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Roberto Rocha e o horizonte de 2018

Por Nonato Reis
Jornalista e escreve para o Jornal Pequeno aos Domingos

O ingresso do senador Roberto Rocha (PSB) no cenário de 2016 provoca um sacolejo no grupo do governador Flávio Dino e dá uma amostra do que virá pela frente. Em artigos anteriores para este JP, previ que a sucessão de São Luís seria o primeiro teste de fogo para a solidez do tecido político do novo governo e que uma eventual cisão poderia vir de Roberto Rocha, em face do seu projeto de poder e da força estratégica que ele representa.

É cedo para fazer prognósticos, mas o seu anúncio de que deseja concorrer ao cargo de prefeito de São Luís, somado às críticas formuladas por ele contra a gestão de Edivaldo Junior, seu antigo parceiro, prenunciam nuvens carregadas no horizonte. Em sua página pessoal no Facebook, Rocha incluiu o prefeito no rol de gestores anódinos e disse que São Luís precisa mudar. O recado é claro: uma vez candidato, elegerá a gestão atual como alvo preferencial de suas críticas.

Há de se perguntar: o que pretende Roberto Rocha com essa espécie de fogo amigo? Por que disputar a prefeitura de São Luís, se ele tem oito anos de mandato assegurados como Senador da República, e nenhuma garantia de que sairá vitorioso das urnas? Qual a vantagem de trocar o Senado pela prefeitura de uma capital rica em problemas e carente de dinheiro? Vale a pena se indispor com os aliados, ficar mal visto no próprio partido que lhe serve de abrigo e, o que é pior, contrariar a orientação da liderança maior do grupo?

Em primeiro lugar, a atitude de Rocha é um recado ao seu PSB, para mostrar que quem manda ali é ele, e não José Reinaldo, que vem chamando para si os holofotes, ao propor a idéia de um pacto político sem pé nem cabeça, e depois lançando Bira do Pindaré como pré-candidato à sucessão de São Luís. Depois, é importante entender o universo em que milita Roberto Rocha e a sua sede de poder.

Não é segredo para ninguém que o sonho dele é ser governador do Maranhão, projeto que imaginou colocar em prática já em 2014, mas teve que adiá-lo, em favor de Flávio Dino, seu colega de parlamento e interlocutor de longas datas, não porque tenha sido acometido de uma crise de desprendimento, mas por ver em Dino as condições ideais para derrotar o grupo Sarney. Foi uma estratégia, portanto, e não necessariamente um gesto de grandeza.

Dino e Roberto alinhavaram então o que seria o embrião de um projeto de oposição que levaria os dois, em tempos distintos, ao coração do poder. Dino chegou lá, Roberto caminhou na mesma direção. Ao se eleger senador, teve a metade do caminho percorrido. Daqui para frente precisa fortalecer suas bases, se quiser mesmo completar a jornada. Não precisa ser letrado em política para entender o peso de São Luís numa eleição de governador. Não é que Roberto Rocha esteja interessado em ser prefeito da capital, isso é secundário. Mas é importante ter um prefeito aliado, ou ao menos uma liderança de peso.

Neste sentido, sua pré-candidatura assume ares de um balão de ensaio. Aquela coisa do “se colar, colou”. Caso suas pretensões ganhem forma e ele vença o pleito, ótimo. Mas o que ele deseja mesmo é tirar Edivaldo Holanda Junior do seu caminho, que seria uma ameaça ao seu projeto político, porque o prefeito dificilmente o apoiaria numa eventual disputa para o Palácio dos Leões.

Edivaldo, certamente fecharia com Flávio Dino. Mas e Eliziane, para onde iria? Aqui é que a onça desce ao bebedouro. Com as rédeas do PSB sob seu controle, ele leva o partido para onde quiser em um eventual segundo turno em São Luís. Nesta premissa, Eliziane Gama seria o nome de sua preferência. Preterida por Flávio Dino em 2012, e pouco prestigiada pelo atual governo, Eliziane trocaria Roberto por Flávio em 2018? Talvez, sim; talvez não. São as nuances do jogo político. Olhando a partir do momento atual, ela fecharia com o senador.

Alguém pode perguntar: Roberto Rocha tem peito para romper com Flávio Dino? Em política, as operações nunca seguem uma lógica matemática. Dois mais dois nem sempre é igual a quatro. Ao lançar-se pré-candidato para 2016, na verdade Roberto Rocha está dizendo que deseja disputar as eleições de 2018 para valer, com ou sem Flávio Dino na jogada.

Se isso vai se confirmar ou não, é outra história. Depende de uma conjunção de fatores. O próprio Flávio Dino pode abrir mão da vaga, em troca de algo maior que ele acalenta em silêncio. Hoje o governador do Maranhão é um nome festejado dentro e fora do Estado. Ganhou projeção nacional. O Brasil, com o PT e o PSDB desgastados, anseia por sangue novo na política, algo fora desse eixo binário de poder. Daí para frente dá para imaginar o que poderá vir.

Certo supor é que Roberto Rocha deu início aos preparativos para as eleições de governador, e como 2018 está interligado com 2016, não fica muito difícil prever a motivação dos seus passos de agora. Pode ser que ele nem entre verdadeiramente na disputa pela prefeitura de São Luís. Pode ser que o PSB nem tenha candidato próprio. O que é correto é que o partido – leia-se Roberto Rocha – procura uma alternativa a Edivaldo Junior, e hoje o único alvo tangível é Eliziane Gama.

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