Por que as eleições municipais não repetirão polarização PT-Bolsonaro
Desde as eleições de 2018 o Brasil vive um cenário de polarização gritante, agravado pelas redes sociais. A expectativa, no entanto, de que essa guerra virtual – protagonizada principalmente entre petistas e bolsonaristas – deixasse o campo cibernético, e se transpusesse para a vida real durante a campanha eleitoral deste ano, está sendo frustrada.
A força de esquerdistas ou apoiadores bolsanaristas que se vê nas telas é abafada nas ruas pela existência de um fenômeno que, apesar de todas as revoluções, permanece firme: o predomínio das questões locais quando o assunto é a eleição municipal.
Isso ocorre porque o sistema político nacional é muito diferente dos sistemas políticos regionais. Tem partidos que são relevantes no cenário nacional, e nem existem nos estados. Fato é que o sistemas partidários estaduais se estruturam a partir de forças locais e elas são diferentes das nacionais.
Na realidade, as eleições municipais dificilmente conseguem repetir as disputas de forças no cenário nacional porque cada cidade tem a sua história, a sua tradição. Outro fator novo que tem contribuído, além da pandemia, é a proibição de coligações nas eleições proporcionais.
Sem a possibilidade de se aliar para maximizar bancadas, os partidos são incentivados a lançar candidatos a prefeito, se puderem. Com isso, aumentou o número de candidatos municipais, dificultando a formação de dois blocos dominantes e a polarização no primeiro turno.
Mas essa não seria a única razão. Bolsonaro, que poderia demonstrar mais protagonismo diante do descrédito do PT pelos casos de corrupção que levaram à prisão do ex-presidente Lula, é um frágil cabo eleitoral pela ausência de uma estrutura organizada ligada a ele. Candidatos que tentam se colar na figura do presidente o fazem mais por oportunismo do que por semelhanças ideológicas, ou mesmo pela estrutura local criada pelas poucas legendas com pautas bolsonaristas.
Outro motivo é a vitória incidental do presidente, que acabou levando o pleito de 2018 muito mais por falta de opção do eleitorado do que por uma conquista real de adeptos. Bolsonaro não tem uma estrutura organizada e é o que os especialistas chamam de governante incidental. Ele foi eleito por uma conjunção de fatores única, não porque representava uma força que vinha se constituindo.
Em 2020, os partidos de centro tem saído na frente nas capitais. No Rio de Janeiro, Marcelo Crivella foi eleito em 2016 sem Bolsonaro. Apoiado pelo presidente neste ano, tem ido mal nas pesquisas. A polarização PT-Bolsonaro não tem se repetido na capital carioca, e o mesmo acontece em São Paulo, em Salvador, em Porto Alegre, em Goiânia, em Curitiba e em Florianópolis.
Um dos principais pontos a serem observados pelo eleitor em 2020 é o comportamento do candidato durante a pandemia. Em Belo Horizonte, por exemplo, Alexandre Kalil, do PSD, vem despontando nas intenções de voto devido à sua conduta durante a crise provocada pelo coronavírus. A população aprova as medidas tomadas em Belo Horizonte durante o período mais grave de isolamento.
Neste quesito, Bolsonaro foi exemplo de como não se comportar: provocou aglomerações, não respeitou a determinação do governo do Distrito Federal quanto ao uso de máscaras, minimizou a Covid-19, chamando de “gripezinha”, entre outras atrocidades. Resta saber se o brasileiro terá memória suficiente para relembrar esses fatos e transferi-los para as urnas também em 2022. Por Matheus Leitão, da Veja
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