PT pressiona e firma candidaturas ao governo em estados que PSB vê como estratégicos
Depois de lançar nomes para governador em três estados apontados como prioritários pelo PSB, o PT ensaia fazer o mesmo movimento no Rio, onde o partido até o momento afirma que apoiará a candidatura do deputado federal Marcelo Freixo (PSB). Em São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco, os petistas já têm pré-candidatos, e cogitam ir pelo mesmo caminho no Espírito Santo, o que dificulta a aliança nacional entre as legendas na disputa presidencial e impede a formação de uma federação partidária.
Embora diga em público que é pré-candidato ao Senado, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), André Ceciliano (PT), vem se movimentando e angariando apoio para uma candidatura ao Palácio Guanabara. Na última quarta-feira, o tema foi abordado em almoço do deputado estadual com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que hoje afirma publicamente apoiar o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz (PSD), para enfrentar o governador Cláudio Castro (PL).
Paes já convidou Ceciliano no ano passado para ingressar no PSD e ser o candidato ao governo do Rio pelo seu partido com apoio de Lula. O GLOBO apurou que no encontro em dezembro do grupo Prerrogativas, em São Paulo, quando Lula e Geraldo Alckmin foram fotografados pela primeira vez juntos desde que a chapa unindo os dois começou a ser costurada, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, questionou Ceciliano sobre a negociação com Paes. O presidente da Alerj, contudo, negou que vá deixar o PT.
Desde então, porém, Ceciliano parou de dizer categoricamente a interlocutores que jamais será candidato a governador.
Seus aliados e de Paes consideram que o jogo eleitoral pode mudar no Rio se Gilberto Kassab, presidente do PSD, desistir da candidatura à Presidência da República do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), e apoiar Lula já no primeiro turno. Por um acordo que englobe um palanque no Rio, Paes já deixou claro ao PT nacional que não apoiará Marcelo Freixo para governador, mas Ceciliano poderia ser uma opção.
Enquanto isso, Freixo reforça sua candidatura cacifado pelas conversas recentes que teve com Lula, em que recebeu promessa de apoio do ex-presidente, e na boa relação com integrantes do PT nacional, especialmente o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Endossado pelo partido, o deputado deixou o PSOL, contratou o marqueteiro Renato Pereira e tem feito uma série de movimentos políticos em direção a uma imagem mais moderada, como ir a um culto do Ministério de Madureira da Assembleia de Deus, aliada do presidente Jair Bolsonaro.
Lula faz vista grossa
O movimento recente no Rio se junta ao de outros estados onde o PSB tem nomes viáveis para concorrer, mas ainda assim o PT tem anunciado candidatos próprios. Lula, até aqui, não tem se movimentado para impedir esses movimentos regionais do PT.
O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, afirmou ao GLOBO no fim do ano passado que poderia desistir do apoio do PT em outros estados, mas enfatizou que não cederia em São Paulo e Pernambuco, onde o partido comanda o governo desde 2007.
No estado nordestino, o PT confirmou a candidatura do senador Humberto Costa, enquanto os socialistas não definem quem será seu nome. Considerado um candidato natural à sucessão de Paulo Câmara, o ex-prefeito de Recife Geraldo Júlio já informou que não pretende concorrer.
Dirigentes do PT dizem que o partido pode conseguir chegar a acordo com o PSB em todos os estados, mas que a situação é absolutamente inegociável em São Paulo, onde a sigla lançou Haddad, que aparece bem colocado nas pesquisas de intenção de votos para o Palácio dos Bandeirantes. Siqueira, por sua vez, diz que não pretende retirar a candidatura de Márcio França.
— O PT pode até abrir mão de candidatura no Rio, Rio Grande do Sul, Espírito Santo e Pernambuco. Mas em São Paulo a chance é zero. Se a federação (partidária) depender disso, não vai sair — disse o ex-ministro Luiz Marinho, presidente do PT em São Paulo.
