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Sete dos dez governadores já reeleitos iniciam 2022 sem candidato definido à sucessão

O Globo – Sete dos dez governadores que já estão em segundo mandato e não podem disputar a reeleição entrarão em 2022 sem candidato definido para a sucessão. Os entraves, causados tanto por influência do cenário nacional quanto pela dificuldade de formar candidaturas que sejam vistas como competitivas por aliados locais, têm de ser resolvidos até abril, prazo máximo para filiações partidárias e desincompatibilização de agentes públicos que queiram se candidatar. Em estados como Pernambuco, Ceará e Alagoas, lideranças locais estão em compasso de espera pela definição dos próprios governadores sobre a possibilidade de renunciar ao cargo atual, no início do ano, para disputar o Senado.

O número total de governadores que abrirão espaço a sucessores deve chegar a 12, já que dois chefes de Executivo em primeiro mandato — João Doria (PSDB), em São Paulo, e Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul — dizem não ter o objetivo de se reeleger.

Em Pernambuco, o entrave combina questões nacionais, locais e a hipótese, vista como cada vez mais remota por aliados, de que o governador Paulo Câmara (PSB) dispute o Senado. Como o PSB já decidiu que terá candidato ao governo, partidos aliados como PT e Republicanos esperam ser contemplados com a vaga de senador na chapa. A cadeira em disputa no Senado é ocupada por Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), cujo filho, Miguel Coelho (DEM), prefeito de Petrolina, é pré-candidato ao governo.

Para o PSB, o apoio do PT a seu candidato em Pernambuco é condição para um acordo nacional entre as siglas. O ex-presidente Lula (PT), porém, acenou com o endosso a candidaturas majoritárias do senador Humberto Costa ou da deputada federal Marília Arraes, ambos do PT, o que contraria os planos de Câmara.

O ex-prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB), hoje secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, era tido como nome natural para a disputa no estado, mas tem se afastado do debate interno. Outro nome cogitado é o da presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Ana Arraes, que pode antecipar para março sua aposentadoria na Corte. Uma eventual candidatura acrescenta questões familiares ao entrave partidário: tia de Marília e avó do atual prefeito do Recife, João Campos, a presidente do TCU repreendeu publicamente o tom bélico da disputa eleitoral entre os primos em 2020.

Ela também já defendeu mais de uma vez o filho Antônio Campos, o Tonca, rompido com a cúpula local do PSB, e que apoiou Marília no segundo turno da capital pernambucana. Pela posição de antiguidade na família, a movimentação de Ana Arraes é tratada com cautela. O prefeito do Recife, por exemplo, desconversa quando perguntado sobre a hipótese de uma chapa liderada pela avó.

— Tenho relação de neto. Pelo exercício da presidência do TCU, ela hoje é vedada de fazer política — afirma Campos.

Consenso entre rivais
Em Alagoas, Renan Filho (MDB) hesita em renunciar para concorrer ao Senado depois que perdeu seu sucessor natural. O vice, Luciano Barbosa (MDB), decidiu disputar a prefeitura de Arapiraca em 2020, à revelia do clã Calheiros, e se elegeu. Se o governo ficar vago, a Assembleia Legislativa elege um mandato-tampão. O presidente da assembleia, Marcelo Victor (Solidariedade), tem um acordo eleitoral costurado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), adversário dos Calheiros no estado e que apoiou a candidatura de Barbosa em Arapiraca.

Para se viabilizar ao Senado, onde pode se unir ao pai, o senador Renan Calheiros, e evitar que o governo caia nas mãos da oposição, Renan Filho costura uma candidatura de consenso. O nome do deputado estadual Paulo Dantas, que é do MDB, de Renan, e tem boa relação com Lira e Victor, tem sido levado às conversas. Parlamentar de primeiro mandato, o próprio Dantas vê como um ativo a chance de ser candidato consensual entre rivais locais.

— Tenho ótima relação com o governador e com Arthur (Lira). Somos um estado pobre, pequeno, então o caminho é buscar diálogo e moderação — diz Dantas.

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) vem sinalizando disputar o Senado e apoiar um candidato ao governo do PDT, sigla do presidenciável Ciro Gomes, seu aliado. O PT, que estimulou a candidatura de Camilo, resiste a um palanque com Ciro, devido às críticas a Lula.

O entrave é causado também pela ausência de sucessor natural no PDT. O senador Cid Gomes (PDT-CE), irmão de Ciro, descarta concorrer. Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio tem apoio interno, mas outros pedetistas, como a vice-governadora Izolda Cela, tentam se cacifar. Em 2020, quando deixou para a última hora a escolha do candidato a prefeito de Fortaleza, o PDT teve dificuldades para vencer, com Sarto Nogueira, o segundo turno contra Capitão Wagner (PROS), hoje pré-candidato ao governo pela oposição.

— Há uma alternância no Ceará: o senador Cid Gomes governou por dois mandatos, depois veio Camilo, pelo PT, e agora entendo que a vez é do PDT — afirma o presidente do PDT, Carlos Lupi.

A equação envolve ainda uma disputa entre Camilo e Wagner para atrair o União Brasil, formado pela fusão entre DEM e PSL, a seus respectivos palanques. Aliados de Wagner já assumiram o PSL, enquanto o DEM é dirigido pelo senador Chiquinho Feitosa, suplente em exercício na vaga do senador licenciado Tasso Jereissati (PSDB). Próximo a Camilo, Tasso tem dito que não disputará novo mandato, mas abriu caminho para o suplente tentar se fortalecer. Antes de assumir como senador, Feitosa planejava tentar vaga na Câmara.

Bases fragmentadas
No Sergipe, a indefinição na escolha do sucessor de Belivaldo Chagas (PSD) já gerou uma fissura na base. O PT apresentou como pré-candidato ao Executivo o senador Rogério Carvalho, que tem feito críticas a Belivaldo. A cúpula do PSD tenta emplacar a candidatura do deputado Fábio Mitidieri, mas há movimentações nos bastidores por outros postulantes, como o prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT).

A dificuldade para chegar a um denominador comum ameaça ainda fragmentar as bases de Flávio Dino (PSB), no Maranhão, e Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul. Em ambos os estados, a escolha do sucessor encontra-se afunilada entre duas opções, mas movimentos recentes abrem pouca margem para concessões.

Leite, que se diz contrário à reeleição, filiou ao PSDB seu vice, Ranolfo Vieira Jr., lançado pelo partido como pré-candidato ao governo. O MDB, também da base, reivindica o apoio do governador a seu candidato, com a hipótese de enfrentar o PSDB caso não haja acordo. Em disputa interna para definir seu nome ao Executivo estadual, o MDB tem no deputado federal Alceu Moreira e no presidente da Assembleia Legislativa, Gabriel Souza, nomes mais próximos a Leite, o que facilitaria uma composição. Uma ala do partido, contudo, tenta convencer o ex-governador José Ivo Sartori a concorrer.

No Maranhão, há uma disputa velada desde 2020 entre o senador Weverton Rocha (PDT-MA) e o vice-governador Carlos Brandão (PSDB) pelo posto de sucessor. Como Dino deve deixar o governo para disputar o Senado, Brandão assumirá o cargo por ao menos seis meses. Weverton, por outro lado, tem como trunfo a aproximação com Lula, que também estará no palanque de Dino.

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