Lula não foi flagrado em ‘grampo’ com Rui Falcão
O depoimento do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci ao juiz federal Sergio Moro na última quarta-feira, em que ele incriminou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um processo da Operação Lava Jato, levou à criação de um boato que circula com força nas redes sociais e, sobretudo, no WhatsApp.
“BOMBA!!!! Grampearam o Lula falando ao telefone com Rui Falcão, ex-presidente do PT, no momento da notícia da delação do Palocci!!! SIFU!!”, alardeia a lorota, acompanhada de um áudio da suposta gravação (veja abaixo).
O sujeito que se passa por Lula diz o seguinte em sua performance:
Eu falei, inclusive pra ti, que mais dia menos dia ele abrir a boca e falar tudo que tinha que falar. Tá lá. Eu tô vendo ele aqui agora no Jornal Nacional. Falou tudo que tinha que falar. Lascou comigo, lascou mais ainda com a Dilma. Falou do apartamento, falou do sítio, tá falando de tudo. Ninguém teve coragem de fazer o que tinha que ser feito com esse cara. Ele ficou preso em Curitiba, tá preso em Curitiba há mais de um ano, ninguém teve a competência e a coragem de acabar com esse cara e agora tá aí. O Joesley vai ser pior. Por que que vai ser pior? Agora ele já começou a cantar, vai cantar mais. O Supremo tá querendo acabar com os benefícios dele, ele vai ser preso aqui e nós vamos nos lascar.
[…]
Tá falando do Emílio Odebrecht, do tal depoimento dele, outro f… desgraçado, é um p… do c… Eu vou dar um telefonema para a figura amanhã, ah, tamo tudo lascado, se f… tudo, que que tu acha? Tá bom, eu vou ver, meu querido, o que eu posso fazer, agora não adianta mais nada. Tá bom, até mais. Vamos ver, eu não tenho condição agora, estou cercado, não tem como, eu tô aqui dentro desse apartamento cercado, eu não posso sair nem do prédio, tá? Eu vou ver o que eu faço, tá bom? Tá bom. É muita pressão, muita pressão.
Para começo de conversa, apesar do esforço do imitador, a voz no áudio claramente não é a do ex-presidente Lula. Ademais, a voz de Rui Falcão não aparece em nenhum momento da faixa. Grampos telefônicos, como se sabe, captam a voz de todos os interlocutores em uma conversa – e não apenas de um deles, como é o caso.
Aos que se deixaram enganar pelo áudio, o texto que o acompanha também tem indícios de que se trata de um boato.
Antonio Palocci não fechou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), ao contrário do que diz a lorota. As revelações do ex-ministro a Moro foram dadas na condição de réu, ou seja, acusado, em um processo que apura o pagamento de propinas a Lula e ao Partido dos Trabalhadores (PT) pela Odebrecht. Palocci, nesta oitiva, sequer era obrigado judicialmente a dizer a verdade, como ocorre com delatores premiados e testemunhas.
Em seu depoimento, Antonio Palocci declarou que a denúncia dos procuradores da Lava Jato “procede” e que, ao final do mandato de Lula, em 2010, o ex-presidente firmou um “pacto de sangue” com Emílio Odebrecht, dono da empreiteira, por um “pacote de propinas”. Estariam incluídos no acordo, de acordo com o ex-ministro, um imóvel para a instalação do Instituto Lula, reformas no sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), utilizado pela família do petista, além de 300 milhões de reais para o exercício de “atividades políticas” de Lula.
Apesar da assertividade de Palocci, ele ressaltou, quando indagado pelo advogado do petista, Cristiano Zanin Martins, que tem apenas tratativas por um acordo de colaboração com os investigadores, ainda não concluídas.
Assim como Antonio Palocci, o ex-presidente Lula é réu nesta ação penal e também será ouvido pelo juiz federal, na próxima quarta-feira.
Como o Me engana que eu posto frequentemente alerta, outro ponto que deve ser observado pelo leitor é a ausência da notícia em meios de comunicação confiáveis. Se, antes de propagar o boato, os usuários do WhatsApp buscassem em veículos de imprensa de sua preferência quaisquer informações relacionadas ao “grampo” de Lula e Rui Falcão, não encontrariam nada. Logo, não passariam a mentira à frente. É evidente que a existência de uma gravação telefônica entre um ex-presidente da República e o ex-presidente de um grande partido seria amplamente noticiada.
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