Em novo bate-boca, Lula diz que Covid pode ter afetado cérebro de Ciro, que fala em sequela moral de petista
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) respondeu nesta quinta-feira (14) à fala do também presidenciável Ciro Gomes (PDT) de que o petista teria conspirado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
A fala de Ciro na quarta-feira (13) desencadeou um bate-boca com Dilma no Twitter, apesar de o pedetista ter sugerido uma trégua com o PT em nome do impeachment de Jair Bolsonaro.
Membros de PT e PDT minimizaram o efeito da nova briga sobre a formação de uma frente ampla, mas o episódio afastou ainda mais as alas da esquerda. Nesta quinta, Lula rebateu Ciro, que respondeu logo em seguida.
“Eu não vou falar do Ciro. O que ele fez ontem [quarta-feora] foi tão banal, foi tão grosseiro, que às vezes eu fico pensando, como Jesus Cristo na cruz dizia: ‘Pai, perdoai os ignorantes, eles não sabem o que fazem’”, disse Lula à rádio Grande FM de Dourados (MS).
“Eu às vezes fico pensando, não sei se o Ciro teve Covid ou não, mas me disseram que quem tem Covid tem problemas de sequelas, alguns têm problema no cérebro, de esquecimento, eu não sei. Mas não é possível que um homem que pleiteia a Presidência da República possa falar as baixarias que ele falou ontem”, continuou o ex-presidente.
“Eu só lamento profundamente que seja assim. Eu só não sei o que ele está querendo, mas quem planta vento colhe tempestade”, completou o petista.
Ciro teve Covid em outubro de 2020. Segundo divulgou na época, após apresentar sintomas leves de gripe, o pedetista fez o teste e teve resultado positivo.
O pedetista enviou à Folha uma nota de resposta a Lula, afirmando não ter tido sequelas.
“Já tive [Covid] em outubro do ano passado. Estou bem e não fiquei com sequelas. Mas trágico mesmo seria ter uma sequela moral, como a do notório Lula, que com este comentário infame acaba de agredir milhões de mortos e sobreviventes da Covid”, afirmou Ciro.
Na nota, o pedetista volta a lembrar as reuniões de Lula com nomes do MDB, algo que para ele evidencia a conspiração de Lula pelo impeachment de Dilma.
“Agora, sem zuada, gritaria ou fuga pseudo-engraçada, [Lula] pode explicar ao povo brasileiro o acordo com Renan [Calheiros. MDB], Eunicio [Oliveira, MDB], Jucá [MDB], Geddel [MDB], Eduardo Cunha [MDB] e Sergio Cabral [sem partido] para assaltar de novo o Brasil?”, segue Ciro.
Também nesta quinta, Ciro divulgou um vídeo em que comenta a discussão com Dilma e volta a criticar o PT, mais especificamente “a corrupção do governo Lula e a incompetência do governo Dilma”.
Segundo Ciro, após o que chamou de “cutucada”, o PT revelou medo, arrogância e hipocrisia.
“Eu disse de passagem, numa entrevista, que vendo os fatos de trás para diante, tenho hoje a convicção de que Lula foi um dos principais responsáveis pela queda de Dilma. Disse também que os principais responsáveis por essa pavorosa tragédia que nos ameaça hoje, esse governo criminoso de Bolsonaro, foram a corrupção e a incompetência do PT”, disse o pedetista.
“Os cães raivosos silenciaram quanto a esta última denúncia, que eles, aliás, nunca conseguem responder. E tentaram fazer com que o mundo desabasse sobre mim”, continuou.
Segundo Ciro, Lula desestabilizou Dilma de forma consciente e inconsciente, ao lotear “o governo com os personagens mais corruptos da história do país” e definir que Michel Temer (MDB) seria vice-presidente.
“Lula fez isso muito especialmente quando, na ânsia de impedir a reeleição de Dilma, transformou seu famoso instituto num antro de intriga e conspiração. […] Ele ajudou a queda de sua ex-protegida por egoísmo, imprudência e uma sequência indesculpável de movimentos erráticos. O egocentrismo político sempre foi e continua sendo a característica mais marcante de Lula”, afirma Ciro no vídeo.
Ele diz ainda que Dilma o agrediu duramente e recebeu o troco, mas voltou atrás ao dizer que não se arrepende de ter lutado contra o impeachment. “Nunca me arrependerei de defender a democracia.”
Ciro também afirma que, se eleito em 2022, Lula pode reeditar o petrolão e o mensalão. “Com toda cegueira, oportunismo e soberba, ele já começa a fechar acordos com esses mesmos personagens sombrios do passado”, diz.
Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo nesta quarta (13), Ciro fez duras críticas ao PT e responsabilizou Lula e Dilma pela eleição de Bolsonaro —inaugurando um novo capítulo na história recente de afastamento entre Lula e o pedetista.
“Hoje eu estou seguro que o Lula conspirou pelo impeachment da Dilma”, disse Ciro. “Eu atuei contra o impeachment e quem fez o golpe foi o Senado Federal. Quem presidiu o Senado? Renan Calheiros. Quem liderou o MDB nessa investida? O Eunício Oliveira. Com quem o Lula está hoje?”, questionou, mencionando interlocutores do petista.
As falas vêm após a proposta de Ciro de “uma trégua de Natal”. Depois de ter sido vaiado e alvo de pedaços de pau na manifestação pelo impeachment no dia 2, o pedetista declarou à imprensa que era preciso acalmar os ânimos das militâncias e promover entendimento em torno do impeachment de Bolsonaro.
Dilma respondeu no Twitter. “Ciro Gomes está tentando de todas as formas reagir à sua baixa aprovação popular. Mais uma vez mente de maneira descarada, mergulhando no fundo do poço. O problema, para ele, é que usa este método há muito tempo e continua há quase uma década com apenas um dígito nas pesquisas”, disse a ex-presidente.
“Na vida nunca menti. Mas errei algumas vezes. Uma delas quando lutei contra o impeachment de uma das pessoas mais incompetentes, inapetentes e presunçosas que já passaram pela presidência. Claro, que estou falando de você, Dilma”, respondeu Ciro.
O pedetista tuitou ainda que Lula foi um dos maiores responsáveis pela desestabilização de Dilma e que os dois “se merecem”.
Dilma voltou a tuitar, afirmando que Ciro tem “enorme presunção” e que sua visão é “misógina”.
“Para além disso, Ciro sistematicamente distorce os fatos. E, nisso, não se difere em nada de Bolsonaro. Ambos adoram quando os alvos de suas agressões reagem. Precisam disso para obter likes e espaço na mídia. […] Lamento ter, em algum momento, dado a Ciro Gomes a minha amizade”, publicou a ex-presidente. Folha de SP
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