Presidente Sarney é a cidade com a pior colocação no Bem-Estar Urbano
Quem chega ao município de Presidente Sarney (MA) se depara logo com as vias mal pavimentadas, o lixo espalhado e até pendurado em árvores –sinal inequívoco da coleta deficiente– e o esgoto que corre a céu aberto, espalhando mau cheiro.
São problemas desse tipo que fizeram a cidade ficar em último lugar no recém-divulgado Ibeu (Índice de Bem-Estar Urbano), calculado pelo Observatório das Metrópoles, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. O índice usa dados do censo de 2010 para classificar os 5.565 municípios do país segundo a infraestrutura urbana de que dispõem.
Sem rede de esgoto e com um sistema de abastecimento de água irregular (instalado em 2010), os quase 20 mil habitantes da última colocada se valem de fossas sanitárias e de poços artesianos. A cidade está numa região alagadiça, a Baixada Maranhense, a cerca de 200 km de São Luís, e, no período das chuvas (de janeiro a julho), é comum as fossas encherem.
Quando isso acontece, quem pode contrata, por R$ 100, limpa-fossas da cidade vizinha, Pinheiro –da qual Presidente Sarney se emancipou em 1997, usando a homenagem ao mais célebre político do Estado como trunfo. O esgoto que os caminhões recolhem nas casas é despejado no riacho do Pimenta.
“Todo mundo tomava banho aqui, é o rio que deu origem à cidade. Hoje ninguém pode mais usar”, diz o estudante Cleilson Araújo, 20. As vias que levam ao centro da cidade não são asfaltadas e têm iluminação escassa. A poucos metros do local de despejo de esgoto, um descampado faz as vezes de aterro sanitário. Só não está mais cheio porque os dejetos foram coletados na semana em que a Folha visitou a cidade.
SEM SURPRESA
A notícia da desonrosa posição de Presidente Sarney no Ibeu não tardou a chegar aos habitantes, às vésperas do primeiro turno das eleições. Ela foi usada pela candidata vitoriosa, Valéria Castro (PC do B), mas não há consenso –nem entre políticos nem entre a população– sobre seu impacto no resultado.
Nenhum dos moradores ouvidos pela Folha se surpreendeu com a identificação, pelo Ibeu, das más condições de sua terra. Mas todos citaram cidades que, segundo eles, estariam ainda piores. “Eu sabia que Presidente Sarney não estava num momento bom, mas não que estava péssimo. Para mim foi surpresa ser a última colocada”, disse a futura prefeita.
Valéria foi eleita por uma diferença de 278 votos –teve 4.483 eleitores, do total de 14.575. Venceu o candidato do atual prefeito, Edson Chagas (PMDB), que está em seu segundo mandato consecutivo. Os grupos políticos de ambos alternam-se no poder. “Nosso município é um dos mais prósperos do Brasil. Eu contesto esse índice, é inverdade. O senhor foi em outras cidades? Essa visita foi direcionada”, afirmou.
Ele admite, no entanto, dificuldades orçamentárias que se refletem nos serviços públicos –e também no pagamento dos salários do funcionalismo, que está atrasado. A cidade vive do Fundo de Participação dos Municípios. Seu orçamento previsto para 2016 é de R$ 63 milhões.
Seus habitantes ou estão empregados pela prefeitura ou vivem da venda de areia e de peixes, extraídos do rio Turiaçu, que chamam de Turi. “Presidente Sarney não arrecada um centavo, vive exclusivamente dos repasses da União. Ser prefeito é um sofrimento, porque a renda é irrisória”, diz Chagas.
A seu favor, ele pode argumentar que estudos que usam métricas diferentes do Ibeu têm outros resultados. No Índice de Desenvolvimento Humano dos Municípios, que leva em consideração renda, longevidade e educação, Presidente Sarney se sai um pouco melhor: fica na 5.098ª posição.
No Ranking de Eficiência dos Municípios, da Folha, que mostra quais cidades entregam mais saúde, educação e saneamento com menos recursos, a cidade está em 1.725º lugar. Sua administração é classificada como tendo “alguma eficiência”.
O que falta em infraestrutura na cidade parece sobrar em fé para seus moradores –a reportagem viu ao menos seis tipos diferentes de igrejas. Dos políticos, não parecem esperar grande coisa. “Não temos escola boa, não temos saneamento básico, lugar para praticar esporte. Qualquer obra que inauguram é ótimo, porque não tinha nada. Ficamos à mercê disso”, diz Cleilson. (Folha de SP)
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