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PMDB: para onde vai?

Nonato Reis
Jornalista e escreve para o Jornal Pequeno aos Domingos

O PMDB do Maranhão parece uma foto que o tempo amarelou precocemente. De pilastra de sustentação do poder que ajudou a manter por anos a fio, dando as coordenadas e indicando caminhos, o partido de repente se transformou em uma caricatura. Perdeu a identidade, a lucidez e o norte. Não há voz de comando dentro da agremiação nem diretrizes. Acabou a noção de grupo. Agora o que predomina internamente é a máxima do “cada um por si e Deus por todos”.

O partido virou um amontoado de cartas, sem um vértice que as ligue entre si. Os cardeais da sigla mergulharam nas sombras, após a demolidora derrota nas urnas. A grande cabeça pensante, o ex-senador José Sarney, tem-se limitado a vociferar contra o desafeto Flávio Dino, em sua coluna dominical no jornal de propriedade da família, porém sem uma ação organizada, capaz de impulsionar uma resistência. Na verdade, Sarney, vaidoso como ele só, está muito mais interessado em exaltar os seus tempos de mando do que em juntar os estilhaços do que sobrou do seu grupo.

Roseana, outra voz importante no PMDB, permanece enfastiada da vida pública, curtindo as delícias de um recesso ou de uma aposentadoria precoce. A ex-governadora, aliás, é a grande responsável pelo esfacelamento do grupo. Tivesse concorrido a um mandato de senadora, ganharia uma sobrevida como líder do clã, reduziria o tamanho da vitória da oposição, manteria o grupo sob seu comando e seria a grande nome da oposição ao novo governo. Ela, porém, optou por uma a saída lateral, menos nobre.

Os demais expoentes do PMDB parecem igualmente fora de combate. Lobão pai recolheu-se ao ostracismo, fragilizado com a citação do seu nome na lista de beneficiados no buraco negro da Petrobras. Lobão filho, que andou ensaiando uma retomada para o cenário de 2016, deu um passo atrás, vencido pelas circunstâncias. João Alberto, que já se antevê sem os anéis, tenta encontrar um jeito de salvar os dedos. Seu mandato de senador termina em 2018 e ele sabe que não tem chance de se reeleger.

Sua saída é disputar uma cadeira de deputado federal em 2018 com chances não muito claras. Ou, antes disso, tentar a Prefeitura de Bacabal, numa peleja temerária e condicionada. Se optar pela primeira alternativa, tentará fazer de Roberto Costa o prefeito de sua terra em 2016. Costa que, aliás, ameaça cair nos braços de Flávio Dino, para não ter que abortar a sua carreira política.

Num cenário de inércia, em que todos ainda tentam absorver o golpe que apeou a dinastia do poder, restou a Ricardo Murad trovejar, naquele seu estilo “pai de todos”, a ensinar o que é certo e o que é errado, e até acenar com uma provável candidatura a prefeito de São Luís. Porém, sem carisma e capacidade de articulação, Murad corre o risco de pregar no deserto, como a própria filha, Andreia, no episódio das eleições para a Presidência da Assembléia.

O que alimenta um partido político é a sua ambição de poder, a perspectiva de ser governo ou dele vir a fazer parte, contribuir para o atendimento das demandas públicas. O PMDB perdeu de vista essa noção. Hoje ninguém sabe o que o partido quer nem para onde vai. Conseguirá ser oposição? Pretende alinhar-se a Flávio Dino? Terá candidato a prefeito em São Luís? Comporá com Edivaldo Holanda ou formará dobradinha com Eliziane Gama? Qual será o tamanho da sua diáspora?

De gigante o PMDB corre o risco de se ver reduzido a um biombo de ambições pessoais. A menos que os cardeais acordem e procurem reconstruir o leme do partido. A crise existencial que o acomete lembra o drama do PDT, após a perda de Jackson Lago. Só que no caso do PDT o vácuo de poder em que imergiu foi motivado por um golpe físico, que depois se projetou na alma do partido. No PMDB o vazio é de natureza puramente filosófica. Os líderes estão todos vivos e gozando de saúde. Falta-lhes, porém, a força motriz que impulsiona as idéias e as conquistas.

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