É hora de gritar mais alto: Fora, Sarney!
João de Deus Castro*
Em 2010, após a vitória de Roseana Sarney no Maranhão, logo no primeiro turno, em artigo intitulado Vitória de Roseana Sarney no primeiro turno! O que fazer?, dizíamos: “se ‘tudo que nasce traz consigo o germe da própria destruição’, o resultado da vitória eleitoral de Roseana demonstra com precisão que o germe se espalha. Uma vitória com uma diferença de 0,08% assinala claramente uma polarização política e social no estado. E, o que é melhor, uma polarização que substitui a liderança antiga (Jackson) por uma liderança renovada (Flávio Dino) no campo da oposição, de esquerda e de visão certamente mais ampla e mais consequente em relação aos rumos do Brasil”.
O germe se espalhou e neste início de 2014 o quadro é precisamente o oposto, conforme indicam as pesquisas eleitorais, que dão a Flávio Dino (PCdoB) no mínimo 50% das intenções de voto, o que lhe daria vitória no primeiro turno se as eleições fossem hoje. Seu principal oponente, o candidato da oligarquia, Luís Fernando (PMDB), teria, segundo algumas análises, potencial para chegar a 20%, posição ainda assim disputada com a terceira colocada, Eliziane Gama (PPS).
Não é difícil imaginar o alvoroço nas hostes do clã Sarney. Nem é preciso, já que suas ações desastradas falam por si só e dizem de seu desespero. Em meio a uma crise exposta na segurança pública, com rebeliões em presídios, decapitações, ônibus queimados… no final de janeiro, mais um preso é morto, espancado por companheiros de cela, na Unidade Prisional de Ressocialização (UPR) de Balsas, vindo a falecer em Imperatriz. Um outro é enforcado na Central de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ) do Anil, em São Luís, na quarta-feira, 26 de fevereiro. E um terceiro, identificado como Pedro Elias Martins Viegas, 31, é encontrado morto neste primeiro de março com marcas de esganadura no pescoço, em Pedrinhas. Ao todo são seis mortos só este ano em situações similares. Enquanto isso, a governadora, depois de dizer na presença do Ministro da Justiça que a causa de tudo isso é porque “o Maranhão está mais rico” (!!!), segue licitando lagostas, entregando, sob protestos, hospitais de fachada – sem os profissionais de saúde. Hospitais que praticamente fecham logo após a inauguração (caso dos municípios de Zé Doca, Maracaçumé e Governador Newton Bello). E ainda, através de seu Secretário-candidato, anunciando futuras estradas no interior, uma promessa arquetípica da política tradicional, um binômio de que o povo certamente se cansou: asfalto-progresso.
Após premiar o vice petista, Washington Oliveira, para o Tribunal de Contas do Estado, o grupo no poder se prepara pra eleger indiretamente, na Assembleia Legislativa, o nome que substituirá Roseana, que deve renunciar para disputar a vaga no Senado. Uma primeira surpresa é que o presidente do parlamento, Arnaldo Mello, é tido por muitos como favorito em detrimento de Luís Fernando, o Secretário-candidato. Se vier a acontecer tem forte potencial gerador de crise junto à oligarquia. O próprio Sarney veio a São Luís, reunir o grupo e contornar o problema. Uma segunda surpresa é que o que era certo, a eleição de Roseana senadora, é hoje muito mais que duvidoso, já que o vice-prefeito da capital, Roberto Rocha (PSB), divide, com viés de alta, o eleitorado, segundo pesquisas. Uma em particular, o Instituto DataM traz Rocha com 38% e Roseana com 21%. Um exagero, talvez, mas o suficiente fazer a governadora assumir que ainda não decidiu sobre a candidatura e adiar sua saída do Palácio dos Leões.
É dentro desse quadro que não pode faltar à oligarquia um elemento essencial em que a mesma tentará a todo custo cravar suas unhas, o tempo de TV proporcionado pelo PT em 2010, e sem o qual hoje em dia ela não é nada eleitoralmente. A direção nacional do partido da presidenta Dilma acaba de dar mais um passo nesse sentido, homologando Raimundo Monteiro presidente da legenda no Estado, depois de um PED (Processo de Eleições Diretas) conturbado, em que dentre outras coisas, o então candidato divulgou resultado de apuração paralela à imprensa à guisa de oficial, proclamando-se vitorioso no primeiro turno e boicotando o segundo, em que o partido compareceu amplamente, sufragando Henrique Silva presidente, com apoio da Resistência Petista (que deu sustentação à candidatura Augusto Lobato no primeiro turno). Pra isso a Executiva Nacional teve que atribuir validade a dezenas de municípios onde o PED fora realizado de forma irregular segundo suas próprias instâncias de realização estadual e nacional haviam resolvido. Monteiro, que agora age como interventor, e seu grupo – que ainda mantém representantes no governo do Estado, embora ninguém dê por eles – defendem a aliança com o PMDB, apesar de toda a catástrofe que é o governo Roseana. Três caminhos disputarão o Encontro de Tática que definirá o campo de alianças. Além da aliança com o PMDB, há ainda as possibilidades de candidatura própria, defendida por Henrique, e o apoio a Flávio Dino, em que insistirá a Resistência Petista.
A julgar pelos sinais ambíguos que vem da direção nacional do PT, não há mesmo no campo majoritário unanimidade em torno da tática de continuar com um aliado como Sarney, pesando cada dia mais nos ombros do governo. Mas também não arriscaria nenhuma ruptura abrupta, tal o peso da chantagem do influente senador. A se confirmar o caminho da submissão representado pela manutenção da aliança com o PMDB, os que anseiam por uma guinada à esquerda para o PT do Maranhão terão que apostar na vitória de Flávio Dino em outubro.
As manifestações de rua no Maranhão indicam o caminho. Desde junho de 2013, e retomadas recentemente, tem alvo claro e palavra de ordem que pode ser entendida sem esforço: Fora Sarney!
* Servidor Público do MPF/SP, ex-Sec. de Juventude do PT/Ma e ex-Sec. Geral do DCE-UFMA (2000-2001).
O conteúdo deste blog é livre e seus editores não têm ressalvas na reprodução do conteúdo em outros canais, desde que dados os devidos créditos.