Justiça impõe derrota à OAB/MA em ação absurda que colocava em risco resolução de conflitos fundiários no MA
O Tribunal de Justiça do Maranhão negou provimento ao pedido liminar feito pela Ordem dos Advogados do Brasil – secção Maranhão (OAB/MA) contra a Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cidade (Coecv), considerando que não ficou demonstrada urgência na ação que visa declarar a inconstitucionalidade da Lei Estadual nº 10.246, que cria a Coecv. A Comissão é responsável pela mediação de conflitos agrários e fundiários no Maranhão e tem contribuído também para o combate à grilagem de terras e aos crimes ambientais.
O julgamento é parte da Ação Direta de Inconstitucionalidade n° 0800260-59.2021.8.10.0000, movida pela Ordem dos Advogados do Brasil – secção Maranhão (OAB/MA), entidade presidida por Thiago Diaz, que não se fez presente no julgamento.
O secretário de Estado de Direitos Humanos e Participação Popular, Chico Gonçalves, criticou a postura da OAB/MA e defendeu a continuidade dos trabalhos da Comissão. “Sou defensor de direitos humanos desde a juventude. As questões agrárias e fundiária sempre foram centrais na luta pela dignidade do povo maranhense, porque é um dos principais problemas do estado, basta ver a quantidade de processos que chegam ao nosso conhecimento. A Coecv nasce em 2015 para mediar o conflito, combater os crimes de grilagem e combater a violência como um todo. É lamentável que a OAB/MA com toda a sua história de luta por uma sociedade mais justa não reconheça a atuação da Comissão e a ataque com esse processo que pode desamparar muitos maranhenses que ainda batalham pela moradia digna e terra para plantar”.
O Maranhão lidera o ranking de conflitos por terra no país, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) divulgados em 2020. A ação da OAB traria grandes prejuízos às milhares de famílias rurais e urbanas que vivem em situações de conflito.
“Se a OAB-MA não comparece em juízo ,por pura desídia, para defender uma causa que ela mesmo ajuizou, vai conseguir defender os interesses de milhares de advogados maranhenses?”, afirmou o advogado Diogo Cabral.
O ex-presidente da OAB Mário de Andrade Macieira também se manifestou contrário à ação da Ordem, em artigo publicado no Jornal Pequeno. Macieira defendeu a constitucionalidade da lei e afirma que a legislação “vai ao encontro de todos os princípios fundamentais (…) de modo a evitar mortes, prisões, desabrigo e, sobretudo, mais violência”.
O secretário adjunto dos Direitos Humanos da Sedihpop e coordenador da Coecv, Jonata Galvão, também falou sobre o julgamento. “Enquanto coordenador da Comissão e advogado, eu lamento a postura da OAB, inclusive, por não se fazer presente no julgamento. Era uma oportunidade para o debate jurídico, o diálogo valoroso e necessário em torno de uma pauta tão importante para o estado. Até o momento, o que ficou provado e demonstrado é que em mais de 6 anos de existência, a Coecv não recebeu nenhuma alegação de inconstitucionalidade pelas partes dos casos em que atua e que a Comissão tem colaborado com o Judiciário, em consonância com a Legislação e em harmonia com os poderes”.
Na ausência da OAB/MA, os desembargadores puderam ouvir a posição da Defensoria Pública do Maranhão (DPE/MA), Sociedade Maranhense de Direitos Humanos (SMDH), Federação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Maranhão (Fetaema) e Justiça nos Trilhos na condição de Amicus Curiae em Defesa da Coecv e como apoio da Procuradoria Geral do Estado (PGE).
O defensor público Jean Nunes, que participou da ação, avaliou que a decisão do TJ/MA reforçou a importância da Comissão como espaço estratégico de promoção de direitos humanos, de prevenção de conflitos e violência no campo e na cidade. “O poder judiciário acena positivamente, reconhece a importância das instituições que atuam sobre essa matéria, a própria Coecv, a Fetaema, SMDH, a Justiça nos Trilhos, a Defensoria Pública, como espaços importantes e estratégicos no enfrentamento da questão que no Maranhão é estrutural. Nós temos uma relação no campo e na cidade de muita desigualdade que repercute em conflitos e que enseja a necessidade de intervenções. Então, a Defensoria Pública avalia como tendo sido um momento muito importante na luta pela moradia e pelo território no estado”.
O desembargador relator João Luiz Almeida declarou que é fundamental que as decisões sobre o caso perpassem pela garantia da participação popular no debate. E que ele, estaria, inclusive, pensando na necessidade de realização de audiências públicas para que a decisão do Tribunal não prejudique a sociedade.
O secretário Chico Gonçalves avaliou tal decisão como positiva e afirmou que é “um importante instrumento para que a sociedade participe do debate no sentido de auxiliar o poder judiciário no momento da decisão. Será um momento oportuno para ouvir as partes, os membros da Comissão, a sociedade civil, as instituições do sistema de justiça, e as partes dos processos que tramitam ou tramitaram na comissão. Eu diria, inclusive, que é um movimento imprescindível, tendo em vista que o julgamento da ação terá grande impacto social, político e jurídico”.
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