Gil Cutrim fala de ‘calote’ e rompimento com o grupo Sarney
EM ENTREVISTA AO JP
Prefeito da terceira maior cidade do estado em número de habitantes e presidente da Famem, entidade que representa os municípios maranhenses, o advogado Gil Cutrim, figura promissoras da nova safra de políticos do Maranhão, concedeu entrevista exclusiva ao Jornal Pequeno. No bate-papo, Cutrim fez um balanço das ações desenvolvidas em São José de Ribamar e em prol do fortalecimento do municipalismo. Abordou, ainda, vários assuntos relacionados ao campo político, dentre eles o seu futuro rumo partidário, eleições municipais, falta de pagamento de convênios, o rompimento com o grupo Sarney e sua relação com o governo Flávio Dino. Confira, abaixo, a íntegra da entrevista.
Jornal Pequeno – Prefeitos e prefeitas de todo o Brasil são unânimes ao afirmar que o ano de 2014 foi de extrema dificuldade financeira para os municípios. Isso é verdade? Qual balanço o senhor faz das ações desenvolvidas por sua administração em São José de Ribamar ano passado?
Gil Cutrim – De fato, os prefeitos e prefeitas estão corretos ao fazer tal afirmação. Hoje, o pacto federativo injusto imposto pela União penaliza muito, na questão financeira, os municípios. O Governo Federal arrecada muito e pouco repassa aos municípios, onde tudo acontece, onde o cidadão vive e necessita das políticas públicas. Só para se ter uma idéia, nos últimos dois anos as cidades maranhenses perderam mais de R$ 80 milhões em função das desonerações fiscais e tributárias que compõem o Fundo de Participação dos Municípios. Apesar das dificuldades financeiras, avançamos muito, neste ano de 2014, em todos os setores da administração pública de São José de Ribamar. Asfaltamos e recuperamos mais de 80 km de ruas e avenidas de diversos bairros. Implantamos novas Unidades Básicas de Saúde e estamos construindo novas. Inauguramos novos sistemas de abastecimento de água e outros estão em fase de construção. Continuamos a valorizar o servidor público oferecendo cursos de capacitação em diversas áreas e pagando rigorosamente em dia os salários. Inauguramos novas escolas, estamos construindo outras, além de termos aumentado a frota de veículos escolares. Expandimos os serviços de assistência social e as ações nas áreas do turismo, cultura e esporte. Portanto, apesar da queda de receita, fizemos muito graças ao planejamento administrativo adotado desde 2011.
JP – E para 2015, quais ações estão previstas para serem desenvolvidas pela prefeitura?
GC – Muito fizemos e, já a partir deste mês, o ritmo de trabalho irá acelerar. Muitas ações estão programadas para todos os setores, dentre elas a implantação de mais quadras poliesportivas; construção de novas UBS, execução de mais serviços de pavimentação e de recuperação de vias; implantação de novos sistemas de abastecimento de água; implantação de um importante programa de saneamento básico; dentre outras.
JP – Sobre as ações desenvolvidas pela Federação dos Municípios do Estado do Maranhão (FAMEM), entidade que o senhor preside, o balanço também é positivo?
GC – Muito. Ampliamos a oferta de serviços gratuitos aos municípios filiados, além de termos conseguido obter o terreno onde, este ano, será iniciada a obra de construção da sede própria da entidade. Participamos ativamente do trabalho que resultou no aumento do percentual de repasse do FPM. Estamos na Justiça, com reais chances de obter uma decisão definitiva nos próximos meses, com uma ação que obriga a União restituir as cidades maranhenses das perdas financeiras, relativas aos últimos cinco anos, ocasionadas pela desoneração do IPI, imposto de renda e outros incentivos e benefícios fiscais e tributários. Este ano, retomaremos o “Município em Foco”, projeto que leva os serviços da Federação para os municípios. Foi um ano de conquistas e de fortalecimento do municipalismo no estado.
JP – O senhor falou da necessidade de redefinir o pacto federativo. Quais papéis a bancada federal maranhense e o governador Flávio Dino poderão ter para auxiliar a FAMEM nesta empreitada?
GC – Nossa bancada federal, composta por deputados e senadores, será de suma importância. Já estamos tratando deste assunto desde o ano passado e acredito que em 2015 as bancadas dos outros estados estarão unidas no sentido de pressionar o Congresso e o próprio Governo Federal. O governador Flávio Dino já se mostrou parceiro do municipalismo. Sua influência política junto a presidente Dilma poderá, sim, contribuir para que este processo avance.
JP – Ano passado, a FAMEM promoveu um grande encontro envolvendo prefeitos, prefeitas e o Flávio Dino. Na oportunidade, o próprio governador ressaltou o importante papel que a FAMEM terá no trabalho de intermediar o diálogo entre municípios e governo do estado. Como o senhor está trabalhando esse processo?
GC – A Federação irá estreitar os laços com o governo estadual no sentido de tratar do atendimento das demandas comuns dos municípios. O governador já se mostrou sensível a este pleito, o que nos deixa satisfeitos e esperançosos. Iremos, sim, realizar encontros mensais com o secretariado e com o próprio Flávio Dino para tratarmos destas demandas. Muito em breve, iremos apresentar ao governador um relatório detalhado da situação financeira dos municípios maranhenses e as suas principais reivindicações. Eu entendo, e tenho certeza que o Flávio pensa da mesma forma, que só pode existir estado forte com municípios fortes. E é com este pensamento que pretendemos trabalhar de forma parceira.
JP – Uma das principais reclamações de prefeitos e prefeitas foi o não pagamento, por parte do governo Roseana, de convênios celebrados com os municípios. O senhor já tem um raio x completo de como está essa situação?
