Tiririca chama Chiquinho Escórcio de “cara de joelho”
Nove meses depois de chegar à Câmara como o deputado mais votado do País, Francisco Everardo Oliveira e Silva (PR-SP), vulgo palhaço Tiririca, fez hoje sua “estreia” no Congresso. Alternando expressões como “beleza pura”, “maravilha, garoto” e “legal”, Tiririca presidiu por quase três horas sessão da Comissão de Educação e Cultura que fez audiência pública para discutir a concessão de alvarás para instalação de circos nas cidades.
Foi a primeira oportunidade em que o ex-profissional circense e atual parlamentar Tiririca falou longamente na Câmara desde que tomou posse, após de ter sido eleito com mais de 1 milhão de votos em 2010 –neste ano, ele não subiu à tribuna nenhuma vez. Ele presidiu a sessão no lugar de Fátima Bezerra (PT-RN).
No encontro de hoje, em Brasília, convocado por ele para debater a concessão de alvarás a circos, Tiririca discorreu sobre sua trajetória, ganhou afagos e se permitiu fazer algumas piadas que, se não arrancaram gargalhadas de cerca de 80 pessoas presentes, serviram para descontrair.
Beirando a falta de decoro parlamentar chamou o amigo deputado Chiquinho Escórcio (PMDB-MA) de “cara de joelho” e ironizou um convidado de sobrenome Kornowski.
E leu em público sua maior frase: “Ignácio Kornowski, coordenador da área técnica de desenvolvimento da cultura da Confederação Nacional dos Municípios”, balbuciou tropegamente Tiririca, que aproveitou para fazer graça com o sobrenome do convidado. “Kornowski, Kornowski”, repetiu, entre risos, brincando com a pronúncia abrasileirada “cornóvisque”.
Tiririca admitiu ainda que os deputados “trabalham muito e produzem pouco”. Teve auxílio de um assessor da Câmara e cedeu prioridade às mulheres, por cavalheirismo não previsto pelo regimento interno.
Tiririca ameaçou criticar os colegas menos próximos. Mas desistiu no meio do caminho. “Para eles [deputados], esse palhaço vinha fazer palhaçada. Realmente eu faço. Mas não, não faço. Tem a quebra de decoro”, afirmou, para depois emendar, citando colegas de quem ficou mais próximo. “A gente brinca para caramba.”
Durante a fala dos convidados, o deputado aproveitou para folhear papeis que simulava ler baixinho, deixando perceptível o abrir e fechar dos lábios, como escandindo sílabas. A performance de Tiririca à frente da Comissão contou com a ajuda de um discreto funcionário da Câmara que, a todo instante, soprava nomes de convidados e de artistas presentes à sessão. Depois de fazer um stand up comedy com os melhores momentos de sua vida, o ex-dono de circo leu um papel com os nomes dos convidados para integrar a mesa de debates da Comissão.
Por meia hora, Tiririca contou para uma plateia de artistas circenses passagens de sua vida, como na época em que fazia animação na casa de “meninos ricos” e aproveitava para dar “uns cascudos” na criançada . Entre gracejos e piadas, ele confessou que decidiu disputar uma cadeira na Câmara para ganhar uma publicidade gratuita. Afirmou esperar ter “uns cinco mil votos” nas eleições. “Me surpreendi com a votação que tive”, reconheceu o autor do hit brega Florentina de Jesus.
O deputado contou sua trajetória e desabafou sobre um dos momentos mais polêmicos após sua eleição: a suspeita de que não era alfabetizado. Ele disse que esse foi um momento difícil, pois teve que ficar por muito tempo recluso em uma chácara no interior de São Paulo, esperando a polêmica passar.
– Fui me esconder em um sítio e a polêmica em cima: “o cara não sabe ler”. Ficamos só eu, minha filha, a babá e a minha esposa em Guararema. O sítio só tinha o caseiro e daí eu disse: “Eu tô estressado aqui”. Mas me disseram para eu aguentar até baixar a poeira. Eu falei para os meus filhos dizerem que eu estava no Nordeste. O tempo passava e a polêmica em cima, daí eu disse: “Pelo amor de Deus, eu vou desistir disso” – afirmou o deputado.
Ao ser chamado de presidente pelo deputado Marco Feliciano (PSC-SP), Tiririca respondeu arrancando risos dos presentes:
“Você não sabe o quanto estou feliz por ser chamado de presidente”, brincou.
Ele admitiu que cogitou desistir de assumir a cadeira na Câmara diante da pressão para provar que sabia ler e escrever. “Mas fui para o teste e graças a Deus, tudo deu certo”, comemorou. Tiririca revelou que, nos primeiros três meses de mandato, se sentia um peixe fora d”água na Câmara. “Mas hoje estou tranquilo. Dou um baile aqui”, garantiu.
No fim da sessão, Tiririca defendeu a regras diferenciadas para a matrícula de filhos de artistas circenses nas escolas. E fez questão de dizer que, quando pequeno, teve professora particular no circo que era de propriedade de sua mãe. “Eu estudei assim. Como a minha família tinha posses, a minha mãe contratou uma professora particular que acompanhava o circo e dava aula para a gente”, disse.
Circo é mais organizado do que o Congresso
Ainda na quarta, ele também comentou a respeito do que tem observado no Congresso. Ele disse que uma das coisas que mais lhe chamaram atenção nos discursos dos parlamentares foi justamente “a falta de atenção” dispensada a quem discursa. Bem diferente da plateia do circo, compara ele.
– No circo é mais organizado. No circo, o pessoal presta atenção, aplaude. Aqui é cada um por si, é uma loucura! Aqui, você fala para você mesmo, você mesmo se aplaude. Ninguém está nem aí, uns ficam vendo a internet, outros estão ao telefone, lendo jornal, ninguém presta atenção – afirma o deputado, emendando que ainda está aprendendo:
– Eu me ligo porque para mim é um aprendizado, estou aprendendo como funciona a coisa e como a coisa é. Mas nem por isso vou ser igual a alguns deles. Não são todos, são alguns deles.
Mas, se por um lado Tiririca fez sua estreia no comando de uma audiência pública, o mesmo não se pode dizer sobre a ida do deputado à tribuna. O parlamentar deve terminar seu primeiro ano de mandato sem fazer um discurso sequer no plenário para os colegas. (Com informações da Folha, Agência Estado e Globo)
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