Quem é Roland Montenegro, médico maranhense que morreu em queda de avião
O médico maranhense Roland Montenegro Costa, de 70 anos, morreu no acidente aéreo, em Barcelos, no Amazonas, nesse sábado (16/9). O avião em que ele estava caiu. Além dele, outras 13 pessoas também morreram. Eles faziam parte de um grupo de pescadores esportivos.
Roland é aposentado do Hospital de Base do Distrito Federal e referência em cirurgia do aparelho digestivo, considerado pioneiro dos transplantes na capital federal. Além disso, exerceu a função de professor de ensino em cirurgia geral na unidade de saúde. Ele ainda atendia em consultório particular e operava em alguns hospitais de Brasília.
O médico nasceu em Viana (MA) e formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Maranhão, em 1978. Ele fez residência médica em cirurgia geral no Hospital de Base do Distrito Federal, de 1979 a 1981. Em busca do aperfeiçoamento na carreira, foi estagiário em Cirurgia Geral no Hospital Klinikum Steglitz, da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, de 1987 a 1988, e fellow em transplante de órgãos abdominais pela Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, nos Estados Unidos, de 1991 a 1993. Exerceu também a função de professor de ensino em Cirurgia Geral do Hospital de Base do Distrito Federal.
Gutemberg Fialho, presidente do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal, lamenta e confirma a morte do cirurgião. Tanto ele como as demais vítimas estavam no local para a prática de pesca esportiva. Roland era médico cirurgião do aparelho digestivo, pioneiro dos transplantes em Brasília.
O dono do clube de pesca para o qual o médico se dirigia, Anízio Marreco, conta que há mais de 20 anos Roland frequentava a cidade de Barcelos para a prática do esporte. “Ele vinha todos os anos, era um cara que gostava muito da pesca”, relata.
Entre 1991 a 1993, Rolland morou e trabalhou nos Estados Unidos, em Pittsburgh, estado da Pensilvânia, no maior centro de transplante multiorgânico da América do Norte, concluindo ali o treinamento em transplante hepático.
Entre 2000 e 2011, assumiu a chefia da Unidade de Cirurgia do Hospital de Base do Distrito Federal, oportunidade em que criou e liderou uma equipe multidisciplinar de transplantes, que lhe permitiu realizar, com êxito, o primeiro transplante de fígado em Brasília.
Pai de quatro filhos, Roland coleciona em seu currículo homenagens diversas, como o “Diploma de Mérito Policial Civil Presidente Juscelino Kubitschek”, recebido em 2003; o título de “Cidadão Honorário de Brasília”, em 2006; e de “Melhores da Medicina do Brasil”, em 2007.
Ao longo dos 45 anos de atuação médica, Roland se tornou referência na capital e inovou a medicina com técnicas para tratar pacientes com tumores no fígado e pâncreas. Em 2006, por exemplo, utilizou uma técnica incomum para extrair um tumor do fígado de uma mulher, de 52 anos, que havia sido desenganada por outros médicos.
“Foi utilizado muito conhecimento que a experiência do transplante nos trouxe. O risco de morte tornava quase proibitivo seguir com a cirurgia, mas julgamos que conseguiríamos manter as estruturas vitais para garantir a sobrevivência da paciente”, detalhou o médico Lúcio Lucas, 53 anos, que participou do tratamento dessa paciente, ao lado de Roland.
Em setembro de 2005, Roland também impressionou ao retirar um facão de 25cm de comprimento do pescoço de um pedreiro. A lâmina estava próxima à aorta mas o médico conseguiu salvar a vida do paciente, em cirurgia que durou duas horas.
As habilidades de Roland renderam à medicina uma nova técnica para cirurgia no pâncreas, que levou o sobrenome dele. A técnica de Montenegro para anastomose pancreato gástrica foi descrita em 2005 e apresentada no Congresso Europeu da Sociedade Internacional de Cirurgia Hepato-Pancreatobiliar, em Heidelberg, na Alemanha.
