improvisações e edificar prédios próprios e específicos, como se fez em Palmas.Construíram-se Palácio do Governo, Fórum, Assembléia, Ginásios, Estádios Hospitais, Universidades, a cidade foi toda urbanizada, enfim,uma capital inteira, com todos os ônus,Ah, mas outros Estados foram divididos e vão muito bem, ou pelo menos não houve esta crise toda que se está a anunciar.Pode ser, mas observem que dos últimos Estados criados Mato Grosso do Sul e Tocantins Estados, além de abarcarem os municípios mais prósperos, não tinham a desvantagem da peculiaridade geográfica que tem o Maranhão com uma capital num extremo, isolada; de regiões que dependem de outro Estado para serviços essenciais como saúde e abastecimento, e que vai desfazer-se justamente do que ainda resta de produtivo.São só dúvidas a serem colocadas comodiscussão que tem tudo para ser superficial e apressada, afinal a fome dos arrivistas eleitoreiros é insaciável. Não estão criando mais 126 municípios de algibeira, para beneficiar deputados cujo maior sonho é ter um feudo para cevá-los? Então, não tem o menor direito de reclamar.

Chico Viana é médico e vereador de São Luís pelo PSDB-MA.

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