Grupo de Lula exigiu propina de US$ 133 milhões, diz Duque
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PT e José Dirceu, ex-homem forte do governo petista, exigiram propinas de mais de 133 milhões de dólares dos cinco estaleiros que aceitaram repassar dinheiro sujo em troca de contratos na Sete Brasil. As revelações sobre a atuação do grupo na Sete, empresa criada em 2010 para gerir ativos do pré-sal, foram feitas nesta sexta-feira pelo ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, em depoimento ao juiz Sergio Moro.
No depoimento que prestou a Moro em uma tentativa de fechar enfim um acordo de delação premiada – capaz de amenizar os 57 anos de prisão a que ele foi condenado até agora -, o ex-diretor disse que, ao contrário do que usualmente era recolhido em propina para dirigentes da Petrobras e para o PT, partido que controlava a Diretoria de Serviços da estatal, os petistas ficariam com porcentual maior do que o dos demais dirigentes da petroleira.
Em contratos comuns, a arrecadação de propina seguia a regra de 1%, sendo 0,5% para o PT e 0,5% para a “casa”, referência aos diretores que participavam do esquema criminoso. Na Sete, no entanto, Lula, Dirceu e o PT ficariam com dois terços do porcentual de 1% de propina pago pelas empresas que buscavam contratos. Renato Duque estima que esses dois terços equivalem a impressionantes 133 milhões de dólares.
A Sergio Moro, o ex-diretor da Petrobras afirmou que os valores que cabiam a Lula eram administrados pelo ex-ministro Antonio Palocci, também réu na Operação Lava Jato e mais novo candidato a delator do petrolão. Na versão apresentada ao juiz da 13ª Vara de Curitiba, o ex-dirigente detalhou como foi montado o esquema de cobrança de propina na Sete Brasil.
“Os dois terços do partido político o Vaccari me informou que iriam para o Partido dos Trabalhadores, para o José Dirceu e para Lula, sendo que a parte do Lula seria gerenciada por Palocci. Ele afirmou isso para mim. E eu, na época, conversei com Barusco e passei essa informação para ele. Falei: ‘Barusco, olha, você não está lidando com peixe pequeno. A gente está falando aqui de peixe graúdo’”, disse.
Foi o próprio Renato Duque quem pediu para prestar depoimento a Moro, numa indicação de que agora ele realmente pretende contar o que sabe em troca de redução de pena e de outros benefícios judiciais. A Moro, ele explicou, por exemplo, a atuação de Lula, réu em cinco ações penais relacionadas ao escândalo da Petrobras, no esquema de cobrança de propinas do PT na Petrobras.
O ex-diretor afirmou que em 2007, no início do segundo mandato do então presidente Lula, foi chamado a Brasília pelo ministro Paulo Bernardo. Na reunião, foi informado que, a pedido de Lula, João Vaccari Neto foi nomeado para fazer a intermediação entre a Petrobras e o cartel das empresas que operavam os contratos. Vaccari ainda não era tesoureiro do PT.
Ele diz que, no encontro em Brasília, ficou sabendo que as ordens vinham de Lula, mas que até então o presidente da República era tratado nas conversas pelos apelidos de ‘chefe’, ‘grande chefe’ e ‘nine’ (nove, em inglês, referência aos dedos de Lula).
“O presidente Lula era conhecido como chefe, era chamado como ‘chefe’, o ‘grande chefe’, ‘nine’, ou esse movimento com a mão (nesse momento, Duque passa a mão na barba)”. “O Paulo Bernardo chegou e falou: “Ó, Duque, a partir de agora, você vai ter contato com uma pessoa chamada Vaccari. João Vaccari, vai te procurar, e ele vai fazer os contatos com as empresas”, disse. “Segundo o Paulo Bernardo, o Lula que tinha determinado isso.”
No depoimento, o ex-dirigente se disse impressionado com a desenvoltura de Vaccari para conduzir as tratativas com as empresas: “O Vaccari tinha uma capacidade tão grande de interlocução, vamos chamar assim, que às vezes ele sabia muito mais de resultado de licitações do que eu mesmo. Eu não precisava passar informações para o Vaccari procurar as empresas. Ele mesmo procurava. Ele comentava comigo: ‘A empresa tal não está pagando’”. (Veja)
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