Nos casos de retirada de tumor no pâncreas, a reconstrução do órgão após o procedimento envolve diversas dificuldades. Cerca de 25% dos pacientes apresentam complicações, mas, com a técnica desenvolvida por Roland, essa estatística diminuiu drasticamente. “Pela técnica de Montenegro essa reconstrução do pâncreas passou a apresentar cerca de 5% de complicações”, disse Lúcio.
Lúcio revelou que Roland foi um dos primeiros cirurgiões do Brasil a ir buscar especialização em transplantes fora do país. O cirurgião se aperfeiçoou na profissão em temporadas na Alemanha e nos Estados Unidos. Em 1987, ele foi estagiário em Cirurgia Geral no Hospital Klinikum Steglitz, da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha e, anos mais tarde, entre 1991 e 1993, fez fellow em transplante de órgãos abdominais pela Universidade de Pittsburgh, na Pensilvânia, nos Estados Unidos.
“Ele era uma pessoa muito especial e vou lembrar dele como uma pessoa de extrema habilidade, sempre foi uma pessoa com muito conhecimento, sempre ajudou os profissionais mais novos”, contou Lúcio, com a voz embargada.
Pesca esportiva
Os turistas que morreram a bordo do avião estavam no Amazonas para a prática da pesca esportiva. A informação foi revelada pelo secretário de Segurança Pública do Amazonas, Vinícius Almeida, durante coletiva de imprensa realizada na noite de hoje.
A aeronave havia saído de Manaus com destino a Barcelos, a cerca de 400 km da capital do Amazonas. Ainda não sabe a causa da queda, mas chovia no momento do acidente. No total, 14 pessoas morrreram, sendo 12 turistas, o piloto e o copiloto.
Além disso, o secretário ressaltou que os relatos são de que não teria havido pista suficiente para efetuar o pouso da aeronave no aeroporto de Barcelos, mas uma conclusão oficial depende das investigações. “O relato é de que não teve pista (suficiente) para pousar”, detalhou.
Almeida acrescentou que, a princípio, todos os passageiros eram turistas. Eles estavam no Amazonas para a prática de pesca esportiva, o maior atrativo de Barcelos (AM), destino final do vôo. Nesse esporte, o objetivo é pescar o peixe por diversão e, então, devolvê-lo à natureza, vivo.
O acidente
O avião em que as vítimas estavam saiu de Manaus com destino a Barcelos. Durante o pouso, chovia bastante. Segundo o governador do estado, Wilson Lima, o piloto teria “errado o traçado da pista” e batido em alguma estrutura do aeroporto.
— Ele deve ter tocado o solo numa parte mais barrenta, e não havia as condições necessárias. Em tese, foi um pouso frustrado — afirmou.
A aeronave é um bimotor turboélice do modelo EMB-110 “Bandeirante”, da Embraer, e tinha capacidade para 18 passageiros. Segundo o registro da Agência Nacional de Avição (Anac), tinha operação permitida para táxi aéreo. O aeroporto local não permite pousos e decolagens depois do pôr do sol.
O coronel Vinícius Almeida, secretário de Segurança Pública do Amazonas, afirmou que há informações extraoficiais de que, antes do acidente, duas outras aeronaves optaram por regressar a Manaus porque a segurança do aeroporto de Barcelos não permitiu o pouso. A chuva em Barcelos também provocou falta de energia elétrica na cidade e a comunicação está prejudicada.
Translado dos corpos
Os corpos ficarão no auditório de uma escola, porque a cidade não conta com estrutura de câmaras frias em um Instituto Médico Legal. Uma equipe da Força Aérea, com peritos e um delegado, irá na manhã deste domingo até o local da ocorrência para começar a apuração das causas do acidente. Todos os aspectos serão abordados, desde o funcionamento da aeronave até o comprimento da pista, o vento e as condições climáticas da hora da queda.
A identificação das vitimas será feita por meio das digitais, mas não estão descartados outros exames, como o da arcada dentária. O governo do Amazonas recebeu da empresa de táxi aéreo uma lista com os nomes dos passageiros que, em tese, embarcaram na aeronave, mas só divulgará oficialmente a identidade das vítimas após a finalização do trabalho da polícia científica. (Com informações do Metrópoles, O Globo e Correio Braziliense)
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