Fernando Sarney tenta contornar desastre da CBF na Rússia
Enquanto jogadores e comissão técnica da seleção brasileira trabalham para transformar o minucioso planejamento em prática na Copa do Mundo, e Tite exige excelência em todas as etapas do trabalho na concentração, a participação política da CBF na Rússia é um desastre. Do voto errado na escolha para a sede de 2026 ao copo quebrado na cabeça de um torcedor, as trapalhadas se acumulam e aumentam o abismo entre a eficiência mostrada em campo, nos últimos dois anos, e o caos administrativo.
Embora nos bastidores quem já tome decisões – como a tentativa de renovar com Tite, por exemplo – seja Rogério Caboclo, chefe de delegação e eleito para presidir a CBF a partir de abril de 2019, ainda é Antonio Carlos Nunes, o Coronel Nunes, quem tem representatividade oficial.
Ele herdou a presidência por ser o vice mais velho quando Marco Polo Del Nero precisou se afastar, em razão da investigação da Fifa que terminou por bani-lo do futebol.
Logo no primeiro dia em Sochi, base de treinamentos para a Copa, o Coronel Nunes fez de sua aparição algo constrangedor. Num papo informal com os jornalistas, chamou o Mar Negro de “Mar Vermelho”, disse que o Brasil precisava quebrar o tabu de nunca ter sido campeão num país europeu, ignorando que a Copa de 1958 foi na Suécia, e se disse impressionado com a “estrutura dos russos”, sendo que a CBF, que ele preside, é quem preparou o local para receber a Seleção.
O pior ainda estava por vir.
O voto
A Conmebol combinou votar na candidatura de Estados Unidos, México e Canadá para sediar a Copa de 2026, mas Nunes descumpriu o acordo. Achou que o voto era secreto e escolheu o Marrocos, desencadeando uma crise diplomática. Dirigentes dos outros países querem sua expulsão do Conselho da Conmebol, cargo que lhe rende salário de US$ 20 mil mensais – neste sábado, o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, afirmou em entrevista ao Grupo Globo que não quer mais ver Coronel Nunes participando de reuniões e tomando decisões importantes.
O episódio deixou perplexo o presidente da Fifa, Gianni Infantino. O homem que comanda o futebol mundial não consegue entender como uma das confederações mais importantes está nas mãos de alguém incapaz de cumprir um acordo público.
Caboclo e o vice-presidente Fernando Sarney (filho do ex-senador José Sarney) tentam, desde então, reconstruir a relação da CBF com os vizinhos sul-americanos e os donos da Copa do Mundo de 2026, sobretudo os norte-americanos. Uma das etapas do plano é manter Nunes o mais longe possível de eventos, diálogos, reuniões, qualquer coisa que tenha representatividade oficial.
O copo
Na véspera da vitória da Seleção sobre a Costa Rica, do bom desempenho da equipe no segundo tempo, de mais uma ótima atuação de Coutinho, do choro de Neymar, das substituições decisivas e do tombo de Tite, o Brasil foi notícia em São Petersburgo por causa da agressão do assessor da presidência Gilberto Barbosa, que, num restaurante, quebrou um copo de vidro na cabeça de um torcedor que hostilizou o Coronel Nunes.
A CBF mandou Barbosa de volta ao Brasil. Ele viajou à Rússia como uma espécie de substituto de Alexandre da Silveira, que durante anos carregou pastas e atendeu telefonemas para Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero. Silveira deixou de viajar depois de ter sido citado várias vezes durante o julgamento do “Caso Fifa”, em Nova York. Ao contrário de seus ex-chefes, ele não é acusado de nada – mas foi identificado como alguém sempre presente nas reuniões em que eram acertados os pagamentos de propina.
A carta
O Brasil formalizou uma reclamação à Fifa pelo fato de o árbitro mexicano César Ramos não ter consultado o VAR em dois lances do empate de 1 a 1 com a Suíça: um empurrão de Zuber em Miranda antes do gol adversário, e um pênalti não marcado sobre Gabriel Jesus. A CBF falava, na carta, em “erros claríssimos”. Tite admitiu, na última sexta-feira, que não teria marcado pênalti.
Na Fifa, houve quem fizesse piada pelo documento ser assinado por Caboclo, na condição de chefe da delegação, e não por Nunes. Houve ainda um erro de digitação no nome da CBF: Confederação Brasileira de “Fitebol”. E enquanto os dirigentes brasileiros, inclusive o coordenador de seleções Edu Gaspar, enalteciam o fato de terem “se posicionado”, as ações seguintes indicaram que a carta não surtiu efeito algum.
1. A Fifa se negou a mostrar as gravações das conversas entre o árbitro e os auxiliares do VAR.
2. O mexicano Ramos foi escalado novamente, para apitar Polônia x Colômbia.
3. O VAR foi, enfim, utilizado num jogo do Brasil, mas para anular um pênalti marcado em cima de Neymar.
(Globo Esporte)
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