Propina do PT bancou campanha de aliado em El Salvador
Ex-primeira dama de El Salvador e militante do PT desde os anos 80, Vanda Pignato intermediou, segundo a Odebrecht, o pagamento de R$ 5,3 milhões de caixa dois feito pela empreiteira à campanha de Mauricio Funes, na época seu marido e candidato à Presidência da República do país centro-americano.
O relato faz parte do acordo de delação premiada de executivos da empresa assinado nesta semana por 77 executivos do grupo empresarial baiano.
O dinheiro, segundo delatores, foi pago em 2008 pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana, que comandou a comunicação da campanha que elegeu Funes em março do ano seguinte.
O montante foi descontado do caixa do PT junto à empreiteira no qual eram feitos pagamentos de valores ilícitos, segundo disseram os delatores às autoridades.
De acordo com eles, o abatimento teve a autorização do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ligado a Funes e Vanda Pignato.
Um ex-sócio do marqueteiro afirmou à Folha que Santana confidenciou que fez o trabalho a pedido do PT.
Aos procuradores, a Odebrecht relatou que foi Vanda quem acertou os R$ 5,3 milhões com a alta cúpula do PT, devido à sua proximidade com a legenda.
Brasileira, a ex-primeira-dama é hoje secretária de inclusão social do governo de El Salvador, pasta que tem status de ministério.
Separada de Funes desde o ano passado, Vanda começou a militar no PT nos anos 1980, chegando a representar o partido na América Central, quando já morava naquele país. Ela se desfiliou da sigla em 2010.
O episódio esclarece um item da planilha “POSICAO ITALIANO310712MO.xls” encontrada pela Polícia Federal nos arquivos do ex-funcionário da Odebrecht Fernando Migliaccio.
No documento apreendido pela PF, com discriminação de repasses a “Feira”, codinome de Santana na empreiteira, aparece: “Evento El Salvador via Feira 5.300”.
Investigadores da Lava Jato concluíram que a planilha tratava de valores ilícitos pagos pelo Setor de Operações Estruturadas, a área de pagamento de propinas da Odebrecht, negociados com o ex-ministro Antonio Palocci, apelidado de “Italiano”.
Segundo a investigação, Palocci era o principal administrador do caixa do PT junto à empreiteira.
APOIO
O ex-presidente Lula foi um dos principais apoiadores de Funes durante a campanha presidencial do salvadorenho.
O petista tinha interesse na eleição de aliados de esquerda na América Latina e, por isso, indicou Santana –seu marqueteiro de confiança e que comandou campanhas sua e de sua sucessora, Dilma Rousseff– a Funes.
O mote da vitória presidencial do salvadorenho foi, inclusive, o mesmo usado pelo brasileiro em 2002: “A esperança venceu o medo”.
Após a vitória de Funes, o então presidente brasileiro enviou o Gilberto Carvalho, seu principal assessor, para passar cinco dias em El Salvador e contribuir no processo de transição do novo governo do país.
Em seu discurso de posse, em junho de 2009, Funes citou Lula como “exemplo a ser seguido” e disse que implementaria em El Salvador diversos programas sociais baseados em bandeiras da administração do PT, como o Bolsa Família.
Durante a campanha, Funes viajou diversas vezes ao Brasil, retornando após a conquista da Presidência.
Após a vitória, encontrou-se com Lula e apontou o brasileiro como sua principal referência política.
Recentemente, Funes, que foi presidente até 2014, recebeu asilo político na Nicarágua, após alegar sofrer perseguição política.
Ele é investigado em El Salvador por desvio de dinheiro público e enriquecimento ilícito durante seu período à frente do Executivo do país. (Folha de SP)
O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.