Sarney escreve memorial sobre senador José Maranhão
O ex-presidente José Sarney se mantém atento aos fatos e tragédias humanas provocadas pela COVID 19, ultimamente afetando até um líder político da Paraiba de nome José Targino Maranhão.
Eis o texto na integra, a seguir:
José Maranhão
A pandemia de Covid-19 tem cobrado um alto preço da Humanidade, mas, além do sentimento da tragédia coletiva, nos marca profundamente a perda individual de amigos e companheiros de vida pública e de convivência, já com o peso de décadas.
É com este sentimento que sinto agora o falecimento de um desses grandes amigos, companheiro de muitas batalhas e um homem íntegro e sempre solidário, o Senador José Maranhão, um dos maiores líderes políticos da Paraíba, derrotado na batalha contra a essa doença que o acometia desde o segundo turno das eleições municipais do ano passado e cujas sequelas lhe levaram a vida.
Nos conhecemos no começo da década de 1980, quando eu era Senador e ele chegou a Brasília como Deputado Federal. Algum tempo depois tornei-me Presidente da República e ele foi constituinte, trabalhando em defesa dos interesses do Nordeste e do Brasil e muito me ajudando.
Em 1994 deixou a Câmara dos Deputados para assumir o mandato de Vice-Governador da Paraíba e, logo depois, o de Governador, pelo falecimento de Antônio Mariz. Reeleito em 1998 com a maior margem de votos de todo o País, José Maranhão fez um brilhante governo, que lhe valeu o respeito e a confiança do povo paraibano e brasileiro.
Marca disso foi sua eleição, em 2002, para o Senado Federal, com expressiva votação. No período de 2003 a 2009 convivemos na Câmara Alta em estreita sintonia, quer nos interesses quer nos ideais que nos uniam dentro do Partido. Foi assim, quando, com Requião e Paes de Andrade, nos juntamos numa luta e dissidência para que o PMDB não apoiasse a candidatura Serra.
Quando eu fui Presidente da Mesa, e mesmo fora dela, sempre tive a sua colaboração espontânea e a sua solidariedade.
Em 2006 candidatara-se novamente ao Governo da Paraíba. Cássio Cunha Lima, candidato a reeleição, teve mais votos que ele. Em 2009, no entanto, o TSE cassou o mandato de Cunha Lima e José Maranhão assumiu novamente a chefia do Governo, quando uma vez mais realizou um grande trabalho.
Em 2014, aos 81 anos, voltou a ser eleito para o Senado Federal, onde cumpria seu mandato, como sempre, com presença marcante, ocupando inclusive a presidência da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania.
Companheiros de partido por 35 anos, tínhamos uma grande convergência de ideias e batalhamos por causas comuns, como por exemplo a defesa do livro e o combate ao armamentismo.
A Paraíba era, naturalmente, a sua permanente paixão. A ela devotou toda a sua carreira política, defendendo seus interesses em todos os terrenos.
Mais que correligionários, fomos amigos. José Maranhão era uma pessoa gentil, de uma convivência serena, agradável, ponderada e patriota. Sinto profundamente sua falta e guardarei para sempre a memória de sua grande figura humana.
Ele tem um lugar indelével e está na história da Paraíba e na política brasileira como um dos seus grandes homens.
Divido com sua família, a desembargadora Maria de Fátima — de quem o texto que escreveu sobre ele é uma obra prima — e seus filhos este momento de dor.’
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