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João Gato e Apollo 11, Ora pro nobis

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Por Geraldo Iensen

Quem tem o privilégio dos séculos? Os séculos dos séculos, amém!!! Ora pro nobis, diria João Gato do alto dos seus cem anos. E quem, diabos, é João Gato? Pra quem acredita em carma, ou destino, ou seja lá o que for… lembrei de Riobaldo questionando-se se seria ou não “pactuante”… E seguindo rumo ao Rosa diríamos: são as metafísicas!

O mundo arma umas coincidências que nos deixa com Canopus atrás da orelha. Em 2012 tive o prazer e a honra de entrevistar Don Xavier, Bispo Emérito de Viana, um francês arrojado, corajoso, morador destas paragens desde os anos de chumbo. E foi desse período triste que brotou o nome do Padre Eider, lutador contra a ditadura no Maranhão, preso pelo DOI-CODI, porém saído ileso, pela intervenção do conterrâneo de Proust. Logo depois foi excomungado, que a Igreja não gostava de militantes de esquerda, defensores de direitos humanos (note-se o que houve com o Boff)… Foi excomungado, mas foi o primeiro padre a acionar a Igreja na Justiça… O que importa tudo isso? Padre Eider era um Gato. Irmão de João Gato, também irmão de Zé Gato, humorista de nascença, que virou até tema de livro, de José Henrique Carvalho, imortal da Academia Vianense de Letras.

Eider e Zé Gato nos deixaram prematuramente, um beirando os 80, outro com mais de 90 anos. Isso mesmo, prematuramente. Porque neste 06 de setembro comemoramos os 100 anos de João Gato, filho ilustre da baixada, vaqueiro de profissão, pé de valsa e declamador de talento nato.

João Gato nasceu na comunidade do Barro Vermelho, que viria a se tornar Cajari. Desde adolescente já assumiu a lida do gado da família e, por profissão foi cuidando dos rebanhos de outros, através da famosa “de as meia”. No decorrer da vida ficou famoso pela criação de outros bichos, que iam desde pavões a jabutis, quem sabe até tuiuiús, diria Zé Gato.

João Gato virou liderança arrojada, determinada, sem deixar de ser risonho e gaiato. Ali está um homem de comunicação. Aliás, foi o primeiro morador de Cajari a possuir um rádio de pilha; por conta disso a casa vivia cheia de gente pra ouvir a música, as notícias e os recados através do mais importante meio de comunicação da época.

No começo dos anos 1960 Cajari ficou pequena, os dois filhos e as sete filhas (abençoada seja Margareth!) precisavam estudar. Já estávamos em 1969 e João Gato conseguiu comprar o tão sonhado sítio, o qual batizou, em homenagem ao acontecimento do momento, de Sitio fazenda Apollo 11. Se o homem chegou à lua, João chegou a seu sonho pilotando a mesma nave.

Um dia na minha lida jornalística, recebia o então presidente do Tribunal Regional eleitoral, ilustre vianense. O desembargador discorria na entrevista sempre referenciando a baixada e a amada Viana. Ao final da entrevista indaguei: Ah, o doutor é de Viana? Conhece a família Gato? No que de pronto e firme ele respondeu, “Ora, quem não conhece a família Gato”!

Hoje, 06 de setembro, do jeito que gosta, com a família criada as belas filhas espalhadas pelo Brasil e pelo Maranhão se reúnem para homenagear um sortudo que completa um século. João Gato, com seu sorriso largo, sua camisa de cambraia e seu balaio de histórias nos recebe a todos, com seus dedos calejados de pilotar as rédeas do mundo, agora tão amplo. Eu o saúdo e agradeço por povoar o mundo com tantos Gatos. Oxalá sobrou uma pra mim, mais uma dessas metafísicas do mundo, afinal, amar se aprende com os Gatos.

Geraldo Iensen – escritor/ jornalista, autor de Sêpsis (romance) e Um cachorro, um vinho, uma herança e um samba (contos)

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