Flávio Dino é ministro com maior impacto nas redes, aponta levantamento
Nos primeiros cem dias de governo Lula, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), foi quem mais se destacou do primeiro escalão do Executivo nas principais plataformas digitais. A conclusão é de um levantamento feito a pedido do GLOBO pela empresa de análise de redes Bites.
Para chegar ao resultado, foram consideradas as contas oficiais de 33 ministros com perfis no Instagram, Facebook ou Twitter. A Bites elaborou um índice de tração que considera compartilhamentos, postagens e atribui pesos diferentes a depender do tipo de interação e da plataforma. Nessa linha, por exemplo, o Instagram é a rede com maior impacto e os compartilhamentos têm maior importância que as curtidas. O objetivo é medir a capacidade de uma conta em mover as redes.
Nessa metodologia, Dino superou os demais ministros e concentrou quase 18% da tração medida para todos os integrantes do primeiro escalão. O número é quase o dobro da segunda colocada, a ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB).
O titular da Justiça também teve o maior número de interações no período em sua conta oficial. Foram 7,4 milhões em 1.041 postagens. Tebet foi quem teve a maior média de interações por publicação (11.842). Quem mais se dedicou a fazer publicações foi Paulo Pimenta, que comanda a Secom, com 2.961 posts no período.
Dino também foi o ministro que mais cresceu em número de seguidores desde o início da gestão, com 383 mil. A avaliação da Bites é a de que Dino foi um dos protagonistas do debate digital em torno do governo federal em razão do 8 de janeiro, já que ocupa uma pasta relacionada à resposta aos ataques aos Poderes, mas também por embates travados com o bolsonarismo. O episódio mais emblemático foi sua ida, no mês passado, à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados.
Na ocasião, momentos de brigas e troca de acusações entre parlamentares bolsonaristas e membros da base do governo circularam nas redes. A resposta de Dino a André Fernandes (PL-CE), que o acusou de responder a 277 processos na Justiça com base em busca realizada na plataforma JusBrasil, foi um dos destaques. O ministro comparou o método de pesquisa relatado com a crença no terraplanismo.
— Dino tem uma capacidade de responder aos ataques com clareza e propriedade. Esse domínio ajuda a mobilizar a própria esquerda, que entende que ele deu “lacradas” na direita, que ele respondeu de forma implacável. Isso acaba gerando engajamento — explica o diretor-adjunto da Bite, André Eler.
Entre os ministros de Lula, Camilo Santana (PT), da Educação, Paulo Pimenta (PT), da Secom, e Sônia Guajajara, dos Povos Indígenas, completam a lista de destaques. Eles ficaram à frente de Marina Silva (Rede) e Fernando Haddad (PT), ministros mais conhecidos e responsáveis por agendas centrais no governo. No primeiro escalão, apenas os ministros Marco Edson Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional, José Múcio Monteiro, da Defesa, e Mauro Vieira, das Relações Exteriores, não possuem perfis em ao menos uma das três redes analisadas.
Para Eler, da Bites, os resultados dos cem primeiros dias indicam que há dificuldade de coordenação sobre a comunicação de políticas do governo entre os ministros nas plataformas, apesar dos esforços de Pimenta para unificar a estratégia. Chama atenção o desafio de Haddad no tema.
— A pauta de Haddad não é tão cara para a própria base. É um ministro que precisa apresentar um plano de recuperação, de ajuste fiscal, aumento de arrecadação. Tem uma dificuldade de engajar os demais ministros, que querem demonstrar resultados com investimentos. É natural que seja mais difícil ter essa capacidade de articulação para que outros ministros o apoiem. Isso ajudaria o governo, num momento em que o bolsonarismo está coordenado para atacar as medidas dele — analisa o diretor da Bites.
A falta de publicidade para ações do governo é motivo de preocupação para Lula e já levou a ajustes. Como mostrou O GLOBO, uma das linhas daqui para frente será incentivar que os ministros tenham uma comunicação mais intensa, regionalizada e direcionada a questões específicas das suas pastas. (O Globo)
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