Federação em risco
Líderes do PSB também veem em risco a chance de formar uma federação com os petistas. Segundo eles, a dificuldade de se chegar a uma equação em palanques estaduais antecipa um cenário difícil nas eleições municipais, em que os dois partidos precisariam negociar candidatos em mais de 5 mil municípios caso virem uma federação.
Apesar da união de quatro anos entre as legendas estar mais difícil, dirigentes consideram que o apoio a Lula está consolidado e avaliam como praticamente impossível uma junção com o PDT do presidenciável Ciro Gomes.
Travada pela falta de acordo nos palanques estaduais, a aliança de PT e PSB envolveria ainda a filiação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin ao partido socialista. No entanto, petistas lembram que, no limite, Alckmin pode ser vice na chapa de Lula estando filiado a outro partido — ele recebeu convites, por exemplo, do Solidariedade e do PV, mas as conversas com o PSB seguem avançadas.
Se o impasse maior está em São Paulo e em Pernambuco, a situação também não é tranquila no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo. No primeiro, o PSB cobra apoio ao ex-deputado federal Beto Albuquerque, mas o PT lançou a pré-candidatura do deputado estadual Edegar Pretto (leia mais detalhes abaixo). No Espírito Santo, os petistas acabam de filiar o senador Fabiano Contarato. Ele tem planos de disputar com o atual governador Renato Casagrande (PSB), candidato à reeleição.
‘Vamos caminhando com duas candidaturas’, diz Pretto
O Rio Grande do Sul é um dos estados em que o PT admite abrir mão de uma candidatura própria em nome de uma aliança nacional com o PSB. Enquanto o acordo não é firmado, no entanto, o deputado estadual Edegar Pretto (PT) está tocando sua campanha. Embora se mostre aberto a uma composição com o ex-deputado federal Beto Albuquerque (PSB), ele diz que a decisão pode ser tomada mais à frente e que é preciso ver o “tamanho” e a “história” de cada sigla.
— Constituiu-se uma unanimidade da nossa bancada federal e estadual em torno do meu nome. Governamos o estado duas vezes, e estou recebendo essa tarefa. Podemos liderar a formação desse palanque — diz.
Segundo petistas, além de ter sido o quarto deputado mais votado da Assembleia gaúcha nas últimas eleições, Pretto aparece bem colocado nas pesquisas locais e com mais chances de vencer Onyx Lorenzoni, ministro do Trabalho e Previdência, que deve se filiar ao PL. O otimismo do partido, no entanto, esbarra na candidatura de Albuquerque.
Ao GLOBO, o socialista, que foi vice de Marina Silva (Rede) nas eleições de 2014, disse que não pretende abrir mão da disputa ao governo.
— Minha candidatura é irreversível — afirmou o parlamentar.
Questionado se retiraria seu nome do pleito, Pretto não respondeu que sim nem que não, mas disse que não faltará esforço para construir uma frente entre PT e PSB. Segundo ele, quem está com disposição para dialogar “não pode dizer que a candidatura é irreversível”, como fez Albuquerque.
Ainda de acordo com Pretto, é preciso olhar para “a história”, “tamanho dos partidos” e para quem tem melhor condição de formar um palanque para a candidatura de Lula à Presidência. Enquanto o PT já governou o Rio Grande do Sul duas vezes, com Tarso Genro e Olívio Dutra, o PSB nunca ganhou uma eleição no estado. Os petistas também levam vantagem no Legislativo estadual, com uma bancada de oito parlamentares, contra três dos socialistas.
— Vamos caminhando com as duas candidaturas e deixar para conversar lá na frente. Se depender de nós, não faltará esforço — disse Pretto.
Outro entrave para a união é o o apoio dos deputados socialistas ao governador Eduardo Leite (PSDB).
Além de Onyx, a eleição no Rio Grande do Sul deve ter outro representante do bolsonarismo: o senador Luis Carlos Heinze (PP). Pedro Ruas vai concorrer pelo PSOL. O vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB) disputa a sucessão com o apoio de Leite, que perdeu as prévias para a Presidência e não deve concorrer à reeleição. O Globo
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