Grupo ligado a Flávio Bolsonaro emplaca diretor em ministério de Juscelino Filho
Estadão – O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, escolheu para cuidar do setor de rádio e TV um sócio do empresário Willer Tomaz. Parceiro e amigo do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Tomaz é dono de quatro rádios e uma televisão no Maranhão, reduto eleitoral do ministro, e agora terá seu sócio comandando a área de interesse direto dos seus negócios.
O escolhido para a poderosa diretoria de radiodifusão privada é o advogado Antonio Malva Neto. Ele e Willer Tomaz são sócios num escritório de advocacia. Ao Estadão, o novo diretor admitiu que não tem expertise profissional no setor. “Eu nunca atuei na radiodifusão”, afirmou. Mesmo assim, o ministro Juscelino Filho enviou a indicação para a Casa Civil, que fez a nomeação sem contestar. Ao justificar a escolha à reportagem, o ministro disse que seu diretor é uma pessoa que “conhece a área”.
A principal experiência de Malva Neto no setor foram os quatro meses como assessor especial do ex-ministro das Comunicações André Figueiredo, em 2016. Figueiredo teve curta passagem pelo governo de Dilma Rousseff (PT), entre outubro de 2015 e maio de 2016. Malva Neto foi ainda mais breve, ficou de 15 de fevereiro a 16 de junho de 2016.
No último dia 6, Juscelino recomendou e a Casa Civil nomeou Antonio Malva Neto para o cargo de diretor do Departamento de Radiodifusão Privada. O órgão decide sobre processos de outorga e de renovação de empresas privadas do setor. Também cuida de regras e mudanças nas normas da área.
Até o governo Bolsonaro, o sócio do novo diretor do Ministério das Comunicações era um advogado que atuava fora dos holofotes. A relação com o filho mais velho do presidente, porém, jogou luz sobre sua influência entre políticos bolsonaristas. Na CPI da Covid, o relator dos trabalhos, senador Renan Calheiros (MDB-AL), tentou investigar Willer Tomaz por causa das relações dele com Flávio.
A estratégia política obrigou o filho do ex-presidente a expor sua relação com o empresário. Em raro discurso, Flávio disse, na ocasião, ser “injusta” a citação ao seu “amigo”. Ele também protocolou uma representação contra Renan na Procuradoria-Geral da República (PGR), na qual se referia ao advogado como uma pessoa de seu “convívio pessoal”.
Willer Tomaz e o filho “01″ do ex-presidente já atuaram, em momentos distintos, em um mesmo processo que tramita no Superior Tribunal de Justiça (STJ). A ação trata de uma disputa entre sócios de uma antiga fábrica de doces do Rio Grande do Norte.
Em nota, a assessoria de comunicação do ministro afirmou que ele não tem conhecimento sobre a relação societária entre Malva Neto e Willer Tomaz e que a escolha se deu pelo fato de o diretor “conhecer a área”. Ele não citou, porém, de onde ou de quem partiu a indicação do nome.
“O ministro desconhece tal sociedade e a nomeação do diretor se deu por conhecer a área. Foi, portanto, uma nomeação técnica, que passou pelo crivo da Casa Civil e outras verificações por parecer do governo. É uma ilação associar esse trabalho técnico às relações societárias de terceiros e, pior, supostas amizades de sócios de terceiros que nada tem a ver com a pasta”, diz o comunicado.
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