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Editorial do Estadão: PT se agarra ao mito

Acossado por todos os lados e com seu grande líder na mira de investigações sobre corrupção, o PT está lançando na programação partidária gratuita da mídia eletrônica uma campanha de forte apelo emocional, com inserções de 30 segundos, focada na defesa de Lula, que é apresentado como alvo de “perseguição” por parte dos “preconceituosos de sempre” que “não aceitam que o Lula continue morando no coração do nosso povo”. Essa campanha é a primeira providência prática de atuação pública da direção petista a partir da avaliação de que as investigações sobre corrupção estão tendo um efeito devastador sobre a imagem do partido e de sua principal liderança, colocando em xeque não apenas o desempenho eleitoral dos petistas no pleito municipal deste ano, mas também na eleição presidencial de 2018.

A preocupação é procedente, pois o PT é a mais corrupta de todas as legendas políticas, na opinião de mais de 7 em cada 10 brasileiros, que também acham que nem o partido nem Lula têm mais moral para falar de ética. Apenas 15% dos brasileiros continuam acreditando na honestidade do PT, contra 27% em 2005, no auge do escândalo do mensalão. Esse é o quadro revelado pela pesquisa do Instituto Ipsos divulgada na segunda-feira.

Na avaliação do presidente do instituto, Cliff Young, a pesquisa demonstra que o PT deixou de ser considerado o partido dos pobres para se transformar na legenda dos corruptos: 71% dos entrevistados consideram o partido de Lula o mais corrupto entre todos. De tal modo que a preferência popular pelo PT, que era de 28% em 2002, ano em que Lula foi eleito presidente pela primeira vez, caiu para inexpressivos 6%, depois de o partido ter permanecido 13 anos no poder.

A consulta revela que os brasileiros estão decepcionados com a política em geral e com os partidos em particular: 82% dos entrevistados consideram que a Lava Jato está demonstrando que todas as legendas políticas são corruptas. Esse sentimento parece indicar que os brasileiros estão se dando conta de que, mais do que os partidos e os políticos, o grande problema a impedir que o país possa contar com uma gestão pública eficiente é o desvio de conduta favorecido e estimulado por um sistema político essencialmente patrimonialista, voltado para interesses espúrios de pessoas e grupos. É um sistema que ganha força nas sombras e que, nos últimos 13 anos, foi abertamente transformado em método e doutrina de governo pelo partido que se apresenta como dos trabalhadores, a pretexto de viabilizar a “governabilidade” em benefício da redenção dos fracos e oprimidos. E que tem beneficiado principalmente os espertalhões que já não conseguem escapar do longo braço da Justiça com a facilidade de antes.

Se, como a Lava Jato está demonstrando e os brasileiros começando a também perceber, a corrupção tornou-se sistêmica, entranhada em todos os desvãos da administração pública, em todos os níveis, como imaginar que possa haver autoridade de primeiro escalão que ignore essa triste realidade, mesmo que dela não se beneficie?

Só mesmo o caradurismo de militantes profissionais do lulopetismo é capaz de sustentar, na atual conjuntura, o argumento de que Lula é a “alma mais honesta” do Brasil e, nessa condição, uma vítima dos “preconceituosos” – qualificação dada a todos aqueles que não são petistas. Pois são esses bate-estacas bem pagos que, no momento em que o PT é avaliado como o partido mais corrupto e o maior responsável pela inédita crise política, econômica e moral que o país enfrenta, em vez de usar o horário de que dispõem no rádio e na televisão para propor soluções para a crise, resolvem fazer teatrinho com a imagem mítica de Lula. Querem elegê-lo em 2018 para não perder a rica boquinha em que se aconchegaram.

Por medida de prudência, a tigrada, que de boba não tem nada, resolveu poupar os telespectadores das falações tanto de Lula como de Dilma. Não querem marcar essa campanha publicitária com um longo e ensurdecedor panelaço.

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