Juliano Corbellini: 2018 e a política brasileira
Consultor de marketing político
Para o PT, fora uma eventual prisão de Lula, o estrago da Lava-Jato está feito. Mas, para os partidos que apoiam o governo Temer, existe um futuro de incógnitas. É o que a pesquisa CNT sobre as eleições de 2018 demonstra.
Por mais paradoxal que possa parecer, na perspectiva da eleição presidencial, quem hoje está mais paralisado pela Lava-Jato são as forças que apoiam o governo Temer. O baixo desempenho de Aécio e Alckmin, que já disputaram eleições presidenciais com altas votações, e representam um grande partido que desde a década de 1990 polariza a política nacional com o PT, sinaliza certo deslocamento momentâneo do PSDB da condição de protagonismo.
Isto porque, hoje, o polo mais dinâmico da política brasileira está fora das estruturas tradicionais: é a Operação Lava-Jato. É uma onda, uma “contranarrativa” contra os políticos, e por isso não há como um candidato da política tradicional simplesmente “surfar nela”.
Refiro-me ao processo judicial em si e também ao imaginário social que ele mobiliza. É ele que gera fatos, exerce pressão sobre o sistema político, tem apoio da maioria da opinião pública e mobiliza uma classe média muito ativa, crítica à esquerda e com alguns bolsões ultrarreacionários. É importante ter prudência para distinguir a imensa “opinião pública silenciosa”, e a “minoria ativa”. Elas não são a mesma coisa, mas ambas compõem a força da operação como polo mais dinâmico da política brasileira.
Corroborando outras sondagens publicadas recentemente, outro ponto trazido pela pesquisa é que o segundo polo que hoje ainda dinamiza a política brasileira é o lulismo. Gera fatos, galvaniza a atenção, e principalmente mobiliza uma base social forte. Veja, não se trata do PT como partido, e nem somente de Lula como líder.
Trata-se de um fenômeno político em que se conjugam um líder, uma narrativa histórica estruturada sobre o país e uma grande parcela da população que se identifica com esse líder e essa narrativa. Tal conjugação faz com que o lulismo tenha organicidade, consistência como fenômeno político. Ele não é somente uma onda. E por isso, apesar de todo o desgaste do PT e dele próprio, Lula consegue mostrar essa resistência eleitoral.
Para voltar ao protagonismo, as forças políticas que estão fora desses dois polos precisam reconstruir um discurso, uma narrativa sobre o país, que justamente não seja refém da Lava-Jato, e que consiga novamente rivalizar com a narrativa do lulismo.
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