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Flávio Dino: Bolsonaro ‘grita e mente’ para esconder o fracasso, a falta de trabalho e de projeto de país

Por Paulo Donizetti de Souza e Vitor Nuzzi | RBA – Eleito pela primeira vez governador do Maranhão em 2014 (seria reeleito quatro anos depois), Flávio Dino previu a chegada de dias sem nenhum tédio para a presidenta Dilma Rousseff nos meses que viriam. O prognóstico se confirmou, com tons de drama, e desde então o país vive uma rotina de caos. Ele compara o Brasil de hoje a uma montanha-russa permanente sem direito a um tranquilo carrossel. “São tempos tempestuosos, cheios de curvas, loopings, próprios de interregnos históricos.”

Eleito senador no último dia 2 pelo PSB, com 2,1 milhões de votos dos maranhenses (61,4%), Flávio Dino, 54 anos, é mais otimista com o futuro próximo. Tem convicção da vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia 30, apesar do processo de violência, propagação de mentiras e gastança do governo Bolsonaro. Para ele, o atual presidente promove gritaria e mentira porque não tem obra nem realizações para mostrar. Assim, foge do debate, porque sabe que a comparação de legados, e de projetos, é amplamente favorável a Lula.

Em entrevista concedida nesta quinta-feira (20), de São Luís, Flávio Dino diz ter certeza de que o resultado eleitoral, apesar das ameaças, será favorável. E que isso deve significar o início de tempos mais calmos, e de outros triunfos. Enquanto ele falava com a RBA, as ruas de Padre Miguel, na zona oeste do Rio de Janeiro, eram tomadas durante ato com a presença de Lula. “Temos a batalha midiática, a linha do programa de televisão, os debates, e temos essa temática das redes sociais. Agora, nada disso substitui o que você chamou de olho no olho.”

“Com a nossa vitória, a gente vai criar condições para unificar e pacificar o Brasil. Espero que nós todos tenhamos um instante de paz com as nossas famílias, até porque também temos uma Copa do Mundo para vencer.”

Confira a entrevista

A 10 dias do segundo turno, como o sr. vê esta reta final, em quadro de aparente equilíbrio, pelo que mostram as pesquisas? E o sr. já viu uma eleição como esta, em uma conjuntura tão conturbada no país?

De fato, uma eleição bastante disputada, com um fenômeno político novo na cena nacional, qual seja uma corrente extremista, de extrema direita, violenta, profundamente enraizada. Isto sem dúvida traz ineditismo a esta eleição brasileira. Porém, considero que o favoritismo do presidente Lula se mantém. É importante sublinhar esse aspecto, uma vez que há uma falsa ideia de que o Bolsonaro vai virar, e que até o dia da eleição vai estar empate… Não concordo com isso, ao contrário, acho é uma margem bem sólida que nós temos, uma convicção muito alta do eleitorado. Evidente que temos que fazer a nossa parte.

Orai e vigiai. Trabalhar muito nestes 10 dias, para que haja presença da população nas ruas, combater as mentiras, fake news, combater a violência, a perseguição religiosa que estão fazendo. Essa gente fascista quer fechar igreja quer coagir líderes religiosos, essa coação de alguns empresários sobre trabalhadores, isso é inaceitável, é crime, inclusive. Temos muitos desafios, mas venceremos.

A Justiça Eleitoral está dando conta de tanta informação que circula, como em 2018? Ontem mesmo, a campanha de Lula ganhou mais de 200 direitos de resposta. Mas todo dia a gente vê algo novo, informação falsa circulando.

De 2018 para cá, a Justiça Eleitoral melhorou muito. Em 2018, era um descontrole total e absoluto, lei da selva mesmo. Agora temos essa assimetria que você menciona. Ou seja, a capacidade de geração de mentiras, agressões, manipulações é muito mais alta do que a capacidade das instâncias de fiscalização. Mas eu vejo um esforço sincero da Justiça Eleitoral. Tivemos uma decisão muito importante do ministro Benedito (Gonçalves, corregedor-geral eleitoral), atendendo a um pedido da nossa coligação, Brasil da Esperança. Vamos mitigando, combatendo.

