Rendimento da poupança perde para a inflação
NATÁLIA CACIOLI – O ESTADO DE S.PAULO
SÃO PAULO – O brasileiro que investiu na caderneta de poupança em 2015 perdeu 2,35% do seu poder de compra, uma vez que a rentabilidade desse tipo de investimento alcançou 8,07%, ante uma inflação de 10,67% no ano passado, segundo dados do IPCA divulgados nesta sexta-feira. Essa é a primeira vez que a poupança perde da inflação desde 2002 e é o segundo pior desempenho desde o início do Plano Real.
Esse cenário de baixa rentabilidade, aliado ao aumento do desemprego e à queda da renda, fez com que o volume de saques da poupança superasse o de aplicações em R$ 53,568 bilhões em 2015, a maior saída líquida de recursos em 20 anos. Com isso, o patrimônio da aplicação caiu pela primeira vez na história.
O administrador de investimentos Fabio Colombo aponta que o rendimento da poupança só superou o da Bolsa de Valores, que registrou queda de 13,31% em 2015. Com a taxa básica de juros (Selic) atualmente em 14,25%, o mercado de renda fixa ficou mais atrativo.
A remuneração da caderneta, por sua vez, é formada por uma taxa fixa de 0,5% ao mês mais a Taxa Referencial (TR) – esse cálculo vale para quando a Selic está acima de 8,5% ao ano. Quando está abaixo desse patamar, a rentabilidade da poupança passa a ser de 70% da Selic, mais a TR.
Já a rentabilidade de fundos de renda fixa ficou em 13,49% em 2015, enquanto títulos do governo indexados ao IPCA renderam 17,66%. Mesmo com a incidência do Imposto de Renda, o investimento nessas modalidades é muito mais vantajoso do que a poupança (veja tabela com o ranking abaixo).
“O resultado da poupança no ano tem basicamente duas explicações, e uma delas é que os investidores maiores – que não são muitos – estão saindo da caderneta para investir em outros produtos”, diz Colombo. A outra explicação, segundo ele, é a situação econômica do País, com a piora do mercado de trabalho e a alta dos preços obrigando muitos brasileiros a usar o dinheiro investido para honrar compromissos do dia a dia.
Contrariando o resultado de todos os meses do ano, dezembro foi o único em que os depósitos superaram os saques na poupança. Para o coordenador do laboratório de Finanças do Insper, Michael Viriato, isso é resultado do pagamento do 13º salário e mais um indicativo de que a crise econômica está pesando na vida dos brasileiros.
Segundo Viriato, isso indica que, apesar da baixa rentabilidade, a poupança ainda é a primeira opção do brasileiro. “Falta educação financeira para buscar alternativas melhores”, diz. De acordo com o Banco Central, a poupança tem 137,4 milhões de clientes. Como base de comparação, o número de investidores cadastrados no Tesouro Direto atingiu 604,3 mil no ano passado, quando superou, pela primeira vez, a quantidade de investidores na Bolsa.
Alternativas. Para quem deixa o dinheiro na poupança sob a justificativa de que pode sacar a qualquer hora, é preciso prestar atenção: caso a retirada não seja feita na data de aniversário da aplicação, o investidor perde o já baixo rendimento.
Por isso, especialistas indicam outros produtos de renda fixa para quem tem um perfil conservador, como o CDB. Nesse caso, é importante negociar a taxa do CDI, que irá remunerar a aplicação. Segundo o administrador Fabio Colombo, taxas superiores a 90% do CDI já começam a ficar vantajosas.
“É importante lembrar que, quanto maior a aplicação, maior a taxa. E bancos médios pagam mais”, explica. Ele alerta ainda que é importante se informar com o banco sobre a liquidez, que varia de acordo com o CDB.
Os fundos DI, segundo Colombo, também são uma boa opção no mercado de renda fixa. O primeiro passo é procurar quais fundos o banco escolhido oferece e qual á a taxa de administração, que deve ser, preferencialmente, menor do que 1,5%.
Essas aplicações, diferentemente da poupança, têm cobrança de Imposto de Renda. O tempo de aplicação vai definir a alíquota: se o dinheiro for resgatado até seis meses, a taxa é de 22,5%. Acima de dois anos, cai para 15%. É preciso se informar também sobre o investimento mínimo requerido para cada aplicação. No Tesouro Direto, por exemplo, apenas R$ 30 são suficientes para começar a comprar títulos do governo.
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