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Lula pediu intervenção do Planalto no STF, revela grampo

O ex presidente Luiz Inácio Lula da Silva - 04/03/2016

Um dos grampos da Polícia Federal nos telefones do ex-presidente Lula flagrou uma conversa entre ele, a presidente Dilma Rousseff e o ex-ministro da Casa Civil, Jaques Wagner. A conversa, datada do dia em que Lula foi conduzido coercitivamente a depor em São Paulo, começa entre o ex-presidente e Dilma. Lula fala sobre Sergio Moro, que teria feito um “espetáculo antes da decisão daquele negócio que tá no Supremo pra decidir”.

Embora não tenha tocado diretamente no assunto com a presidente, Lula se referia à ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que buscava tirar o juiz Sergio Moro do comando das ações da Operação Lava Jato em Curitiba.

Os assuntos Rosa Weber e STF vem à tona com clareza quando Dilma, que pouco falou diante de um exasperado Lula, passa o telefone ao então ministro da Casa Civil Jaques Wagner, a quem Lula passa a relatar sobre a condução coercitiva e os depoimentos no aeroporto de Congonhas, até solicitar que Wagner conversasse com Dilma sobre a ministra, relatora da ação no STF. Leia e ouça a conversa entre Dilma, Lula e Wagner na íntegra:

Dilma: Alô, alô. Oi Lula!

Lula: Tudo bem?

Dilma: Não, não tô achando tudo bem não.

Lula: Faz parte…

Dilma: Ah, faz parte? Então tá bom. E como é que você tá?

Lula: Eu tô bem…

Dilma: tá?

Lula: eu tô bem, eu falei com a Marisa agora, eles já foram embora de casa, já foram embora da casa do Fabio, já foram embora da casa do Sandro, eu só não conseguir falar com Marcos. As perguntas, se os canalhas tivessem mandado um ofício, teria ido prestar depoimento, como eu já fui 3 vezes a Brasília prestar depoimento. Eu acho que o Moro quis fazer um espetáculo, antes da decisão daquele negócio que tá no Supremo pra decidir, a gente não sabe se é contra ou a favor, mas ele precisava fazer um espetáculo de pirotecnia. As perguntas foram as mesmas que eu já respondi ao Ministério Público e a dois Delegados da Polícia Federal. Dos meus filhos, eles levaram os mesmos documentos que já tinha levado quando tinham levado na “invasão” na casa do meu filho. Ah, o único lugar que houve um pouco…foram na casa do Paulo Okamotto, foram na casa da Clara Ant, sabe? A Clara tava dormindo sozinha quando entrou 5 homens lá dentro, ela pensou que era presente de Deus, era a Polícia Federal, sabe? então… (risos)

Dilma: (risos) Ela pensou que era um presente de Deus? (risos)

Lula: Então é isso Dilma, eu acho que foi um espetáculo de pirotecnia. A tese deles é de que tudo que ta acontecendo foi uma quadrilha montada em 2003 e que portanto, sabe, ela perdura até hoje, sabe? E dentro do Palácio, é a tese deles, é a tese deles. Então eles não precisam de explicação, como a teoria do domínio do fato não precisava de explicação, o crime estava dado, agora é o seguinte a imprensa diz que é criminoso e eles colocam em prática. Eu, estou dizendo aqui pro PT, Dilma que não tem mais trégua, não tem que ficar acreditando na luta jurídica, nós temos que aproveitar nossa militância e ir pra rua. Eu sinceramente, que tô querendo me aposentar, eu vou antecipar minha campanha pra 2018, eu vou acertar de viajar esse país a partir da semana que vem, sabe?! E quero ver o que vai acontecer. É, lamentavelmente, vai ser isso, querida. Eu não vou ficar em casa parado.

Dilma: O senhor não acha estranho a aquela história de quinta-feira? A Isto É antecipar… (interrompida)

Lula: Eu acho estranho a liberação…a liberação do Delcídio, a declaração do Delcídio, a Isto É antecipar, eu acho ô Dilma.

Dilma: E logo no seguinte, na sexta-feira, o senhor ser chamado.

Lula: É um espetáculo de pirotecnia sem precedentes, querida. Eles estão convencidos de que com a imprensa chefiando qualquer processo investigatório eles conseguem refundar a República.

Dilma: É isso aí!!