É importante chegar ao núcleo da indústria da mentira. Que existe, inclusive, na minha avaliação, com uma fortíssima articulação internacional.

Qualquer pessoa que acompanha a cena brasileira sabe que não é esse senhor, Carlos Bolsonaro, Carluxo, que está comandando isso. Não, não é. Na verdade, é uma espécie de Quarta Frota digital. Uma força internacional procurando interferir na soberania brasileira e fraudar a eleição brasileira mediante essa indústria de fake news.

Na verdade, senador, isso já vem desde 2016, não é?

É um pouco uma característica do nosso tempo. Estamos vendo que esses extremismos de direita, com essa violência nas ruas e nas redes, se manifesta em vários países. Tivemos recentemente, por exemplo, o resultado das eleições na Itália e na Suécia. Tivemos anteriormente a vitória do Trump lá atrás e depois os eventos quando ele perdeu do Biden – por estreita margem, lembremos – e o risco de ruptura com a democracia nos Estados Unidos, com a invasão do Capitólio.

Então, infelizmente nos coube estar nessa esquina da história, em que o nazifascismo europeu dos anos 20, 30 do século 20, emerge com muita força agora, 100 anos depois. Vamos lutar bastante para ter a maioria dos votos e lutar depois para que as instituições da democracia consigam prevalecer por sobre aqueles que querem destruir e colocar no lugar apenas a violência, a mentira, o ódio, que é a marca principal do nazismo deste século 21, à semelhança do século 20.

O sr. comentou há pouco sobre algumas ações do bolsonarismo na esfera religiosa, empresarial. Nós vemos que existe ainda uma forte influência do Bolsonaro junto a setores evangélicos e também temos visto muitas empresas, grandes e pequenos empregadores, coagindo funcionários, ou com compra de votos, ou ameaça de demissão e de fechamento de empresa. De todo modo, esse tipo de ação, fora todas as outras ações eleitoreiras do governo, do primeiro turno pra cá, representam ações in loco.

O campo progressista está com forte presença na esfera digital, mas além dessa batalha no pântano, o bolsonarismo parece estar mais no contato físico, nas igrejas, nas comunidades, nas empresas, jogando o jogo sujo. Existe uma preocupação da campanha de Lula, além de manter essa fortaleza digital que conseguiu estabelecer nesta eleição, também de exercer essa pressão nas ruas, por meio do contato direto com as pessoas? Parece que olho no olho as pessoas reagem melhor e se abrem mais para o diálogo.

Creio que essa, inclusive, é a chave principal da vitória. Temos a batalha midiática, a linha do programa de televisão, os debates, e temos essa temática das redes sociais. Agora, nada disso substitui o que você chamou de olho no olho. Eu falo pela experiência que temos aqui no Maranhão, em que estamos estimulado, apoiando a iniciativa de muitos eventos, alguns são chamados de carnaLula, outros de Lulaços, passeatas, caminhadas. Vamos fazer agora no domingo, inclusive, um encontro Maranhão-Piauí, Nordeste unido, na Ponte da Amizade sobre o rio Parnaíba, com o senador eleito Wellington (Dias), o governador eleitor do Piauí (Raul Fonteles).

Essa presença na rua, nas comunidades, é muito importante. Sobretudo nesse instante de desespero do campo bolsonarista, em que até bater em padre estão. Batendo literalmente, agredindo, gritando na santa missa, tentando impedir a comunhão. Coisas nunca antes vistas no Brasil. Isso sim que é violação à liberdade religiosa. Então, são criminosos. Essa coação é crime. Pena de até quatro anos, está no Código Eleitoral, por exemplo, essas cenas que você menciona, de empregadores dizendo que as pessoas vão perder o emprego. Isto é crime, porque viola a soberania popular, está no Código Eleitoral.

É preciso denunciar, que as instituições ajam. Vamos fazer nossa parte, uma campanha séria, focar no debate econômico, que é o principal: inflação de alimentos que aí está, mostrar a importância da classe média, mostrar como a nossa proposta, do presidente Lula, de isenção do imposto de renda para até cinco salários mínimos é importante para que as pessoas recuperem um pouco a capacidade de consumo. Com esse enfrentamento nas redes, presença na rua e propostas a gente garante a vitória eleitoral.

