Sarney na era dos grampos
Bem lembrou o Jornal Pequeno que em novembro de 2011 a revista Veja revelou que o então presidente do Senado José Sarney ordenou a compra de equipamentos para detectar grampos telefônicos e escutas ambientais. A reportagem mostrou que o Senado tinha de manter a aquisição – ao custo de R$ 700 mil – em segredo, determinando que a operação tivesse caráter “reservado”. Conforme a notícia, o chefe da Polícia Legislativa, Pedro Ricardo Araújo Carvalho, o “Pedrão”, negou, na época, a tentativa de esconder a compra.
De fato, a parafernália eletrônica (tecnológica) à disposição de qualquer cidadão nos dias de hoje tem se constituído em grave ameaça àqueles que, sob a proteção de um manto de autoridade, arriscam-se a infringir as leis, principalmente as que protegem os recursos públicos, criminalizam desvios de conduta, propinas, fraudes em licitação, superfaturamentos, lavagem de dinheiro e outros apetites canibalescos de organizações criminosas, como ficou sobejamente demonstrado no processo do Mensalão e na Operação Lava Jato.
Nesse universo virtual, tudo o que se diz pode estar sendo gravado e filmado pela caneta ou pelo botão na lapela do interlocutor, pelo celular, o que faz da maioria dos seres viventes espiões e detetives em potencial, a despeito do que preceitua o artigo 5, Inciso XII da Constituição Federal. Sem contar o fato de que em qualquer fase da persecução criminal são permitidos, sem prejuízo dos já previstos em lei, procedimentos como a captação e a interceptação ambiental de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos e o seu registro e análise mediante circunstanciada autorização judicial. Tudo sem que a pessoa ou pessoas saibam que estão sendo monitoradas ou vigiadas. É para deixar em polvorosa qualquer homem de muitos pecados políticos como Sarney.Grampeado, gravado, filmado, interceptado, um número considerável de políticos e empresários vai se enrolando com a Justiça. E o pior é que é o “espião” quem escolhe o ambiente.
A despeito de se proteger de grampos telefônicos e escutas ambientais no Senado, Sarney e seus parceiros foram gravados em casa, no escritório ou em gabinetes pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. E veio a bomba: Machado delatou ter repassado R$ 70 milhões de dinheiro desviado da subsidiária da Petrobras para Renan Calheiros, José Sarney e Romero Jucá.
Os grampos voltam à tona com o mesmo “Pedrão” da Polícia Legislativa do Senado na cadeia, o Supremo Tribunal Federal suspendendo a operação da Polícia Federal, uma Lei de Abuso de Autoridade em curso tramitando no Congresso, e todo mundo com ou sem culpa no cartório tentando se proteger. (Editorial do JP)
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