Em segundo vídeo, Eduardo Bolsonaro fala em ‘não se dobrar’ ao STF
O Globo – Três dias depois de vir à tona o vídeo que traz a polêmica declaração de que com um soldado e um cabo seria possível fechar o Supremo Tribunal Federal ( STF ), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL-RJ ), fez outras críticas à Corte, durante audiência pública na Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, sobre o voto impresso. O vídeo com as novas críticas foi feito em 12 julho deste ano.
Nas imagens, Eduardo Bolsonaro fez referência à proposta de aumentar o número de ministros do Supremo — que, à época, era defendida por seu pai — e declarou que, caso o próximo presidente venha a tomar medidas consideradas inconstitucionais pelo STF, “a gente não vai se dobrar”.
— Eu acredito que caso o próximo presidente venha a tomar medidas e aprovar projetos que sejam contrários ao gosto desse Supremo, eles vão declarar inconstitucional. E, aqui, a gente não vai se dobrar a eles não. Eu quero ver alguém reclamar quando estiver no momento de ruptura mais doloroso do que colocar dez ministros a mais na suprema corte. Se este momento chegar, quero ver quem vai para rua fazer manifestação pelo STF, quem vai pra rua dizer “ministro X, volte, estamos com saudades” — disse Eduardo Bolsonaro.
O vídeo do pronunciamento foi publicado no canal do Youtube do próprio deputado com o título “Eduardo Bolsonaro fala em audiência sobre voto impresso e detona STF”. A audiência em questão debatia a decisão do Supremo que derrubou a exigência de voto impresso para as eleições, proposta aprovada pelo Congresso com base em uma emenda de Jair Bolsonaro. O filho do presidenciável disse, na ocasião, “apoiar” a ideia do pai de aumentar o número de ministros do Supremo de 11 para 21. A ampliação do número de ministros na Corte foi adotada pela ditadura militar em 1965. O candidato do PSL à Presidência disse já ter recuado da ideia.
Eduardo Bolsonaro afirmou durante o discurso na comissão que uma outra possibilidade seria mudar o nome do Supremo, sem esclarecer o que estaria por trás da medida. Ironizou ainda o poder dos magistrados da corte.
— A gente brinca aqui que juiz acha que tem o rei na barriga e que o ministro da Suprema Corte tem certeza que tem o rei na barriga. Tem que mudar isso daí — afirmou o filho do presidenciável.
As críticas não permeiam apenas discursos. Em um artigo publicado no dia 19 de junho deste ano pelo jornal goiano “Hora Extra”, intitulado “Pensar fora da caixinha para derrubar a ditadura do STF”, Eduardo Bolsonaro ataca decisões da Corte e afirma ser necessária uma “contrarrevolução” contra a principal instituição do Judiciário.
“Ambos os ocupantes das cadeiras mencionadas no Executivo e Legislativo podem ser trocados nas eleições deste ano. Fiquemos atentos, pois a subserviência à ditadura do STF pode estar próxima, é hora da contrarrevolução!”, escreveu o filho do presidenciável na conclusão do artigo.
Eduardo Bolsonaro já pediu desculpas pela declaração sobre fechar a Suprema Corte, dada durante um curso, em Cascavel (PR), para interessados em prestar concursos públicos. Afirmou que a frase do vídeo foi em resposta a uma pergunta “esdrúxula” sobre a possibilidade do Judiciário barrar a candidatura do pai. Eduardo repetiu ainda a frase do presidenciável de que quem defende o fechamento do Supremo “precisa de um psiquiatra”.
Jair Bolsonaro também pediu desculpas pela declaração do filho, em entrevista ao Jornal Nacional.
— Isso ocorreu há quatro meses, eu não tinha conhecimento. Ele diz que respondeu a uma pergunta sem pé nem cabeça, até houve a palavra brincadeira no meio daquilo. Conversei com ele, ele reconheceu o seu erro, pediu desculpas. Eu também, em nome dele, peço desculpas ao Poder Judiciário. Não foi a intenção dele atacar quem quer que seja. E eu espero que, como todos nós podemos errar, que os nossos irmãos do Poder Judiciário deem por encerrada essa questão. — disse, pedindo que a Justiça dê por “encerrada a questão”.
Bolsonaro também enviou uma carta ao decano do tribunal, ministro Celso de Mello, para tentar desfazer o mal-estar. No documento, ele afirma que o Supremo “é o guardião da Constituição e todos temos de prestigiar a Corte”. A carta do presidenciável tenta contornar o clima criado depois que o filho dele afirmou que, “para fechar o Supremo”, bastaria “um soldado em um cabo”. A fala, gravada em julho, foi classificada por Mello de “inconsequente e golpista”.
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