Pedro Novais pagou governanta com verba pública por 7 anos
Empregada de Pedro Novais recebia salário do Congresso como se fosse secretária
Mulher foi contratada como recepcionista do Turismo após deputado assumir a pasta; ele nega irregularidades
Andreza Matais, Dimmi Amora, de Brasília (Folha de São Paulo)
O ministro do Turismo, Pedro Novais (PMDB), 81, usou dinheiro público para bancar o salário da governanta de seu apartamento em Brasília.
O pagamento é irregular: foi feito de 2003 a 2010, quando Novais era deputado federal pelo PMDB do Maranhão.
A empregada Doralice Bento de Sousa, 49, recebia como secretária parlamentar na Câmara, nomeada por Novais.
A Folha apurou que ela não dava expediente no gabinete de Novais nem no escritório político no Estado de origem, precondições para o uso de verbas parlamentares para pagar assessores.
Dora fazia tarefas no apartamento de Novais: cozinhava, organizava a casa e chefiava a faxina das diaristas.
Ela dormia com alguma frequência na casa de Novais e acompanhava a família ao Rio, onde o ministro tem um apartamento, e ao Maranhão.
Dora e o ministro dizem que ela trabalhava em seu gabinete, e não no apartamento. Mas as informações foram confirmadas à Folha por duas pessoas que frequentavam o prédio de Novais.
Troca de Emprego
Uma secretária parlamentar da Câmara ganha de R$ 1.142 a R$ 2.284, dependendo de gratificações.
Dora foi exonerada em janeiro deste ano, tão logo Novais foi nomeado ministro e teve de trocar o apartamento da Câmara por um flat.
Mas ela não ficou desempregada. Foi contratada pela Visão Administração e Serviços, que recebe anualmente R$ 1,5 milhão do Turismo para fornecer mão de obra.
Dora virou recepcionista de um escritório que o ministério mantém em um shopping de Brasília.
Antes de trabalhar para Novais, Dora foi doméstica do ex-deputado Marcelo Barbieri (PMDB). Hoje prefeito de Araraquara (SP), ele disse que Novais o procurou para saber da empregada.
“Ele pediu referências dela, e eu dei. Disse que é uma pessoa boa, honesta. Fazia tudo, mas minha relação com ela era particular, não tinha nada a ver com a Câmara.”
O Ministério Público já denunciou por improbidade administrativa outros deputados que usaram verba pública para pagar domésticas.
A Justiça Federal abriu processo contra dois deles, que responderão por enriquecimento ilícito. Se condenados, podem perder o direito de disputar cargos públicos.
Em 2009, quando a Folha noticiou que os outros deputados haviam contratado domésticas com dinheiro parlamentar, Novais pediu para que Dora passasse a ir ao Congresso eventualmente.
Semanas depois, ela retomou a rotina exclusiva de tarefas no apartamento.
O uso indevido de dinheiro da Câmara é mais uma das denúncias contra Novais. Em dezembro, o “Estado de S. Paulo” revelou que ele usou a verba para pagar uma festa em um motel no Maranhão. Ele devolveu o dinheiro.
Em agosto, Novais balançou no cargo depois que a PF revelou irregularidades em convênios do Turismo com ONGs firmados a partir de projetos de deputados. Como revelou a Folha, uma emenda de Novais beneficiou uma empreiteira fantasma.
Outro lado
O ministro do Turismo, Pedro Novais, afirmou, por meio da assessoria de imprensa, que a servidora Doralice de Sousa trabalhou até dezembro no seu gabinete como secretária parlamentar.
Segundo a assessoria, a função de Dora era dar “apoio administrativo ao deputado e outros funcionários”.
Novais não respondeu por que Dora passava os dias no apartamento funcional.
O ministro confirmou que, desde maio, ela é funcionária de uma empresa terceirizada, a Visão Administração e Construção, que presta serviços ao Ministério do Turismo, mas não respondeu se partiu dele a indicação.
Doralice sugeriu à reportagem que procurasse o ministro. “Se vocês quiserem saber [o que eu fazia], vocês vão até ele.” Ela desligou o telefone antes do fim das perguntas: “Não tenho nada a falar. Não trabalhei na casa. Trabalhei no gabinete”.
O dono da empresa Visão, José Raimundo Silva, disse que seu contrato com o Turismo tem “cláusula de confidencialidade” e que não poderia revelar os nomes dos funcionários terceirizados.
Ele negou que tenha recebido pedido do ministro para empregar a ex-governanta. Silva afirmou que as pessoas são contratadas mediante currículo.
Questionado pela Folha se Doralice tinha experiência comprovada como recepcionista, porém, ele afirmou que “em alguns casos, o currículo não é considerado”.
A Visão funciona no Guará 2, cidade-satélite de Brasília. Não há placa na porta -segundo o dono do lugar, para não atrair a atenção dos concorrentes.
Memória
Em março e abril de 2009, a Folha apontou que quatro deputados federais tinham domésticas nomeadas como assessoras: Arnaldo Jardim (PPS-SP), José Paulo Tóffano (PV-SP), Osório Adriano (DEM-DF) e Alberto Fraga (DEM-DF). Todos negaram a irregularidade, mas exoneraram as empregadas.
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