Especialista maranhense explica como as pesquisas influenciam na decisão
Você já teve o intuito de votar em um determinado candidato e, ao ver o cenário desenhado por uma pesquisa de intenção de votos, ou mudou de opção ou ficou desanimado a votar no candidato antes escolhido? Essas são, geralmente, as reações mais comuns, em boa parte da população, quando vê os resultados de uma pesquisa de votos. Esse tipo de pesquisa é importante no processo eleitoral porque pode influenciar a escolha dos eleitores. Reguladas em 1997 pela Lei 9.504, as pesquisas eleitorais só podem ser realizadas mediante registro no TSE – Tribunal Superior Eleitoral. Divulgar os resultados das pesquisas é possível de forma livre até a véspera do dia da votação.
Segundo o Mestre em Ciências Sociais, Doutorando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional e professor da Faculdade Estácio São Luís, Gabriel Nava, as pesquisas têm o papel de ajudar o eleitor a escolher, dentre os que têm mais chances de se eleger, aquele cujas ideias são mais próximas às suas. “Além disso, as pesquisas também ajudam os partidos a selecionar pessoas que tenham mais aceitação pela população”, lembra o professor.
Nava alerta, porém, para o poder de influência das pesquisas nos resultados das eleições. Segundo ele, há o risco de esses estudos condicionarem o comportamento do eleitor e estimular o chamado “voto útil”. “As pesquisas tentam prever um resultado e mensurar a preferência dos eleitores. Assim, podem influenciar no comportamento do eleitor menos ligado a ideologias”, afirma.
Credibilidade
Ao longo dos últimos anos e das últimas eleições, as pesquisas eleitorais começaram a passar por questionamentos, não somente no Brasil, diante de divergências, muitas vezes, bastante substanciais, entre as previsões e os resultados reais das votações. A explicação para essa diferença tão grande pode estar na velocidade da circulação de informações na era da internet e das redes sociais, segundo o pesquisador Guilbert Macedo, professor do curso de Publicidade e Propaganda na Estácio São Luís.
Macedo explica que as pesquisas são apenas um “retrato” da opinião do eleitor em um determinado momento. “Mas as pessoas mudam de opinião cada vez mais depressa e essa mudança está nas redes sociais, está nas trocas de mensagens em celulares, está na disseminação de novas informações na internet. E isso os modelos atuais de pesquisa não conseguem captar.
Liberdade de informação
Apesar das muitas ressalvas, o historiador especialista em ciências sociais Gabriel Nava é favorável à publicação dos resultados das pesquisas. “O acesso à informação não pode ser proibido em uma democracia; sou favorável à liberdade de informação, mas é imprescindível que essa ferramenta seja usada pela sociedade com transparência e regras claras”, recomenda.
Como se faz
Muitas vezes, diferentes institutos de pesquisa divulgam, simultaneamente, os resultados das apurações com a intenção de votos dos eleitores em determinadas regiões do Brasil. E os resultados, não raro, são conflitantes. Nesse momento, quem apoia o candidato melhor colocado em determinada pesquisa acusa o outro instituto de errar na pesquisa, e vice-versa.
No ano de 2014, em uma das primeiras divulgações de resultados de pesquisas eleitorais, três institutos diferentes pesquisaram o panorama nacional nas eleições presidenciais com quantidades diferentes de eleitores ouvidos. O instituto Vox Populi ouviu cerca de 2 mil pessoas; o Ibope ouviu 3 mil eleitores; e o DataFolha envolveu 10,5 mil entrevistados na apuração.
Os números podem parecer pequenos, diante do universo eleitoral brasileiro de mais de 140 milhões de eleitores, mas os institutos de pesquisa garantem que são suficientes para representar os eleitores do país e retratar, levando-se em conta as margens de erros e os intervalos de confiança, as intenções de voto dos brasileiros.
Segundo os institutos, o segredo está na escolha dessa amostra, que não ocorre de modo aleatório. O que acontece é um trabalho estatístico que busca dividir o eleitorado seguindo critérios como sexo, idade, escolaridade, ocupação e espaço geográfico. Os responsáveis pelas apurações partem do pressuposto de que eleitores com características semelhantes tendem a ter a mesma orientação política.
“O ideal é que a amostra seja sempre bem calculada. O cálculo permite que os indivíduos sejam capazes de constituir uma espécie de ‘mini-sociedade’, uma miniatura do conjunto da sociedade. Assim, a tendência é que o comportamento dessas pessoas se reproduza para todo o conjunto”, explica o professor Gabriel Nava, que também leciona a disciplina de Metodologia Científica, em que os alunos precisam aprender estratégias de pesquisa.
A orientação dos especialistas é, para além das pesquisas, os eleitores busquem informações sobre todos os candidatos e votem naqueles que mais se comprometem com o bem social. “Observe se os candidatos pensam como você, se têm engajamento, se realmente se importam com o social. Jamais vote por um favor ou de olho em algum benefício próprio, isso só piora a situação da sociedade brasileira”, alertam os estudiosos.
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