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Ídolos dos pés de barro

Um aforismo bíblico registra um sonho do imperador da Babilônia, Nabucodonosor e sua imediata explicação. Sonhou o rei com uma estátua gigantesca (ídolo) que tinha cabeça de ouro, peito metade prata, metade bronze, pernas de ferro e pés de barro. Uma pedrinha veio rolando da montanha, atingiu os pés de barro e a estátua desabou. Explicou um guru que o reinado de Nabucodonosor, à época, era de ouro, mas após ele viriam outros dois, não tão brilhantes, o quarto seria pior ainda e o quinto tão fraco que seria destruído.

A crise econômica e moral que atinge o Brasil ensina que estamos cercados de ídolos de pés de barro. Não apenas pela fragilidade das lideranças, mas porque boa parte desses líderes, conforme se revela, estão moralmente assentados na pequenez de sentimentos e na desonestidade. E é a desonestidade a argamassa dos pés desses gigantes que não resistem à menor das pedrinhas. É o caso do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, que trouxe para si a carapaça de combatente dos desvios de conduta e da corrupção no PT, mas teve seus pés revelados pela denúncia de recebimento de uma propina de U$$ 5 milhões. Mentiu na CPI da Petrobras e, agora, desaba moralmente diante de documentos vindos da Suíça que revelam ser ele o administrador de pelo menos quatro contas secretas naquele país. Dinheiro de origem suspeita, dinheiro jamais declarado no Brasil.

Os ídolos dos pés de barro, embora enganem poucos e confundam muitos, costumam se tornar heróis apenas de si mesmos, vestem capas e usam máscaras, fazendo de conta que são honestos e têm preocupações reais com os destinos dos povos. Essa capacidade de fingir, de fazer de conta, tem sido responsável, na maior das vezes, pelo triunfo da banalidade, da falta de ética e do crime.

Até bem poucos dias, o PMDB de Eduardo Cunha parecia disposto a liderar uma coalizão de partidos que recolocaria a República devastada pelo PT nos eixos. Mas bastou uma reforma ministerial, bastou que entregassem ao partido o comando da maior fatia do orçamento do país e eis que, relutantes, os peemedebistas concedem apoio ao escorchante ajuste fiscal proposto pelo governo. Eduardo Cunha ainda ameaça colocar em votação os pedidos de impeachment da presidente Dilma, mas é vingança, é temor de que seus frágeis pés de barro o façam desabar da presidência da Câmara e do próprio mandato de deputado federal, se não coisa pior.

O fato é que não se pode esperar que desonestos combatam a desonestidade, que corruptos combatam a corrupção e o indignado povo deste país olha para todos os lados e vê que seus líderes estão desmoronando. Apesar de toda a prata e todo o ouro, são ídolos de pés de barro, nada mais. (Editorial do JP)

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