Uma possível vitória apertada pode fazer com que o atual presidente tente “melar o jogo” de alguma maneira?

Bolsonaro é um arruaceiro. Ele é chegado a essas confusões, ele e aqueles mais próximos. O que eu acho positivo é que não creio que haja apoio institucional no Brasil, nem das Forças Armadas, e tampouco apoio internacional a esse desvario. Que eles vão fazer arruaça, vão, no dia 30, porque vão perder. Vão tentar esses desatinos, olhos esbugalhados, gritar, invadir igreja, mas isso não terá apoio social. Não tem terreno fértil para esse tipo de desatino. Cabe à Justiça Eleitoral garantir a autoridade da lei, prender essa gente, porque é crime. Nós vamos vencer, e o resultado eleitoral vai prevalecer. Essa é a mensagem principal.

Existe um legado de seis anos (do impeachment de 2016 para cá) e existe também uma plataforma de projetos para o futuro. As duas coisas não estão tendo grande destaque para que as pessoas possam comparar. A tática de “mentirolândia” parte de uma estratégia justamente para impedir que as pessoas comparem as diferenças, de legado e de projetos?

Há uma cena do debate realizado (no último domingo, dia 16) pela TV Band, e o pool de emissoras, que confirma essa tua hipótese. Lembremos que a primeira pergunta do presidente Lula ao Bolsonaro foi sobre construção de universidades e institutos federais. E o Bolsonaro fugiu, começou logo a agredir, mentir. Exatamente porque a resposta é zero, Bolsonaro não fez nenhum. Em outro momento do debate surgiu o tema das penitenciárias federais. Quem fez penitenciária federal no Brasil pela primeira vez foi o Lula. Então, quando você vai debater substantivamente os temas, quem realizou mais, e comparar com o legado do Bolsonaro, que é praticamente zero, aí se evidencia qual é o melhor caminho para o Brasil.

Daí exatamente esse jogo de cena, essa gritaria, esse desvario, para tentar esconder que o Bolsonaro não tem obra. Resta a ele, num debate, disputar a paternidade da transposição do rio São Francisco. O que é algo quase que caricatural, porque ele fez 3%, 4% da obra e diz que é dele. Com isso, se confirma, de fato, que uma das características do processo político atual, potencializado pela internet, é essa busca da hegemonia das mentiras. Discutir banheiro unissex, botar meninos e meninas no mesmo banheiro… Coisas desvairadas, mentiras absurdas, para exatamente não deixar debater o desemprego, a inflação de alimentos, que é um governo sem obra. Qual foi a obra que Bolsonaro fez? Zero. Não tem. Pode ter uma ou outra

Eu lembro que ele fez um ponte de madeira lá no Amazonas, pode ter uma coisinha, mas que ele começou e terminou? Nada. Um grande hospital?  Nenhum. Alguma universidade, instituto federal, alguma grande rodovia, ferrovia? Nada. Então, por isso mesmo que eles tentam colocar banheiro unissex na frente e por isso estão com essa tese criminosa de que há uma guerra religiosa no Brasil. Existe, promovida por eles, perseguição contra cristãos, católicos, evangélicos que não aceitam o bezerro de ouro. É Bíblia. Bezerra de ouro, falso ídolo.

Bolsonaro é isso. Querem substituir Jesus Cristo por um bezerro de ouro, e aí quem não quer se curvar – e portanto mantém a fidelidade à mensagem cristã – é perseguido. É isso que esse pessoal quer, e a gente não pode permitir que haja esse nível de violência contra a liberdade das pessoas, inclusive contra a liberdade religiosa, que é o que o bolsonarismo está fazendo.

O governo está gastando bastante nesta reta final de campanha. Também foi um governo marcado pelo chamado orçamento secreto, cuja paternidade o presidente renega. Qual foi o impacto desse gasto desenfreado na campanha eleitoral e qual ser a consequência para quem pegar o governo no ano que vem?

