Governo do MA aluga imóvel ‘encalhado’ de candidato de Sarney
Deu na Folha de São Paulo
Após passar quatro anos sem conseguir comercializar um edifício residencial de sua propriedade, o candidato da situação ao governo do Maranhão, Edison Lobão Filho (PMDB), alugou o imóvel para governo do Estado.
O contrato de R$ 30 mil mensais com a Secretaria da Saúde dispensou licitação. Quem o assinou, no início de fevereiro, foi o secretário da pasta, Ricardo Murad, cunhado da governadora Roseana Sarney (PMDB), que apoia a candidatura do filho do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB).
O imóvel de cinco andares é da Difusora Incorporação e Construção –Lobão Filho tem 99,43% de participação na empresa desde 2005. Além de fechar contrato por 12 meses, em um total de R$ 360 mil, o governo estadual pagou, em julho, uma reforma de R$ 87,9 mil no local, também sem licitação.
Construído para ser residencial, o edifício Paris, no bairro Turu, teve anúncios em outdoors e em classificados na capital maranhense, mas fracassou nas vendas –problemas como trânsito e falta de estrutura atrapalharam, afirmam corretores.
A justificativa para o aluguel do imóvel foi a instalação do Centro Ambulatorial de Atenção à Saúde do Paciente Oncológico. Segundo o governo, o local começou a funcionar em 28 de agosto, pouco mais de seis meses após a assinatura da locação.
A Folha esteve na unidade nesta segunda-feira (29). Classificado por rivais de Lobão Filho na campanha como “clínica fantasma”, o edifício ainda guarda resquícios de sua origem residencial. Entre o portão da rua e a entrada do centro médico há uma churrasqueira e um balcão da antiga área de lazer.
No estacionamento, ambulâncias param diante dos restos de um barracão da obra, onde ainda há indicação para o que era o stand de vendas dos apartamentos. Ao lado da sala de espera, um carrinho de compras divide um recinto vazio com uma maca e uma cadeira de rodas.
“Esse aí é o hospital que o Lobão ‘fez’?”, diz, desenhando as aspas com os dedos, a ambulante Iara Rocha, 22, que vende biscoitos na esquina em frente ao prédio. “Faz dois meses que botaram essa placa [identificando o ambulatório], mas quase não vejo pacientes. Só gente limpando e pondo o lixo para fora.”
A reportagem viu apenas três pacientes em cerca de uma hora nos arredores da unidade durante a tarde. A balconista Jurema Pereira, 35, que trabalha em frente ao ambulatório, diz que “o movimento é maior pela manhã”.
OUTRO LADO
Procurada pela Folha, a campanha de Lobão Filho disse não ver conflito ético na locação do imóvel para o governo. Afirmou que o negócio foi fechado antes do início da campanha e que o peemedebista está afastado do cotidiano de suas empresas desde que assumiu o mandato de senador.
Lobão Filho afirmou à Folha que não pretende renovar o contrato, válido até fevereiro de 2015, caso seja eleito. “Não posso ter relação com o Estado sendo governador”, disse. E defendeu o negócio. “Não sendo eu o gestor, por que não alugar um prédio com aquela localização, por esse preço, para fazer a clínica?”
Segundo Lobão Filho, seria um “escândalo” apenas se o valor extrapolasse, por exemplo, R$ 100 mil mensais. Procurado, o secretário da Saúde do Maranhão, Ricardo Murad, está em férias e não pode conceder entrevistas, informou sua assessoria.
A Secretaria da Saúde informou que o centro oncológico funciona com 18 consultórios e que “laudos técnicos e pareceres” subsidiaram a dispensa de licitação. A legislação maranhense permite a dispensa da concorrência para compra ou aluguel de imóveis “cujas características de instalações e localização sejam elementos determinantes da decisão”.
A pasta afirmou ainda que o local foi escolhido por estar “próximo de bairros muito populosos e com muita facilidade de acesso” e que o valor do aluguel é “compatível com o de mercado”.
No último dia 23, o governo do Maranhão divulgou ter feito cerca de 2.200 atendimentos no centro. Os números incluem 786 consultas e “mais de 900 procedimentos na sala de coleta de exames”. A pasta informou ainda que o centro oncológico deixará o edifício do senador Lobão Filho tão logo fique pronta a construção de uma unidade definitiva, hoje em obras.
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