Floresta amazônica do Maranhão está 75% desmatada
Setenta e cinco por cento da floresta amazônica no Maranhão já foi desmatada e o estado registra níveis recordes de queimadas, enfrenta escassez de água e luta contra os piores indicadores sociais e econômicos do país. O diagnóstico foi publicado em recente artigo na revista científica internacional “Land Use Policy”.
De acordo com os pesquisadores que trabalham na Amazônia Maranhense, o desmatamento ilegal persiste em um processo violento que provoca danos sociais, econômicos e ambientais visíveis. Além disso, essa região amazônica registra violações severas dos direitos humanos associadas ao desmatamento, como casos recorrentes de pessoas em regime de trabalho análogo à escravidão, conflitos pela terra e assassinatos de camponeses e indígenas.
Simultaneamente, o Maranhão registra níveis recordes de queimadas, enfrenta escassez de água e luta contra os piores indicadores sociais e econômicos do país. Segundo os autores do estudo, o governo do Maranhão deve urgentemente criar mecanismos para proteger suas florestas, promover agricultura sem-fogo e estabelecer uma política de restauração florestal.
“A floresta amazônica no Maranhão foi amplamente convertida em carvão vegetal usado nas indústrias de ferro gusa da região, e as áreas desmatadas deram espaço para o desenvolvimento da agropecuária e as plantações de eucalipto” diz Marcelo Carneiro, professor da Universidade Federal do Maranhão e um dos autores do estudo.
As áreas protegidas (Unidades de Conservação e Terras Indígenas) estão sendo desmatadas ilegalmente. E além disso, mostra o estudo, cerca de 771 km2 de florestas nas propriedades rurais do estado ainda estão disponíveis para o desmatamento legal, uma área equivalente à da cidade de Nova York.
De acordo com a “Rede para a Conservação da Amazônia Maranhense”, que é uma rede multi-institucional de pesquisadores estabelecida em 2015, o Estado do Maranhão precisa urgentemente estabelecer uma política de “Desmatamento Zero” e, em conjunto com as forças federais, combater a violência e os crimes ambientais na região.
O artigo tem como objetivo chamar a atenção para esta região ameaçada da Amazônia brasileira e dar recomendações científicas aos formuladores de políticas, a fim de evitar mais retrocessos. Segundo a rede, o estado do Maranhão precisa dar um gigantesco passo na região amazônica para garantir a proteção da vida humana e dos recursos naturais.
O artigo também destaca a importância das florestas secundárias, que são aquelas em regeneração. No cenário de degradação atual, essas florestas secundárias desempenham um papel essencial tanto na conservação biológica quanto na provisão de serviços ecossistêmicos, como sequestro de carbono e regulação hídrica. Essas florestas cobrem 19,9 mil km2 (27% da área desmatada), e o Estado deve criar normas para protegê-las promovendo assim a restauração florestal. Os pesquisadores consideram a proteção das florestas secundárias e a promoção de práticas agrícolas sem-fogo como as ações prioritárias de restauração a serem apoiadas no Estado.
“A região amazônica do Maranhão protege uma diversidade biológica riquíssima, que inclui muitas espécies endêmicas ameaçadas de extinção” diz a Marlúcia Martins, pesquisadora do Museu Paraense Emilio Goeldi.
Para se ter uma ideia, atualmente apenas um quarto da cobertura florestal original (24,7 mil km²) da Amazônia maranhense permanece em pé, dos quais 70% estão dentro das áreas protegidas, que são as terras indígenas e as unidades de conservação (ver mapa abaixo). A consequência disso é que as populações indígenas são as maiores vítimas do desmatamento da Amazônia Maranhense. Apenas em 2016, nove indígenas foram assassinados no Maranhão e em 2017 houve o ataque contra os índios Gamelas, que deixou 13 feriados em Viana (MA).
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