O orçamento secreto é o maior escândalo com dinheiro federal da história brasileira. Cinquenta bilhões de reais sendo drenados pra falcatruas, obras superfaturadas, inexistentes, notas fiscais frias. Isso que aí está, a Polícia Federal, CGU toda hora mostram. Precisamos acabar com isso. Teve um peso grande na reeleição para o Congresso Nacional, mas acho o peso dessas medidas oportunistas na eleição presidencial menor. Por exemplo, muita gente dizia: o Auxílio Brasil vai mudar o quadro no Nordeste. Não mudou. Entrou o Auxílio Brasil e a gente continua ganhando com mais que o dobro de votos, e vamos ampliar a diferença no segundo turno. Então, não é isso que vai decidir o resultado da eleição.

Agora, chama a atenção o nível de irresponsabilidade dessa gente, porque adotaram uma série de medidas inconstitucionais, ilegais, fraudes, emendas constitucionais criando uma emergência. E rasgaram todos os cânones que supostamente eles professavam, a exemplo do teto de gastos. Destruíram o teto de gastos, não existe mais.

A vantagem que eu vislumbro é a seguinte: como a gente vai ganhar a eleição, quando chegar em janeiro esses supostos arautos do suposto mercado não vão poder também em 10 dias exigir que o governo cumpra teto de gastos, traga a inflação para o centro da meta, porque não estão exigindo isso do Bolsonaro.

Bolsonaro está aí, inflação no centro da meta? Não, já ultrapassou a margem superior da meta. Eu lembro que, nos nossos governos, quando a inflação passava do centro da meta, nem tinha chegado no limite máximo, já era uma confusão. Agora, Bolsonaro estourou inflação, estourou com tudo, para tentar ganhar a eleição na marra. Mostra que até nisso essa gente é farisaica, é hipócrita. Porque até nos seus postulados liberais ou neoliberais eles são fakes. Porque na hora da eleição vamos que vamos, rasga tudo, tratora tudo, não interessa nenhum limite normativamente existente, o que vale é a força, é a gritaria. Esse pessoal não tem coerência nem nisso, nos seus supostos ideários econômicos.

Parece que tem setores da sociedade que têm corruptos de estimação e setores do mercado com austeridade de estimação… Mas falando em corrupção, conversando nas ruas com as pessoas mais humildes a gente vê que as pessoas não sabem direito o que é mensalão, o que é petrolão, mas sabem que deve ser uma coisa muito grave. E elas também não sabem o que é rachadinha. Mas não é rachadão, é uma “corrupçãozinha”. A campanha do presidente Lula não estaria sendo pouco efetiva para esclarecer a gravidade da corrupção existente tanto no entorno do bolsonarismo como no interior do governo? Isso não tem afetado as pesquisas?

A gente viu no último debate o quanto o combate à corrupção feito pela Lava Jato era, na verdade, manipulado, fictício. O juiz da Operação Lava Jato mostrou mais de uma vez que nunca foi juiz, que tinha um objetivo político, por alguma razão, sabe Deus qual, ou de recrutamento ideológico, ou de servilismo mesmo, ou extremismo de direita. Sempre teve como alvo o presidente Lula.

E é curioso que essas pessoas que você menciona dizem assim: não voto no Lula porque ele é ladrão. Quem foi que disse que ele é ladrão? O Supremo, que é o VAR dos juízes, disse que o gol que o Moro fez foi de mão. Eu diria até com as duas mãos. Ele pegou a bola e jogou dentro do gol. Não pode, aí (o STF) anulou o gol. Mas a torcida bolsonarista continua comemorando. Não! O gol foi anulado, não existe condenação.

E quem confirmou que o Supremo estava certo? O Moro, quando aceitou ser ministro do Bolsonaro. Depois foi enxotado do governo e aparece como assessor de palco num debate do próprio Bolsonaro, que ele disse que era corrupto. Então, fica claro que não era juiz, era militante político. Infelizmente, isso ficou sendo martelado durante anos e agora mesmo há um arrependimento daqueles que canonizaram, sacralizaram a Operação Lava Jato.

Porque quando você cria um monstrinho, tira da garrafa, botar de volta na garrafa é difícil. Esse monstrinho do fascismo está aí, assombrando todo mundo. Porque se o Bolsonaro se elegesse, e não vai se eleger, qual seria a atitude dele? Perseguir todo mundo. Grupos de mídia, esses da mídia comercial. Fechar na prática o Supremo, aniquilar a independência do Supremo, fazer impeachment de ministro que julgue contra ele.