GC – Estamos finalizando esse levantamento com base nas informações fornecidas pelos próprios municípios e, em breve, como disse anteriormente, iremos apresentá-lo ao novo governador e sua equipe. Informações preliminares dão conta de que muitos destes convênios não foram pagos integralmente, o que gerou uma situação, por exemplo, de obras que tiveram início e não foram concluídas e de obras que sequer foram iniciadas. Em São José de Ribamar, por exemplo, não foi feito integralmente o repasse de recursos de convênios para várias obras de pavimentação. Isso gera uma situação extremamente desconfortável, uma vez que a população não entende que o serviço não foi iniciado por conta de uma situação imposta pela antiga administração estadual. Esperamos resolver o mais breve possível esse impasse junto ao novo governo.
JP – Voltando um pouco na recente história política, o senhor rompeu, ano passado, com o grupo Sarney e anunciou apoio à então candidatura de Flávio Dino ao governo. O que de fato aconteceu? Houve traição?
GC – O apoio à candidatura do Flávio se deu em virtude de uma decisão unânime do grupo político, formado por 16 vereadores e mais de três mil lideranças comunitárias, do qual em faço parte em São José de Ribamar. Por diversas vezes, tentamos o diálogo com o então candidato do grupo Sarney e, infelizmente, não obtivemos êxito. Numa via inversa, enquanto tentávamos o diálogo, o candidato se aliou a um pequeno grupo que ainda faz oposição em Ribamar. Atrelado a isso, existia uma grande insatisfação da maioria dos integrantes do nosso grupo com a retirada da pré-candidatura ao governo do amigo Luis Fernando Silva. Conheço o Flávio há muito tempo, desde a época que ele era juiz federal. Por diversas vezes ele nos procurou pedindo apoio político. Não houve traição alguma. O grupo tomou a decisão e eu, como líder deste grupo, fiz o anúncio.
JP – O senhor sairá do PMDB? Qual será o seu novo partido? Como está sua relação com a ex-governadora Roseana? O senhor ainda guarda alguma mágoa dela ou de algum integrante do seu ex-grupo político?
GC – É muito provável que sim. Já recebi alguns convites de partidos políticos e ainda estou avaliando. Essa decisão será tomada um pouco mais na frente e, tenha certeza, contará com o aval de nosso grupo político em São José de Ribamar. Tenho Deus no coração e isso, felizmente, não me deixa guardar mágoa de ninguém.
JP – E como está sua relação com o novo governo? O seu grupo político irá participar ou ocupar espaços no mesmo?
GC – Minha relação com o governador e seu secretariado é a melhor possível. Como disse, conheço o Flávio antes dele ser político. Sei do seu caráter e dos seus bons propósitos para com o Maranhão e seu povo. Se algum membro do nosso grupo vier a integrar a equipe do governador, bom isso se dará por livre e espontânea vontade de ambos. Não condicionamos nosso apoio à obtenção de espaços, de cargos. Nunca tratei deste assunto com o governador e ele pode confirmar o que estou dizendo. O que queremos é que o novo governo trabalhe pelo estado e pelos maranhenses.
JP – O senhor é amigo pessoal do ex-prefeito Luis Fernando Silva que, durante dois anos, encarnou à pré-candidatura do grupo Sarney. LF, aos poucos, volta a aparecer na cena política, o que está gerando uma série de especulações, inclusive uma possível candidatura dele à prefeitura de São Luís. Sobre os planos do Luis, o que o senhor poderia revelar?
GC – Bom, sobre este assunto somente o Luis Fernando pode responder. Além de aliado político, sou amigo do Luis. O considerado como um dos melhores gestores públicos do Brasil. É um homem de caráter ilibado, correto e que tem um brilhante futuro político pela frente. A decisão que ele tomar, tenho certeza disso, será conversada e terá o aval do nosso grupo.
JP – Hoje, administrar São José de Ribamar está mais difícil do que na época do ex-prefeito Luis Fernando?
GC – Geograficamente, São José de Ribamar é uma cidade difícil de administrar. Seu território é extenso e espalhado. Recebemos, há dois anos atrás, sete novos conjuntos habitacionais construídos através do programa federal Minha Casa, Minha Vida, sendo que apenas dois [Nova Terra e Turiúba] foram sorteados pela Caixa Econômica Federal para os moradores da cidade. Os demais foram sorteados para pessoas de outros municípios, principalmente São Luís. Ou seja, recebemos cerca de 70 mil novos moradores e esse crescimento populacional em nada contribuiu para o aumento de receita, inclusive do FPM. São novos moradores que, com todo o direito, querem as políticas públicas. Dentro das nossas possibilidades financeiras, continuamos a trabalhar. E apesar das dificuldades, avançamos muito e continuaremos a avançar.
JP – As eleições municipais de 2016 já se aproximam e o senhor, que já está no segundo mandato, trabalhará para fazer seu sucessor em São José de Ribamar. O que o senhor já pode adiantar sobre este assunto? O candidato natural será o seu vice, Eudes Sampaio? Existe possibilidade do candidato ser o Luis Fernando?
GC – Política é muito dinâmica e seria precipitado antecipar um debate que se dará somente daqui a um ano. Neste momento, estamos irmanados com o único propósito de continuar trabalhando por São José de Ribamar e seu povo. Nosso grupo é muito forte, unido, é o maior da história política da cidade. Temos ótimos nomes, dentre eles o Eudes e o próprio Luis Fernando. No momento certo iremos conversar e definir sobre este assunto. Será, como sempre acontece, uma decisão de grupo e, tenho certeza, contará com a aprovação do eleitor.
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