Lula: Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, nós temos uma Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado, somente nos últimos tempos é que o PT e o PC do B é que acordaram e começaram a brigar. Nós temos um presidente da Câmara f…, um presidente do Senado f…, não sei quanto parlamentares ameaçados, e fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre e que vai todo mundo se salvar. Eu, sinceramente, tô assustado com a “República de Curitiba”. Porque a partir de um juiz de 1ª Instância, tudo pode acontecer nesse país.

Dilma: Então era tudo igual o que sempre foi, é?

Lula: Era, a mesma coisa…. Hoje eles fizeram uma coisa coletiva. Foram na casa do Paulo Okamotto em Atibaia, eu nem conversei com Paulo ainda, foram na casa da Clara. Eu tô pensando em pegar todo o acervo, eu vou tomar a decisão, e levar, jogar na frente do Ministério Público. Eles que enfiem no c… e tomem conta disso.

Dilma: O acervo, de que?

Lula: Dilma, é um monte de container de tranqueira que eu ganhei quando eu tava na Presidência.

Dilma: Ah, dá pra eles! Eu vou fazer a mesma coisa com os meus viu?!

Lula: Então é o seguinte, “ô, ô”, uma hora gostaria de conversar pessoalmente porque eu acho que nós precisamos mudar alguma coisa nesse País.

Dilma: Você pode? Quando é que você vai? (interrompida)

Lula: Ontem eu disse o seguinte, a única pessoa… Como é que pode um delegado da Polícia Federal dá uma declaração contra a mudança de Ministro?

Dilma: Eu nunca vi isso, eu também nunca vi isso!

Lula: Como é que pode? Ou seja, eu disse pra eles a única pessoa que está precisando de autonomia nesse país é a Dilma, que foi a única eleita, e que não consegue governar por causa do Congresso, não consegue governar por causa do Tribunal de Contas, não consegue governar por causa do Ministério Público, porra! Somente quem está precisando de autonomia é a Presidência da República, o resto tudo tem.

Dilma: E quando é que a gente pode conversar?

Lula: Querida, eu tô, eu tô, o nosso companheiro tinha visto a possibilidade de você convocar um conversa… quando você quiser, meu amor, só não pode ser amanhã, porque amanhã tá muito em cima.

Dilma: Tá bom.

Lula: Mas quando você quiser, eu me disponho

Dilma: Segunda! Segunda! Segunda! Tá?

Lula: Tá, depois eu acerto com o “galego”, pra mim pode ser.

Dilma: Ele quer falar contigo. Pera lá

Jaques Wagner: Diga excelência!

Lula: Tudo bem, querido?

Jaques Wagner: Suportou a “encheção” de saco?

Lula: Não houve tortura, vocês é que sofreram mais do que eu, porra!

Jaques Wagner: Não, tô mundo sofre…

Lula: Foi a mesma pergunta de sempre Wagner, a mesma coisa de sempre

Jaques Wagner: foi só pra fazer a cena.

Lula: Eu acho até importante você falar com a Dilma. Eu acho que eles quiseram antecipar o pedido nosso que tá na suprema corte que tá na mão da Rosa Weber.

Jaques Wagner: Entendi

Lula: Sabe, eles estão tentando antecipar, como eles ficaram com medo que a Rosa fosse dar, eles estão tentando antecipar tudo isso.

Jaques Wagner: Entendi

Lula: Porque ela poderia tirar ele do Lava Jato então o Moro fez o espetáculo para comprometer a Suprema Corte.

Jaques Wagner: É, eu acho que não é só isso não. Estão querendo criar clima, agora só falam de renúncia… clima para o dia 13. Então bate em você, eu disse isso hoje. Sai a matéria da Isto é, e eu disse: amanhã vão fazer alguma p… com o Lula. E terça-feira o f… da OAB vai botar aqui dizendo que o Conselho da OAB acha que nesse caso… É uma palhaçada. O Delcídio, que eu não imaginei que era tão canalha… Porque ele fala de Pasadena, por exemplo, essa p… já foi arquivada pela PGR. Fala que você mandou isso e mandou aquilo. Tem prova?

Lula: Mas viu, querido, a gente tava falando dessa reunião. Eu queria que você visse agora de falar com ela, já que ela tá ai. Falar o negócio da Rosa Weber.

Jaques Wagner: Tá bom.

Lula: Que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram. Tá bom?

Jaques Wagner: Falou! Combinado! Valeu querido, dá um abraço na Marisa e nos meninos.

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