O jovem Lobão ficou zangado
Elio Gaspari, O Globo
O senador Edison Lobão (PMDB, ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena) chegou ao Congresso em 1979, governou o Maranhão, foi ministro de Minas e Energia de Lula (2008-2010) e de Dilma Rousseff (2011-2015). Assumiu falando em usinas “termas”, mas acostumou-se a dizer “térmicas”.
Na sua carreira conseguiu muito. É nome de município (18 mil habitantes), fez de um filho senador (cavalgando a suplência) e da mulher deputada federal. Tem uma emissora de televisão e rádios. Os interesses de sua família incluíram uma construtora e uma distribuidora de bebidas. Tudo isso e mais a amizade de José Sarney.
Com sua seca figura, Lobão atravessa tempestades sem perder a calma. Já foi acusado de participar do loteamento de fundos de pensão estatais, de companhias de eletricidade, da mina de Serra Pelada e do Instituto de Resseguros.
Foi um dos primeiros marqueses jogados na frigideira da Operação Lava-Jato e coleciona acusações de pelo menos sete colaboradores da Justiça, dois dos quais falaram em nome da Camargo Corrêa e da Andrade Gutierrez.
O senador atravessa esse tiroteio negando qualquer má companhia, pois já chegou a se queixar: “Vejo com profunda tristeza. Fica difícil fazer parte da vida pública”. Seu filho homônimo chegou a filosofar: “A ética é uma coisa subjetiva, muito abstrata”.
O padrão Lobão de serenidade foi quebrado por Márcio, o filho do senador que desde 2008 dirige a Brasilcap, braço dos planos de capitalização do Banco do Brasil. Grande comprador de obras de arte, casou-se com a filha de um dos maiores colecionadores do país e empregou-a no gabinete do pai.
Ele foi sócio de um ruinoso presidente do fundo Postalis numa importadora de BMWs, mas sempre manteve-se discreto.
Sérgio Machado localizou-o informando que lhe passava R$ 300 mil mensais de sua caixa de propinas. A informação foi divulgada pelo repórter Lauro Jardim, a quem Márcio Lobão mandou uma carta dizendo o seguinte:
“O delator Sérgio Machado é um rato roedor. Roeu a decência. Roeu o respeito pelo próximo. Roeu a própria família, inclusive o filho, e agora, de forma vil e irresponsável , está a roer todos os amigos do seu falecido pai (..) roendo também a educação que recebeu”.
Por duas vezes chamou Machado de “cagueta” e, para felicidade geral, anunciou que vai processá-lo. Se isso acontecer, virão por aí fortes emoções.
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