Então, hoje essa frente ampla que se reuniu em torno de Lula é o reconhecimento, graças a Deus a tempo, de que nós somos os defensores da democracia. E por isso mesmo temos que inclusive mostrar que o combate à corrupção deve ser feito todos os dias, venha de onde vier. E não pode ter essa seletividade que você mencionou, que começa da semântica. Mensalão, petrolão… rachadinha. Assim como a temática do orçamento secreto.

O termo orçamento secreto às vezes não permite que as pessoas identifiquem que é secreto por uma razão: é secreto para esconder a roubalheira de dinheiro público, esconder falcatrua, esconder corrupção. Envolvendo dezenas de bilhões de reais. Vamos fazer esse debate na reta final, e falar do futuro, do salário mínimo, de aposentadoria, da isenção do imposto de renda, mostrar como vamos melhorar a vida do povo. Como fizemos e vamos fazer de novo.

Sobre a sua eleição ao Senado, além de nomes mais progressistas, também foram eleitos outros do campo conservador. Assim, o sr. terá vizinhos muito barulhentos no Senado, inclusive o Moro. Como vê essa nova correlação de forças?

Graças a deus os meus vizinhos na geografia são bons, porque o Pará elegeu o Beto Faro, o Piauí elegeu o Wellington, o Ceará elegeu o Camilo (Santana). Enfim, são pessoas que têm uma autêntica devoção à causa popular. No Senado, pessoas eleitas em outros lugares – respeito, claro, a opinião de cada cidadão e cada cidadã – não têm a mesma prática. Mas isso é um desafio inerente à vida. Eu já trabalhei nos três poderes do Estado, fui juiz 12 anos, fui deputado federal, governei um estado difícil num momento difícil, pandemia, com crise e perseguição política, e por isso sempre convivi com as diferenças. Então, vamos conviver. Agora, com muita firmeza.

Muita firmeza para combater práticas até demoníacas dessa gente. O diabo é o pai da mentira. Então, a gente vê senadores eleitos, senadoras eleitas se dedicando hoje a rodar o Brasil para contar mentira. No Senado, na minha presença, não vão contar. Porque eu vou mostrar que é mentira, iluminar o debate com a verdade, de modo sempre respeitoso, sem perder a ternura jamais, porém com firmeza, para deixar o debate público para Sua Excelência a população, poder reconhecer, discernir, separar o joio do trigo, como está recomendando nas sagradas escrituras.

De que trata o projeto que o sr. pretende apresentar, logo que assumir, sobre responsabilidade social?

Nós teremos esse debate sobre questão fiscal, e temos que colocar junto a questão social. Porque é um binômio indissociável. Vou te dar um exemplo: trabalho precarizado. É um drama social e é uma bomba fiscal. Porque as pessoas estão trabalhando sem contribuir com a Previdência, porque não têm vínculo, não têm proteção, quando estiverem na idade avançada, idosos, ou tiverem eventualmente algum infortúnio, um acidente, vão ter direito à proteção social do Estado por intermédio da assistência social, aquele benefício chamado Loas. Ou seja, é um regime não contributivo.

Então, para aqueles que dizem se preocupar com a questão fiscal, só é possível cuidar das contas públicas de verdade cuidando da questão social. O que ameaça o equilíbrio previdenciário no Brasil? Desemprego. Quando tem pleno emprego, as contas do INSS ficam saneadas porque tem mais gente trabalhando e contribuindo, para sustentar os aposentados. Então, é exatamente essa visão que eu vou apresentar.

Precisamos substituir obviamente esse teto de gastos fake, porque o Paulo Guedes e o Bolsonaro acabaram com ele. Mas se nós precisamos de responsabilidade fiscal, tem que colocar metas sociais junto. Ou por dentro da própria LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal) ou por outra lei, colocando a exigência de cumprimento de metas, pelos três níveis de governo, para que as contas sejam aprovadas. O bom gestor é aquele que nada faz? Então, ele cumpriu o teto, é um bom gestor? Mas não construiu nenhuma escola, nenhum hospital, as pessoa morrendo no meio da rua. Isso é responsabilidade?

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