Feudo de Sarney durante anos, setor elétrico revive pesadelo do apagão
Sem conseguir emplacar um afilhado politico no ministério das Minas e Energia, que não está mais sob seu controle, o senador José Sarney (PMDB-AP) deixa o comando do setor elétrico do país, após ficar durante um bom tempo dando as cartas neste segmento estratégico. O apagão, ocorrido esta semana em diversos estados, é visto por especialistas na área, como um dos reflexos nefastos do excesso de apadrinhamento político no comando deste setor, o qual teve em Sarney o seu maior expoente.
No período em que deu as cartas no setor elétrico, Sarney foi responsável pelo apadrinhamento não somente de ministros, mas também de integrantes do segundo e terceiro escalão, como por exemplo Astrogildo Quental. Graças às bênçãos do ex-presidente da República ocupou o posto de Diretor Financeiro da Eletronorte.
Ex-comandante da Secretaria Estadual Infraestrutura nos governo de Edson Lobão (1991-1994) e Roseana Sarney(1995-2002), Astrogildo Quental é colega de faculdade do empresário Fernando Sarney, um dos filhos do senador. Embora nunca tenha exercido mandato eletivo, ele é visto como um homem de forte atuação nos bastidores do poder.
Além de Astrogildo, Quental, outros amigos de faculdade de Fernando Sarney, integrantes de grupo denominado em reportagem da Revista Época de a “Turma da Poli”, referência ao período em que foram colegas de na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, ocuparam postos de relevância não apenas no setor elétrico, mas também em outros ministérios.
Um exemplo do prestigio do “grupo da poli” é o caso de Ulysses Assad indicado em 2003 pelo senador José Sarney para ocupar um cargo na Valec, empresa vinculada ao Ministério dos Transportes.
Apesar de contemplar afilhados políticos com postos em outras áreas do governo federal, a área preferida por Sarney sempre foi o setor elétrico. O ciclo de influência do senador nesta área incluía o apadrinhamento de integrantes do segundo e terceiro escalão e era fechado com maestria no andar de cima, com a da presença de apadrinhados no comando do Ministério das Minas e Energias.
Silas Rondeau, ex- diretor da Cemar na década de 1980, chegou a postos importantes no setor elétrico na década seguinte, durante o governo FHC. No governo Lula, obteve ainda mais prestígio dentro deste segmento e pelas mãos do senador José Sarney alcançou o posto de Ministro das Minas e Energia. Em 2007, após ser investigado sob suspeita de receber propinas, Rondeau pediu demissão do ministério.
Com a saída de Silas Rondeau, a pasta das Minas e Energia, a qual são subordinadas gigantes estatais como a Petrobrás e a Eletronorte, seguiu sob o comando do senador José Sarney e quem assumiu o cargo foi o ex-governador Edson Lobão fiel escudeiro de Sarney durante várias décadas.
Desgastado por conta da Operação Lava Jato, que investiga um esquema milionário de corrupção na Petrobrás, Lobão não seguiu no cargo, após a reeleição de Dilma Roussef. A pasta continua sob o comando do PMDB, mas sem a presença de um apadrinhado de senador José Sarney.
Após perder o controle de um nicho importante do poder no governo federal e sem possuir mais mandato, dificilmente, o ex-presidente da República vai conseguir retomar o controle da área, pela qual sempre foi muito interessado, apesar de não ter muita afinidade com questões técnicas relacionadas ao setor.
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