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Por ora, Juscelino Filho permanece no cargo

Em meio aos percalços da articulação política, o Palácio do Planalto e o União Brasil avançaram na negociação para a troca da ministra do Turismo, Daniela Carneiro, pelo deputado Celso Sabino, ambos representantes do partido. Sem entregar votos no Congresso e de saída da legenda, ela pode, nos próximos dias, dar lugar ao aliado do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Além dessa movimentação, o governo prepara uma reforma em outras duas etapas, com o objetivo de atrair PP e Republicanos para a base.

Com a entrada de Sabino, o governo espera amarrar a maioria dos 59 votos do União Brasil na Câmara. Além do Turismo, a legenda tem atualmente outros dois ministérios: Comunicações (Juscelino Filho) e Integração Nacional (Waldez Góes). As três indicações foram avalizadas pelo senador Davi Alcolumbre (AP), e a bancada de deputados da Câmara não se sente contemplada.

Como mostrou levantamento do GLOBO, o União Brasil entrega menos votos ao Planalto na Câmara dos Deputados do que partidos como PP e Republicanos. O índice de adesão de obediência do União às orientações do governo é de 54%. Em comparação, o PP, partido de Lira, tem índice de 56% e o Republicanos, 58%. Em uma reunião com ministros nesta semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que mexerá na cota do União no governo. Após a turbulência na votação da Medida Provisória (MP) dos Ministérios, Lira disse a interlocutores que não pautaria mais temas de interesse do governo enquanto não houvesse ajustes na relação com o Congresso.

No seu grupo político, Daniela é tratada como escolha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pois abriu palanque ao petista na Baixada Fluminense durante a campanha ao lado do marido, Waguinho, prefeito de Belford Roxo. O prefeito se reuniu com o ministro Alexandre Padilha nesta terça-feira. Em uma conversa tensa, se queixou da forma como Sabino tem se movimentado para assumir o cargo da esposa, cobrou gratidão do governo pelo apoio na campanha e disse que a saída da ministra deixaria o governo sem os votos da bancada do União no Rio.

— Quem tem gratidão não atinge seus aliados — disse Waguinho ao GLOBO, após a reunião.

Daniela e Juscelino são considerados os ministros mais suscetíveis a serem substituídos em uma troca de ministros. Porém, assim como Waldez, Juscelino é indicado de Davi Alcolumbre (AP) e tem a salvaguarda do Centrão, que enviou recados ao Planalto que não apoiaria a saída dele.

Segundo integrantes da cúpula e da bancada federal do União, já há maioria entre parlamentares para forçar a saída de Daniela. De acordo com um auxiliar, Lula só deve, porém, bater o martelo na próxima semana. O presidente tem agenda em Pernambuco nesta quarta-feira, passará o feriado na base de Aratu, em Salvador, e só volta a Brasília no domingo.

No grupo de WhatsApp do União, mais de 40 deputados manifestaram apoio a Celso Sabino, considerado um bom interlocutor de Lira e das demais forças do Centrão. A aliados, tanto o presidente da sigla, Luciano Bivar (PE), quanto o líder da bancada, Elmar Nascimento (União-BA), reconhecem que Daniela Carneiro perdeu condições de representar a sigla. A ministra entrou em rota de colisão com o partido e se aproximou do Republicanos — a sigla, no entanto, também não se movimentará para que ela permaneça, ainda que consiga autorização do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para se filiar.

— Não temos compromisso com governabilidade. O partido seguirá independente — reforçou o presidente do Republicanos, Marcos Pereira.

Embora a turbulência de votações no Congresso tivesse gerado a expectativa de que as trocas de Juscelino Filho e Waldez Góes pudessem ocorrer, o ajuste do União só deve mesmo contemplar a saída da ministra do Turismo, segundo a avaliação de integrantes da articulação política do governo.

Próximos passos

Depois de mexer no União Brasil, o governo Lula quer atrair Republicanos e PP. Essas mudanças devem ficar para o segundo semestre. De acordo com um aliado, o presidente teria resistência em fazer uma reforma ministerial antes de o governo completar seis meses. No caso do Republicanos, o fator Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, é considerado um ponto sensível para a negociação, e o avanço dependerá do timing da sigla para que a entrada do partido não rache a legenda.

O Planalto quer um ministro que tenha condições de atrair a ala conservadora do partido e evite uma rebelião entre os bolsonaristas radicais.

A legenda tem 41 deputados. O governo também quer evitar que, após o movimento sacramentado, ocorra uma reação contrária do governador de São Paulo ou que haja estímulo a algum racha. As conversas com o governo já iniciaram. O principal interlocutor com o Planalto é o líder do Republicanos na Câmara, deputado federal Hugo Motta (PB).

Em uma terceira frente, o Planalto trabalha para atrair o PP, legenda de Arthur Lira e Ciro Nogueira. Neste caso, falta identificar qual espaço a sigla pediria e o que o Planalto estaria disposto a oferecer. Aliados de Lira já indicaram preferência pelo comando do Ministério da Saúde. O Planalto considera um preço alto, mas não impossível para ter apoio da sigla.

Articuladores do governo defendem que as trocas de ministros devem ocorrer em etapas para evitar uma reclamação generalizada por mais espaço em outras legendas aliadas, como PSD e MDB, em uma reforma ministerial. A estimativa é que a eventual entrada de PP e Republicanos na Esplanada poderá mexer no comando de até cinco ministérios, o que poderá fazer com que o PT perca espaço. A legenda do presidente é quem mais ocupa cargos no primeiro escalão, com o comando de nove dos 37 ministérios. (O Globo)

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