Sarney articula candidatura de Collor e Lobão à presidência do Senado
A um ano e dois meses das eleições para a sucessão da Presidência do Senado, o PMDB está certo de que indicará o substituto de José Sarney (PMDB-AP), mas tem dificuldades em escolher o nome ideal para o posto. Atingido pelo histórico de denúncias envolvendo sua vida parlamentar e pela rejeição do Palácio do Planalto, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), perdeu o status de substituto natural do cargo, abrindo a temporada de análise de currículo de “pré-candidatos.” E, no ninho desunido formado pelos peemedebistas, um estranho se movimenta: Fernando Collor (PTB-AL).
Além dos cinco peemedebistas apontados como “viáveis” na sucessão de Sarney, Collor é o sexto nome, fora das fileiras do partido, visto com bons olhos pelo presidente da Casa. Em reunião promovida na residência do deputado Renan Filho (PMDB-AL), há duas semanas, aliados de Sarney e do senador Renan Calheiros discutiram a candidatura de Collor como forma de conciliar interesses das alas peemedebistas. A assessoria do petebista não quis comentar o assunto.
Na Casa, parlamentares relatam uma mudança no comportamento de Collor nas últimas semanas. Depois de concentrar todas as suas energias na Comissão de Relações Exteriores, o ex-presidente da República voltou a se interessar por outros assuntos que fazem parte da rotina do Senado. Criticou a “ditadura das lideranças” na Casa, modelo que privilegia a figura dos líderes nas decisões e foi para a tribuna propor reforma no sistema das comissões legislativas.
A convivência com as pessoas também mudou. “Acho que ele voltou para a Terra, agora até fica no cafezinho e cumprimenta os servidores”, conta um parlamentar. A proximidade entre Collor e Sarney também tem chamado a atenção dos colegas. A discussão do presidente do Senado com o senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é lembrada como símbolo da afinidade. Collor foi o homem do “deixa disso” quando a briga esquentou entre Sarney e o líder da oposição.
O nome de Collor é estudado como uma opção para substituir um ex-presidente por outro ex-presidente no comando do Senado. O assunto está longe de ser consenso no PMDB, que tem uma fila de pré-candidatos aguardando a bênção de Sarney para colocar a campanha na rua. Entre eles, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Eunício Oliveira (PMDB-CE), e o presidente da Comissão Mista de Orçamento, Vital do Rego (PMDB-PB).
A fila
Apesar de ser um senador de primeiro mandato, Eunício ganhou musculatura no partido e não recebe do Planalto a rejeição sofrida por Renan. Questionado sobre a possibilidade de ser presidente do Senado, ele desconversa. “Nunca falei sobre isso, está muito longe. Tenho que tentar fazer um trabalho legal na CCJ, sou novato e respeito fila”, resume.
Vital do Rego, que ainda busca expressão nacional, tem sido elogiado por apagar incêndios na comissão de orçamento e pelo trabalho realizado na relatoria do projeto sobre a distribuição dos royalties do pré-sal. Se fosse mais afinado com a cúpula do partido, o senador Eduardo Braga (PMDB-AM) também seria forte candidato. Mas os peemedebistas chegaram à conclusão de que o prazo de um ano é pouco para “domesticar” Braga.
Apesar de Eunício e Vital serem opções para o PMDB, o critério do respeito à “fila” pesa. E os primeiros, nesse caso, são os ministros de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA), e o da Previdência, Garibaldi Alves (PMDB-RN), senadores licenciados. Lobão ainda é considerado o mais forte na disputa do cargo, por contar com a confiança de Sarney.
O calo de Lobão é o receio do PMDB de perder o comando de uma pasta estratégica para o partido, no momento em que o PT se mobiliza para ampliar domínios na Esplanada. Já para Garibaldi, o empecilho é familiar. Se aceitar a missão de voltar à presidência do Senado, ele estará enterrando o sonho do primo — o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) — de disputar a presidência da Câmara em 2013, na sucessão de Marco Maia (PT-RS).
Quem está de olho na cadeira
EDISON LOBÃO (PMDB-MA)
Seria a opção mais viável para o atual presidente, José Sarney (PMDB-AP), mas o PMDB teme tirar Lobão do Ministério de Minas e Energia e prejudicar importante feudo para a legenda na Esplanada.
GARIBALDI ALVES (PMDB-RN)
É listado como nome de confiança pela cúpula peemedebista. Tem saldo positivo por ter atravessado o primeiro ano do governo Dilma sem problemas na Previdência. Mas a candidatura de Garibaldi enterraria os planos de seu primo — o deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) — de concorrer à presidência da Câmara.
EUNÍCIO OLIVEIRA (PMDB-CE)
Apesar de ser senador de primeira legislatura, seu nome apareceu como uma opção a Renan Calheiros, mais palatável ao Planalto e a Sarney.
RENAN CALHEIROS (PMDB-AL)
Tem força no partido, mas não é a opção de José Sarney (PMDB-AP) nem do Palácio do Planalto. O histórico de processos na Comissão de Ética da Casa e a renúncia ao posto na Legislatura passada também prejudicam sua possível candidatura. Mesmo assim, articula para deixar o limbo.
VITAL DO RÊGO (PMDB-PB)
Seu nome cresceu na bolsa de apostas para a Presidência da Casa. Apesar de ser senador de primeiro mandato, tem recebido elogios pela atuação como presidente da Comissão Mista de Orçamento e pela relatoria do projeto sobre a divisão dos royalties do pré-sal. Esbarra na falta de projeção nacional para ser indicado pelo partido.
FERNANDO COLLOR (PTB-AL)
O único cogitado fora do PMDB, Collor (foto) tem se aproximado de Sarney e mostrado interesse por assuntos administrativos da Casa. O presidente do Senado está preocupado com o substituto, pois quer encontrar alguém de confiança e com biografia de peso. Collor preencheria os requisitos, mas é rejeitado por grande parte dos peemedebistas.
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